Polícia prende homem acusado de armazenamento de imagens de abuso e exploração sexual infantil

O crime foi descoberto porque o homem de 59 anos, de classe média alta, levou o celular para o conserto e o técnico viu imagens de crianças no aparelho

14:10 | Jun. 22, 2020

Por: Redação O POVO
Delegacia de Combate à Exploração da Criança e Adolescente (Dceca), que tem à frente a delegada Yasmin Teixeira da Dceca, conduziu as investigações (Foto: Júlio Caesar /O POVO) (foto: JÚLIO CAESAR)

Um homem de 59 anos foi preso em flagrante, na última sexta, 19, em um shopping de Fortaleza, por armazenar mais de 100 fotos de crianças e adolescentes nuas no aparelho celular. O crime, previsto no artigo 241 B do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), só foi descoberto porque o acusado levou o telefone para consertar em um shopping de Fortaleza. Apesar de ter apagado as fotos, o técnico percebeu o conteúdo e avisou à Polícia. A pena é de reclusão, de um a quatro anos. O criminoso é casado, tem filhos e foi levado ao Complexo de Delegacias Especializadas (Code), no bairro Aeroporto.

“A Dececa recebeu essa denúncia de que uma pessoa continha no seu celular um vasto material contendo cenas de abuso e exploração sexual (contra crianças e adolescentes) e o homem foi preso em flagrante”, informa a Yasmin Ximenes Pontes, titular da Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dececa) e conselheira titular do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedca). O criminoso alegou que o material de abuso e exploração de jovens no aparelho celular era de uso exclusivo dele. No entanto, as investigações prosseguem no intuito de desvendar se havia ou não compartilhamento das imagens.

Com o indivíduo foram apreendidos um tablet (onde, de acordo com a denúncia, haveria a maior parte do material) e um celular, onde os policiais também encontraram conteúdo de insinuações de pedofilia. As imagens e vídeos, assim como os aparelhos, foram enviados para análise na Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce). A ação teve o apoio da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core).

Segundo a delegada, nesta época de isolamento social, os casos de abuso e exploração sexual de crianças aumentaram, principalmente na modalidade de arquivamento de imagens. Justamente por isso, de acordo com Ximenes, é fundamental que toda a sociedade colabore com a Polícia, por meio de denúncias. “Até porque existe a previsão legal de que todos nós temos a obrigação de proteger nossas crianças e adolescentes”, enfatiza.

Isso pode ser feito ligando para a Dececa, com denúncias inclusive anônimas. “O que nós não podemos é nos calar”, confirma. Ainda segundo a delegada, a criança ou adolescente que sofre abuso sexual vai sofrer alterações comportamentais. “Pais e cuidadores precisam estar atentos às mudanças de comportamento. Choro fácil, aversão a toque, tentativas de causar violência no próprio corpo são alguns dos sinais de crianças e adolescentes podem apresentar”, diz.

Por isso, é tão fundamental estreitar os canais de comunicação entre pais, filhos, professores, ou seja, os adultos de confiança da criança. “Às vezes, um pai orienta o filho a não falar com estranhos, a ter cuidado ao atravessar a rua, mas não pensa em orientar uma criança e um adolescente sobre o mundo na internet”, alerta ela. Quando se deixa o filho de cinco, sete anos sozinho com um smartphone ou o computador, existe a falsa sensação de que ele está em segurança. “Não está. Os pedófilos usam desses canais para atrair as crianças, até nos próprios jogos você tem pedófilos que começam um bate-papo. Isso acontece nas barbas dos pais. Hoje o crime não tem fronteira”, conta.

Não existe um perfil específico do pedófilo. Normalmente, é uma pessoa acima de qualquer suspeita. “Ele precisa ser assim. Como um predador sexual que ele é, ele tem um passado ilibado, todas as pessoas gostam dele, inspiram confiança. Afinal de contas, você não deixaria sua criança com um completo desconhecido”, informa. O homem detido, ainda de acordo com a delegada, tinha a compulsão por baixar esse tipo de conteúdo e, inclusive, chegou a se desculpar. “A desculpa não isenta de responder criminalmente por seus atos”, enfoca.

Além do armazenamento de imagens de exploração sexual de crianças e adolescentes, a delegada elenca outros tipos de crime contra esse público que aumentaram com o isolamento social: os casos de violência doméstica e familiar envolvendo os jovens aumentaram. “Elas não estão na escola, estão em casa e na companhia dos infratores”, diz. Ximenes diz que não é preciso ir muito longe para descobrir quem é o abusador.

“Ele está na constelação familiar da criança. São pais, padrastos, tios, irmãos, vizinhos, professores. Quando o perigo está dentro de casa, fica mais difícil para a criança buscar ajuda”, elenca. Daí a necessidade da rede de proteção e da própria comunidade de estarem atentas para amparar a criança na hora que ela falar. A orientação para quem tiver acesso a jovens em situação de abuso e exploração sexual, levar direto à Dececa. O importante é não silenciar e não ficar perguntando à criança detalhes do abuso. “Isso vai revitimizá-la. Entenda, é uma criança. Não se pode criticá-la por não ter falando antes (da situação de abuso). Ela algumas vezes nem entende o que está acontecendo e precisa ser amparada”, ensina.

Outras ações

A primeira ação ocorreu no dia 21 de março, quando um perfil anônimo que atuava de forma semelhante e também no Instagram foi retirada do ar. Uma semana depois, no dia 29, uma página no Facebook com vídeos e fotos de pedofilia e incentivo à prática foi removida. Esta última página possuía 172 mil seguidores e também continha incentivo à violência e estupro contra mulheres e idosos. No dia 18 de maio, um terceiro perfil no Instagram foi retirado ar por divulgar conteúdo pornográfico infantil. No dia 2 de junho, outro perfil, ainda no Instagram também foi removido do ar após denúncias de internautas cearenses de que a página estaria promovendo material de estupro contra crianças e adolescentes.

 

Serviço

Para denúncia de abusos e exploração sexual contra crianças e adolescentes na Dececa pelo telefone (85) 3101 2044