Polícia investiga guru de comunidade em Fortaleza após denúncias de crimes sexuais; três pessoas já foram ouvidas
O MPCE também instaurou um procedimento administrativo para acompanhamento das denúncias. Caso ganhou repercussão após denúncias serem expostas nas redes sociais
13:36 | Jul. 20, 2020
A Polícia Civil do Estado do Ceará está apurando denúncias sobre supostos crimes sexuais praticados por integrantes da direção da Comunidade Afago, em Fortaleza. Diversos relatos foram publicados nas redes sociais, originários de voluntários que faziam parte da comunidade. Caso também é acompanhado pelo Ministério Público Estadual (MPCE), que pediu abertura de inquérito. Três pessoas já prestaram depoimento.
O perfil @comunidadeafagoaverdade reúne 15 publicações feitas desde o dia 8 de maio. No primeiro relato publicado, há 10 semanas, uma pessoa conta que fez "rituais de 'magia' que envolviam cabelo, unhas e até queimaduras sérias na nuca com pedra quente, aquecida em vela acesa". A pessoa que escreveu o relato diz que ainda tem cicatrizes das queimaduras feitas há dois anos.
Outra pessoa disse que procurou a Comunidade Afago porque se sentia sozinha. "Entreguei tudo pra eles. Tempo, atenção. Eu me prejudiquei, quase fui demitido porque me mandavam atividades diárias", conta. "Isso acabou com meu psicológico, estou até hoje abalado". A identidade das vítimas é preservada nas publicações.
Outra pessoa escreveu que a confiança no "mestre" foi aumentando conforme a vivência na comunidade. "Os abusos começaram com o tantra, quando me convidou para fazer essa terapia com ele, argumentando que serviria para curar minha sexualidade e expandir minha percepção", diz o relato. "A massagem tântrica envolve toque nos genitais, o que foi incômodo. Deixei pela confiança que tinha".
Conforme reportagem exibida no Fantástico, na Globo, nesse domingo, 19, seguidores do mestre começaram a deixar a seita no começo deste ano. Com a saída, veio a quebra do silêncio, característica importante do código de conduta da comunidade.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que o caso é investigado pelo 26º Distrito Policial. A pasta declarou que o suspeito é um "homem apontado como um dos líderes da comunidade religiosa em Fortaleza".
"Até o momento, três pessoas prestaram depoimento na unidade policial e outras pessoas devem ser ouvidas nos próximos dias. A PCCE ressalta a necessidade daqueles que se sentirem vítimas comparecerem à delegacia para formalizar o procedimento, no intuito de subsidiar as investigações já em curso", diz a nota.
O MPCE também instaurou um procedimento administrativo para acompanhamento das denúncias. O caso está sendo acompanhado pelo promotor Régio Vasconcelos, titular da 144ª Promotoria de Justiça de Fortaleza.
Conforme análise preliminar do MPCE, "os fatos relatados, se confirmados, podem ensejar a prática, em tese, dos delitos de lesão corporal, estupro, charlatanismo e curandeirismo, previstos, respectivamente, nos artigos 129, 213, 283 e 284 do Código Penal Brasileiro, cuja eventual responsabilidade criminal não está associada à idade ou aquiescência de possíveis vítimas".
A reportagem tentou contato com a Comunidade Afago pelo e-mail disponível no perfil do Instagram do grupo e aguarda retorno. No mesmo perfil, uma publicação datada em 12 de maio - poucos dias após as denúncias virem à tona - declara que a liderança da comunidade estava "profundamente chocada e abalada com a situação", assumindo que "muita coisa está em oculto".