Deslocamentos por bicicleta em Fortaleza cresceram 70% desde 2016, aponta pesquisa

A estatística foi obtida em dados preliminares da Pesquisa Origem-Destino da Prefeitura de Fortaleza. No total, mais de 100 mil pessoas foram ouvidas

14:38 | Jul. 15, 2020

Por: Leonardo Maia
Em 2012, Fortaleza contava com 68 quilômetros de infraestrutura cicloviária. (foto: Alex Gomes/ Especial para O POVO)

O número de deslocamentos feitos de bicicleta em Fortaleza cresceu 70% em relação ao que foi registrado em 2016, de acordo com dados preliminares da Pesquisa Origem-Destino, coletados em 2019 pela Prefeitura em 23 mil domicílios da Capital. No total, 5,1% de todos os deslocamentos da Cidade são realizados pelo modal. Anteriormente, esse número era de 3%, conforme estimativa feita pelo Plano Fortaleza 2040.

A ampliação da infraestrutura cicloviária pode ter sido um dos principais motivos para esse crescimento, de acordo com Luiz Alberto Sabóia, secretário-executivo da Secretária de Conservação e Serviços Públicos (SCSP). Desde 2012, quando Fortaleza contava com 68 quilômetros de vias exclusivas para ciclistas, o ritmo de construção da malha cicloviária aumentou.

Para Anthenor Pinheiro, 28, a Cidade passou a ser mais convidativa para os ciclistas. Ele conta que começou a trafegar por Fortaleza com o modal há cinco anos e percebe mudanças significativas em relação à criação de ciclofaixas e estações do Bicicletar. Em distâncias de até cinco quilômetros, ele consegue ter um tempo melhor na bicicleta quando comparada a outros modais.

Pinheiro lamenta, no entanto, que o trânsito ainda se apresenta de forma agressiva para os ciclistas. Isso acontece tanto pelo comportamento de veículos automotores, como em relação às atitudes de parte dos próprios ciclistas, que, segundo ele, desobedecem às regras definidas para o modal. “Mas está melhorando, creio que ao longo do tempo a convivência no trânsito vai progredir cada vez mais”, projeta.

Hoje, a Capital conta com quase 300 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas. A ambição da gestão pública é que esse número possa alcançar a marca de 450 quilômetros, a partir de financiamento de instituições financeiras internacionais, como o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). No momento, o poder público está na fase de negociações.

As estações de bicicleta compartilhada também correspondem a um investimento da gestão municipal no modal. Até o fim deste ano, Fortaleza deve chegar a 210 estações, com prioridade para bairros que ainda não foram contemplados pelo sistema, como a Barra do Ceará, o Pirambu e o Álvaro Weyne, todos na zona oeste da Cidade. Essa região de Fortaleza tem cerca de 7% dos deslocamentos feitos por bicicleta.

Rede cicloviária ainda precisa de ligações importantes, diz integrante da Ciclovida

Apesar da ampliação da malha cicloviária, algumas ligações importantes são fundamentais para que o deslocamento por bicicleta funcione bem, de acordo com Felipe Alves, engenheiro e integrante da Associação dos Ciclistas Urbanos de Fortaleza (Ciclovida). Ele pondera que em alguns pontos da Cidade não é possível continuar se deslocando por meio de ciclofaixas porque a conexão entre uma via e outra não existe.

Ele ainda considerou que alguns projetos da Prefeitura não levam em conta o Plano Diretor Cicloviário Integrado (PCDI), que estabelece a bicicleta como um “elemento de relevância” para idealização de obras viárias. “Os engenheiros e projetistas dizem que não é possível (construir ciclofaixas). Se é possível passar carro, como não é possível passar bicicleta?”, questiona Felipe.

Victor Macêdo, engenheiro da Prefeitura, está à frente da Pesquisa Origem-Destino e argumentou que os resultados obtidos ajudarão no aperfeiçoamento de futuros projetos. Ele explica que a defasagem de mais de 20 anos da última pesquisa, realizada em 1996, é prejudicial para entender o comportamento da Cidade em relação aos deslocamentos.

Macêdo disse, por exemplo, que a partir dos dados e da conversas com diferentes atores da sociedade, será possível ter ideia mais precisa de para onde a Cidade precisa investir mais em infraestrutura cicloviária, assim como outros modais, como o transporte público.

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Ele citou o exemplo da região da avenida Washington Soares. O local está crescendo populacionalmente e essa pode ser uma boa oportunidade para o poder público se antecipar e garantir que as pessoas tenham acesso a uma boa estrutura cicloviária, ainda carente no local. No fim dos estudos da pesquisa, o grupo apresentará um plano com sugestões para os transportes da Cidade. Isso deve acontecer até o fim deste ano.

“(As sugestões) vão depender muito de como a gente vai querer conduzir o plano, a gente pode levar o plano para onde tem muito ciclistas, assim como para essas áreas que tenham um potencial de crescimento”, defende Macêdo. “Para quem planeja a cidade, dá para ter proposições muito mais assertivas. Quem faz o projeto também fica mais embasado, a ideia nasce mais rica.”

Dois terços do deslocamento em Fortaleza são feitos por modais sustentáveis

Dois em cada três deslocamentos são feitos a pé, de bicicleta ou por meio de transporte público na Capital. Esse número considera um universo de cinco milhões de viagem por dia, segundo o estudo da Prefeitura. No total, mais de 100 mil pessoas de 23 mil domicílios da Cidade foram ouvidas.

Além da infraestrutura cicloviária, os dados também devem embasar a construção de novos corredores exclusivos de ônibus, assim como auxiliar na integração entre as linhas de metrô e ônibus. A decisão, que se arrasta desde 2014, foi prometida no início do ano pela Prefeitura para acontecer ainda em 2020.

A pesquisa deverá trazer também atualizações para planos de mobilidade urbana criados pela Prefeitura nos últimos anos. O Plano Diretor Cicloviário Integrado (PCDI) e o Plano de Caminhabilidade (PMCFor) são dois exemplos que devem passar por melhorias a partir dos resultados obtidos.