Banco do Brasil culpa empresa de engenharia pela destruição da "Mulher Rendeira"
Um erro na execução da reforma da entrada do Banco do Brasil da Praça do Carmo, em Fortaleza, levou a demolição e o descarte no lixo da obra de arte do escultor José Corbiniano Lins
19:17 | Mai. 31, 2020
A superintendência do Banco do Brasil (BB) no Ceará responsabilizou a empresa de engenharia contratada para a reforma da fachada da agência da Praça do Carmo, no Centro de Fortaleza, pela destruição e sumiço da escultura “Mulher Rendeira”. A obra de arte, do escultor pernambucano José Corbiniano Lins, estava em um pequeno jardim ao lado entrada do banco desde 1966. A estátua foi demolida na última quinta-feira, 28/5.
Em nota, enviada ao O POVO neste domingo, 31/5, a assessoria de comunicação do BB informou que o “Banco do Brasil esclarece que durante uma obra de reparação em sua agência Praça do Carmo, em Fortaleza, a escultura ‘Mulher Rendeira’ foi indevidamente danificada e removida do local”.
A retirada da escultura, do cruzamento das avenidas Duque de Caxias e Barão do Rio Branco, “é resultado de erro de execução no projeto de engenharia, que previa a remoção da escultura durante as obras exatamente para protegê-la, com sua posterior reinstalação”, informa o comunicado.
No texto, o Banco do Brasil lamenta “profundamente o erro de execução da empresa contratada para a realização da reforma” e afirma que “irá adotar ações que levem à restauração da escultura e sua reinstalação no local”.
Nem no comunicado nem na placa de reforma do BB consta o nome da empresa que levou a destruição e o descarte no lixo da escultura da “Mulher Rendeira”. Um engenheiro do Pará assina a fiscalização da obra no banco. Outro, de Pernambuco, e uma arquiteta são os responsáveis técnicos.
O POVO apurou que a partir de amanhã, a superintendência da instituição bancária irá encaminhar as providências legais contra os engenheiros e arquiteta que permitiram a demolição de uma obra de arte do acervo de uma instituição que também é pública (economia mista).
“DESASTROSO”
O presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Ceará (IAB-CE), Jefferson John Lima da Silva, e secretária geral do IAB-CE, Rebeca Gaspar Maia, classificaram o episódio da destruição da escultura da “Mulher Rendeira” como “desastroso”.
Também por meio de nota, os dois arquitetos afirmaram que o IAB-CE irá cobrar, amanhã, que a superintendência do Banco do Brasil esclareça o que aconteceu para tamanho “descaso com importante patrimônio institucional e patrimônio brasileiro”.
De acordo com Jefferson Lima da Silva e Rebeca Gaspar é urgente “descobrir o paradeiro da escultura, realizar seu restauro e com isso, zelar como se deve pelo patrimônio cultural”. Para isso, segundo a nota do IAB-CE, que o BB utilize “o sistema de segurança para identificar quem levou a escultura a bordo de uma Kombi”.
Os dois arquitetos terminam a nota, enviada ao O POVO, apelando pela devolução dos pedaços da obra de arte destruída. “Pedimos, encarecidamente, a você que levou o que restou da escultura, que possa devolvê-la com urgência. Faz-se necessário trabalho de profissionais especialistas para a devida recuperação e restabelecimento. É um bem público e somente através de meios legais, ela poderia passar para terceiros”.
TRÊS ESCULTURAS
O pernambucano José Corbiniano Lins, falecido em 2018, aos 96 anos em Recife, é autor de três esculturas públicas expostas em Fortaleza. De acordo com o jornalista Gilmar de Carvalho, além da “Mulher Rendeira”, Corbiniano esculpiu a estátua de “Martins Soares Moreno e Iracema”, que está na avenida Beira-Mar e o “Monumento ao Vaqueiro” exposto na praça da antiga entrada do aeroporto Pinto Martins.
A “Iracema”, de Corbiniano Lins, foi inaugurada em 1965 com a presença do presidente Castelo Branco, no início da ditadura militar no Brasil (1964-1985), na gestão do prefeito Murilo Borges.
De acordo com o livro “O artista Zenon Barreto e a arte pública na cidade de Fortaleza”, de Sabrina Albuquerque, também em 1965 foi instalado o “Vaqueiro” onde hoje o cearense chama de aeroporto velho. E no ano seguinte, a “Mulher Rendeira”.
O ARTISTA
José Corbiniano Lins nasceu em Olinda, em 1924, e faleceu em março de 2018 após sofre um infarto. Ele iniciou nas artes como pintor no Atelier Coletivo de Olinda. Na década de 1950, militou no movimento de arte moderna de Recife ao lado de Abelardo da Hora, Reynaldo Fonseca, Samico e Celina Lima Verde.
Na praça General Abreu Lima, em Recife, está uma de suas obras mais importantes. Um painel de azulejos que retrata três marcos históricos ocorridas em Pernambuco. O 1817, (Revolução Pernambucana), o 1824 (Confederação do Equador) e o 1848 sobre a Revolução Praieira.