Pesquisadores da UFC querem enviar peles de tilápia para tratar vítimas da explosão em Beirute

Até 2021, a equipe do projeto Pele de Tilápia deve produzir 2 mil unidades de peles, que irão compor um estoque do material, a ser utilizado em situações de tragédias no Brasil e no mundo

14:02 | Ago. 06, 2020

Por: Ismia Kariny
Pele de tilápia (peixe) envelopada depois do processo de limpeza (foto: Mariana Parente, em 12/07/2017)

Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) oferecem assistência técnica e todo o estoque de 40 mil cm² de pele de tilápias para o tratamento das vítimas da explosão em Beirute, capital do Líbano. Na quarta-feira, 5, o embaixador libanês Joseph Sayah já havia manifestado a necessidade de insumos hospitalares e alimentos para cuidar da população libanesa. A explosão deixou cerca de cinco mil feridos, mais de 100 mortos, e desabrigou mais de 260 mil pessoas.

O Projeto Pele de Tilápia, do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC, tem a coordenação de Edmar Maciel e Odorico de Moraes. Após o acidente no país do Oriente Médio, a equipe decidiu realizar uma campanha, para sensibilizar autoridades brasileiras a mediar a doação de 400 peles para a capital libanesa, de forma a tratar as vítimas da explosão.

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“Nós somos apenas técnicos; produzimos as peles e estamos disponibilizando 400 peles que equivalem a 40 mil cm² para ajudar essas vítimas de queimaduras em Beirute, isso não tem ônus”, destaca. De acordo com o pesquisador, as 400 peles podem beneficiar cerca de 50 a 100 pacientes no tratamento de feridas e queimaduras, “a depender da extensão e da profundidade do tipo de lesão”, acrescenta Edmar, que é também médico, cirurgião plástico, e presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ)

Entretanto, para que o produto seja enviado a Beirute, é necessário que ambos os países entrem em contato para resolver os entraves legais e burocráticos, para a entrada e o uso do material no Líbano. Segundo Edmar, as autoridades pertinentes estão cuidando da burocracia, e o núcleo de pesquisa se encarrega apenas da produção, preparação e esterilização das peles. “Estão indo profissionais aqui do Brasil para ajudá-los, e nós teríamos que orientar tanto os profissionais que vão, como eles [médicos libaneses], quanto a utilização [das peles], mas nada que seja impossível de usar”, esclarece.

2 mil unidades de peles de tilápia devem compor estoque emergencial do NPDM

Até 2021, a equipe do projeto Pele de Tilápia deve produzir 2 mil unidades de peles, que irão compor um estoque do material, a ser utilizado em situações de tragédias como a que ocorreu na última terça-feira, 4, em Beirute, conforme destaca o coordenador Edmar Marciel. “Tomamos a decisão como grupo, de produzir e preparar essas 2 mil unidades de pele, que vamos deixar prontas para qualquer tragédia no Brasil; ou em qualquer continente que queira receber essas peles, para que a gente possa ter um estoque grande para atender tragédias dessa magnitude”, detalha.

O País, segundo Edmar, nunca teve pele animal para uso em feridas e queimaduras registradas na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e, apesar dos quatro bancos de pele no Brasil estarem bem montados, a disponibilidade do produto ainda é escassa. “A grande vantagem da pele de tilápia é que ela é usada nas queimaduras como curativo temporário, evitando a contaminação do meio externo, e a perda de líquidos, que desidrata o paciente”, comenta.

Outra vantagem do produto, é que ele diminui os custos do tratamento para os pacientes com curativos e pomadas, pois ela só precisa ser trocada entre 10 a 12 dias. Por ser rica em colágeno a pele de tilápia se torna resistente e elástica, o que ajuda na cicatrização de queimaduras. Ela também diminui a dor e o risco de infecção do paciente.

“Temos empresas em contato conosco e aquela que for escolhida vai registrar o produto na Anvisa, para que essa empresa possa construir a fábrica, produzir e comercializar a pele de tilápia. Estamos em vias de finalizar isso”, acrescenta Edmar Maciel. A pele de tilápia já foi utilizada para tratar úlceras causadas por varizes, e também na reconstrução vaginal após cirurgia de redesignação sexual.

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