Prefeitura busca financiamento para instalar mais 150 km de ciclofaixas em Fortaleza
A expansão do Bicicletar e a licitação de nova versão do Bicicleta Integrada também devem contribuir para incentivo do uso do modalDe forma a estimular meios de transporte que promovam isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus, a Prefeitura de Fortaleza busca financiamento para construção de 150 quilômetros de malha cicloviária. Além disso, a gestão municipal deu novo prazo para o término da expansão do Bicicletar. Até o fim deste ano, a Capital deverá contar com 210 estações do programa. Antes da crise sanitárias global, as novas estações estavam previstas para serem entregues em junho.
O secretário-executivo da Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), Luiz Alberto Sabóia, afirmou que a pasta está empenhada em negociações com instituições financeiras internacionais, como o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), para garantir recursos para expansão da infraestrutura cicloviária na Capital.
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O gestor defendeu que a criação de novas ciclofaixas é a forma mais eficaz para se incentivar o uso da bicicleta. “Quando você cria infraestrutura, as pessoas respondem. Quando se cria grandes avenidas, você está convidando as pessoas para ocuparem essa via, o mesmo acontece com a implantação de ciclofaixas. A coisa mais importante para a bicicleta é criar a infraestrutura”, enfatizou.
Com o acréscimo, Fortaleza chegaria a quase 450 quilômetros de malha cicloviária. O valor ficaria cerca de 70 quilômetros atrás do que foi estabelecido como meta para 2030 no Plano Diretor Cicloviário Integrado (PDCI), documento que guia as políticas públicas para a bicicleta. Até o final de 2012, Fortaleza contava com cerca de 68 km de rede cicloviária.
Conectividade da rede
Felipe Alves, engenheiro e integrante da Associação dos Ciclistas Urbanos de Fortaleza (Ciclovida), defendeu que além do número de quilômetros que serão expandidos, a Prefeitura se deveria se preocupar em criar conexões importantes para a conectividade da rede cicloviária. “Você consegue percorrer certo caminho, mas chega em um ponto e há uma interrupção da rede”, reclamou.
O engenheiro acredita ainda que Fortaleza, assim como todas as capitais brasileiras, perdeu uma oportunidade para fazer testes na mobilidade urbana. Ele argumenta que o menor movimento em grandes avenidas permitiria que se encontrassem soluções para lugares que têm mais dificuldade com a intensidade do fluxo de veículos.
“Vimos na Europa e até na América Latina cidades que aproveitaram momentos de ruas vazias para reservar um espaço maior para quem caminha ou para quem pedala. A expansão (do número de ciclofaixas) é boa, mas a Prefeitura poderia ter aproveitado para pegar alguma avenida com tráfego intenso para testar alguma coisa. Criar uma ciclofaixa temporária, descobrir soluções para vias que têm dificuldades normalmente”, sugeriu.
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A instalação de ciclofaixas temporárias está no radar da gestão municipal, de acordo com Sabóia, mas a prioridade é a criação de estruturas definitivas. Ele citou que a experiência de Bogotá, capital da Colômbia, colaborou para que as estruturas não fossem adotadas na Capital. O país latino enfrentou dificuldades como o furto de cones que sinalizavam a via, assim como a riscos recorrentes à segurança do ciclista.
Por meio do programa Cidades Saudáveis, plataforma online criada pela Vital Strategies com o apoio da Bloomberg Philanthropies e da Organização Mundial da Saúde (OMS), várias cidades da América Latina puderam trocar experiências durante a pandemia e definir como atuariam em relação à segurança viária.
Efeitos da pandemia
A crise na saúde trouxe efeitos interessantes para a dinâmica de como as pessoas passaram a se deslocar em Fortaleza, segundo o secretário Luiz Alberto Sabóia. Durante o período de isolamento mais rígido, a circulação de ciclistas na Capital reduziu 38%. A queda foi menor que a do transporte público e de veículos individuais, que caíram 80% e 60% respectivamente. As análises foram feitas, entre outras fontes, com base em câmeras da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC).
“Intuitivamente, nota-se que neste momento o risco de contaminação em um deslocamento é menor que em outros. Isso aconteceu aqui e no mundo todo. Estar ao ar livre é muito menos arriscado que em um ambiente fechado”, ressaltou.
O secretário argumentou ainda que Fortaleza é uma cidade propícia para se pedalar, tanto pela geografia como pelo clima. “Se fala muito do sol, mas a maior parte do deslocamento ocorre no começo da manhã ou no fim da tarde”, disse.
Dante Rosado, coordenador da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, em Fortaleza, afirmou estar preocupado a migração de pessoas para outros modais, especialmente as que deixam o transporte público. Ele explicou que uma possibilidade recorrente é que a moto seja a primeira opção de troca, devido ao custo reduzido em relação ao carro. Ele explica que isso pode contribuir para o incremento no número de acidentes de trânsito.
Conforme O POVO noticiou, embora a Capital tenha registrado diminuição em 40% na quantidade de mortes em acidentes entre 20 de março e 21 de maio, o número de atendimentos ainda preocupa. No total, 419 pessoas estiveram envolvidas em acidentes com motocicletas em abril deste ano.
O especialista da Bloomberg argumenta, no entanto, que o investimento do poder público em políticas de incentivo à bicicleta pode fazer com que as pessoas passem a adotar esse modal. Rosado ressalta ainda a importância de que o transporte público não seja abandonado pela Prefeitura. Ainda que seja um meio de deslocamento potencialmente mais exposto à contaminação, ele seguirá constituindo um pilar para mobilidade de boa parte da população, pondera o especialista.
Bicicleta Integrada
Outra novidade em relação a bicicletas deve surgir ainda neste ano para os fortalezenses, de acordo com o secretário. Ele disse que a Prefeitura deve divulgar licitação em agosto para a implementação de um novo modelo do Bicicleta Integrada. Atualmente, os usuários podem fazer a retirada das bicicletas, por um período de até 14 horas, nos terminais de ônibus da Cidade.
Na nova versão, no entanto, a ideia da gestão municipal é que as estações sejam espalhadas em outros pontos da Capital e não apenas nos terminais. O serviço seguirá de forma gratuita para os usuários do Bilhete Único, assim como o período de 14 horas em que os usuários podem ficar com a bicicleta não será alterado. As primeiras estações devem ser instaladas até outubro deste ano.
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