Piloto diz que agiu em morte de líderes do PCC no Ceará após ser torturado

A tortura teria sido ordenada por Cabelo Duro, um dos autores da execução de líderes do PCC, como um aviso para o piloto continuar prestando serviços à facção

 

Envolvimento de Felipe Ramos de Morais, 33, na morte de líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) teria ocorrido um mês após suposta tortura praticada contra ele por integrantes da facção. Segundo reportagem do UOL, ele teria sido torturado por membros do PCC, um mês antes de transportar para a morte Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca.

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A informação sobre a tortura, que teria ocorrido em 13 de janeiro de 2018, em uma favela no Guarujá, na Baixada Santista, foi relatada em petição de habeas corpus feita pela mãe do piloto de helicóptero, a advogada Mariza Almeida Ramos Morais. Lá, consta ainda fotos mostrando lesões e hematomas no corpo de Felipe.

De acordo com a reportagem, o documento se trata de um pedido de liminar protocolado no Superior Tribunal de Justiça (STJ), no dia 4 deste mês, solicitando alvará de soltura em favor do piloto. O piloto Felipe Morais e outras nove pessoas foram denunciados à Justiça do Ceará pelos assassinatos de Gegê do Mangue e Paca.

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Felipe foi preso em 14 de maio de 2018, e estava com julgamento sobre o duplo homicídio marcado para a última segunda-feira, 24, por videoconferência. A Justiça do Ceará, no entanto, resolveu adiar para outra data porque advogados de outros réus não poderiam participar, por serem considerados do grupo de risco para Covid-19.

As vítimas Gegê e Paca foram executadas em 15 de fevereiro de 2018, em uma clareira próxima a uma tribo indígena, em Aquiraz. De acordo com as investigações, Felipe teria sido o responsável por pilotar o helicóptero até o local ermo, fingir uma pane na aeronave, pousá-la e, portanto, criar as condições para a execução.

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Tortura seria aviso para piloto continuar prestando serviços à facção

Após ser torturado, Felipe foi internado no Hospital Ana Costa, no Guarujá. A Polícia Militar foi avisada sobre o incidente, e o agente da PM Rodrigo Guesse do Santos, 36, foi ao local e conversou com o piloto. O diálogo entre os dois foi relatado também para o delegado Mário Olinto Junqueira de Oliveira Filho, na Delegacia de Polícia da cidade. Conforme a reportagem, no boletim de ocorrência número 359/18, registrado como roubo, não é citado o caso de tortura.

No documento consta apenas que o piloto caminhava pela rua Júlio Prestes de Albuquerque quando três homens o abordaram e anunciaram o assalto. Felipe teve o celular roubado e foi agredido com socos, pontapés, e espancado com pedaço de ferro. A defesa do piloto afirma que ele não narrou a tortura no momento por medo.

Na petição da advogada Mariza Morais, há o relato de que 12 dias após a tortura Felipe foi procurado por Cabelo Duro, que o ameaçou informando que a tortura era apenas um aviso: se o piloto deixasse de servir ao PCC, sua família seria caçada. No pedido de habeas corpus, a mãe de Felipe acrescentou que o filho ficou com medo e por isso obedeceu a ordem para prestar outro serviço, no dia 14 de fevereiro de 2018, em Fortaleza.

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Duplo homicídio

O assassinato dos traficantes “Gegê do Mangue” e “Paca” teria sido motivado por desvio de dinheiro da facção. A dupla foi alvo de uma emboscada, com uso de helicóptero, e morta a tiros em terreno de uma reserva indígena de Aquiraz, no dia 15 de fevereiro de 2018. Um bilhete encontrado dias depois da execução, na Penitenciária Maurício Henrique de Guimarães (P2), em Presidente Venceslau, em São Paulo, trouxe revelações importantes para a elucidação do caso.

O texto escrito por Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, relatava que Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como “Fuminho”, tinha ordenado a morte dos antigos comparsas, que "estavam roubando" - referindo-se a um suposto desvio de dinheiro do PCC. Uma semana depois do duplo homicídio, Cabelo Duro - acusado como um dos autores do crime - foi executado em frente a um hotel em São Paulo.

Fuminho foi preso em 13 de abril de 2020, em Moçambique, e foi extraditado para o Brasil em 20 de abril, para cumprir sentença na Penitenciária Federal de Catanduva, no Paraná. 

Com informações dos repórteres Angélica Feitosa, Alan Magno e Cláudio Ribeiro

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