Prefeitura busca financiamento para instalar mais 150 km de ciclofaixas em Fortaleza
A expansão do Bicicletar e a licitação de nova versão do Bicicleta Integrada também devem contribuir para incentivo do uso do modal
16:13 | Jul. 10, 2020
De forma a estimular meios de transporte que promovam isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus, a Prefeitura de Fortaleza busca financiamento para construção de 150 quilômetros de malha cicloviária. Além disso, a gestão municipal deu novo prazo para o término da expansão do Bicicletar. Até o fim deste ano, a Capital deverá contar com 210 estações do programa. Antes da crise sanitárias global, as novas estações estavam previstas para serem entregues em junho.
O secretário-executivo da Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), Luiz Alberto Sabóia, afirmou que a pasta está empenhada em negociações com instituições financeiras internacionais, como o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), para garantir recursos para expansão da infraestrutura cicloviária na Capital.
O gestor defendeu que a criação de novas ciclofaixas é a forma mais eficaz para se incentivar o uso da bicicleta. “Quando você cria infraestrutura, as pessoas respondem. Quando se cria grandes avenidas, você está convidando as pessoas para ocuparem essa via, o mesmo acontece com a implantação de ciclofaixas. A coisa mais importante para a bicicleta é criar a infraestrutura”, enfatizou.
Com o acréscimo, Fortaleza chegaria a quase 450 quilômetros de malha cicloviária. O valor ficaria cerca de 70 quilômetros atrás do que foi estabelecido como meta para 2030 no Plano Diretor Cicloviário Integrado (PDCI), documento que guia as políticas públicas para a bicicleta. Até o final de 2012, Fortaleza contava com cerca de 68 km de rede cicloviária.
Conectividade da rede
Felipe Alves, engenheiro e integrante da Associação dos Ciclistas Urbanos de Fortaleza (Ciclovida), defendeu que além do número de quilômetros que serão expandidos, a Prefeitura se deveria se preocupar em criar conexões importantes para a conectividade da rede cicloviária. “Você consegue percorrer certo caminho, mas chega em um ponto e há uma interrupção da rede”, reclamou.
O engenheiro acredita ainda que Fortaleza, assim como todas as capitais brasileiras, perdeu uma oportunidade para fazer testes na mobilidade urbana. Ele argumenta que o menor movimento em grandes avenidas permitiria que se encontrassem soluções para lugares que têm mais dificuldade com a intensidade do fluxo de veículos.
“Vimos na Europa e até na América Latina cidades que aproveitaram momentos de ruas vazias para reservar um espaço maior para quem caminha ou para quem pedala. A expansão (do número de ciclofaixas) é boa, mas a Prefeitura poderia ter aproveitado para pegar alguma avenida com tráfego intenso para testar alguma coisa. Criar uma ciclofaixa temporária, descobrir soluções para vias que têm dificuldades normalmente”, sugeriu.
LEIA MAIS | Pandemia faz fabricação de bicicletas disparar em Taiwan; veículo tem ganhado espaço no mundo
A instalação de ciclofaixas temporárias está no radar da gestão municipal, de acordo com Sabóia, mas a prioridade é a criação de estruturas definitivas. Ele citou que a experiência de Bogotá, capital da Colômbia, colaborou para que as estruturas não fossem adotadas na Capital. O país latino enfrentou dificuldades como o furto de cones que sinalizavam a via, assim como a riscos recorrentes à segurança do ciclista.
Por meio do programa Cidades Saudáveis, plataforma online criada pela Vital Strategies com o apoio da Bloomberg Philanthropies e da Organização Mundial da Saúde (OMS), várias cidades da América Latina puderam trocar experiências durante a pandemia e definir como atuariam em relação à segurança viária.
Efeitos da pandemia
A crise na saúde trouxe efeitos interessantes para a dinâmica de como as pessoas passaram a se deslocar em Fortaleza, segundo o secretário Luiz Alberto Sabóia. Durante o período de isolamento mais rígido, a circulação de ciclistas na Capital reduziu 38%. A queda foi menor que a do transporte público e de veículos individuais, que caíram 80% e 60% respectivamente. As análises foram feitas, entre outras fontes, com base em câmeras da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC).
“Intuitivamente, nota-se que neste momento o risco de contaminação em um deslocamento é menor que em outros. Isso aconteceu aqui e no mundo todo. Estar ao ar livre é muito menos arriscado que em um ambiente fechado”, ressaltou.
O secretário argumentou ainda que Fortaleza é uma cidade propícia para se pedalar, tanto pela geografia como pelo clima. “Se fala muito do sol, mas a maior parte do deslocamento ocorre no começo da manhã ou no fim da tarde”, disse.
Leia mais
Dante Rosado, coordenador da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, em Fortaleza, afirmou estar preocupado a migração de pessoas para outros modais, especialmente as que deixam o transporte público. Ele explicou que uma possibilidade recorrente é que a moto seja a primeira opção de troca, devido ao custo reduzido em relação ao carro. Ele explica que isso pode contribuir para o incremento no número de acidentes de trânsito.
Conforme O POVO noticiou, embora a Capital tenha registrado diminuição em 40% na quantidade de mortes em acidentes entre 20 de março e 21 de maio, o número de atendimentos ainda preocupa. No total, 419 pessoas estiveram envolvidas em acidentes com motocicletas em abril deste ano.
O especialista da Bloomberg argumenta, no entanto, que o investimento do poder público em políticas de incentivo à bicicleta pode fazer com que as pessoas passem a adotar esse modal. Rosado ressalta ainda a importância de que o transporte público não seja abandonado pela Prefeitura. Ainda que seja um meio de deslocamento potencialmente mais exposto à contaminação, ele seguirá constituindo um pilar para mobilidade de boa parte da população, pondera o especialista.
Bicicleta Integrada
Outra novidade em relação a bicicletas deve surgir ainda neste ano para os fortalezenses, de acordo com o secretário. Ele disse que a Prefeitura deve divulgar licitação em agosto para a implementação de um novo modelo do Bicicleta Integrada. Atualmente, os usuários podem fazer a retirada das bicicletas, por um período de até 14 horas, nos terminais de ônibus da Cidade.
Na nova versão, no entanto, a ideia da gestão municipal é que as estações sejam espalhadas em outros pontos da Capital e não apenas nos terminais. O serviço seguirá de forma gratuita para os usuários do Bilhete Único, assim como o período de 14 horas em que os usuários podem ficar com a bicicleta não será alterado. As primeiras estações devem ser instaladas até outubro deste ano.