Site reúne lista de profissionais negros cearenses da área da psicologia

O projeto pretende facilitar o contato entre pacientes e psicólogos negros

Ajudar quem procura atendimento e unificar uma rede de  psicoterapeutas negros no Ceará são algumas das missões do site Psicoterapretas/os. Já no ar, a iniciativa pretende catalogar profissionais da área da psicologia e facilitar o contrato entre pacientes na busca de um espaço de identificação e acolhimento pensado para pessoas negras.

O espaço nasceu da necessidade, explica o organizador do site, o psicólogo Maia Neto. Segundo ele, era recorrente ser questionado sobre indicações de outros profissionais negros da área, mas que sempre existiam outros que ele ou não conhecia ou não lembrava quando perguntado. " Eu sempre tinha três ou quatro pessoas de confiança, mas então, outros colegas também três ou quatro profissionais para indicar. Eu percebi que tinha uma rede, mas que a gente ainda não estava se vendo", explica ele. Foi daí que cresceu a ideia de se ter um registro publico especifico, com contatos e abordagens, mas também que significasse construir uma rede de contatos profissionais, para visibilizar o trabalho.

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"Por causa de questões do racismo estrutural, se eu te perguntasse que imagem de psicológos você tem, provavelmente não seria uma pessoa negra. Essa imagem também impede que as pessoas procurem nosso trabalho", afirma. Segundo ele, é importante que os profissionais se conheçam e se percebam diante da pluralidade de pessoas e abordagens.

Outro ponto que o psicólogo levanta é com relação aos pacientes e ao ambiente da prática da psicologia. Segundo ele, é facilitar o acesso para quem tem o temor de que aconteçam situações de repressão ou não acolhimento, mas também uma possível repetição de alguma violência racial no ambiente clínico. Afastar o sentimento de não se sentir entendido ou não se sentir à vontade. "É muito comum, pelo que vejo, uma pessoa negra relatar um fato: 'sofri uma situação em que me senti atacada no ambiente exterior, levei para clínica e minha terapeuta, só me desamparou'. Duas pessoas negras, não é que tenha certeza que o racismo aconteceu, mas existe um espaço de reconhecimento, você se vê diante de outra pessoa, principalmente, em um ambiente de vulnerabilidade".

Já existem 13 psicólogos cadastrados. Eles atuam em diferentes abordagens - análise do comportamento, psicanálise, psicologia analítica, gestalt terapia - para públicos diferentes -crianças, adultos, idosos, LGBTs, negros. É possível acompanhar as especificações no site.

Para participar, é preciso ser um profissional autodeclarado preto ou pardo e ser cearense ou atuante no Ceará. É obrigatório ter o título de graduação em Psicologia e apresentar o registro no Conselho Regional de Psicologia (CRP). Além disso, escrever nome, contato, abordagem psicológica e o público com quem trabalha. A inscrição é feita no site do projeto por meio de um fomulário, que estará aberto com algumas semanas.

Diante desse período de pandemia, Neto deixa um alerta: mais pessoas adoecidas psicologicamente. As novas dinâmicas e o medo têm afetado ainda mais pessoas negras. Segundo ele, a pandemia tem agravado questões sociais e de segurança sanitária, além de aumentar vulnerabilidades econômicas e geográficas, que já existiam.

"Quando esses fatores se encontram - sociais, sanitários e vulnerabilidades - o adoecimento mental é muito maior e mais violento. Porque ele vai impactar em tudo, é a maneira como a gente fala, como a gente se afeta e se relaciona", explica ele. O psicólogo compartilha o que sente e o que outros profissionais, também da academia, tem analisado de mais pessoas preocupadas com a volta da "normalidade" e negociação de estar em ambientes sociais. " Muito provavelmente, vamos acompanhar uma crise de saúde mental da gente como sociedade", completa.

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