Eleitores levam guarda-sol, cadeira de praia e água para aguentar espera por biometria
Pessoas relatam desleixo e falta de tempo como motivos para deixar o cadastramento biométrico para a última hora
14:15 | Nov. 18, 2019
“É coisa do brasileiro, né?”. Precisar fazer o cadastramento biométrico obrigatório de última hora não é a situação apenas de Gleicia de Souza Araújo, eleitora de Fortaleza e autônoma. Muitas pessoas que conhece, segundo ela, foram deixando o procedimento para depois. O comportamento resulta em filas gigantescas de eleitores que procuram ser atendidos pelo mutirão promovido pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Desde o dia 11 de novembro, já foram 26 mil títulos regularizados. Para suportar a espera nas filas e o clima quente, eleitores levam bancos, cadeiras de praia e guarda-sol.
Em 60 anos de vida, a artesã Valda Naziozeno afirmou que nunca precisou pegar uma fila tão longa como a desta segunda-feira, 18. Ela compartilhava a sombra de um guarda-chuva com pessoas que conheceu durante a espera. A artesã reconhece que deixou para fazer a biometria na última hora, mas acredita que os servidores do mutirão trabalham rápido e vai conseguir ser atendida. Ela chegou no Centro de Eventos às 7 horas e, enquanto não chegava sua vez, fez amizades com outras pessoas da fila. “A gente vai se ajudando”.
A sombra do guarda-sol do eleitor Márcio Azevedo fez com que as pessoas próximas que também queriam se abrigar do calor começassem a conversar. Os colegas se ajudavam uns aos outros a se distrair da espera. Ele explica que não quer sofrer penalidades que vem com o cancelamento do título, consequência de não fazer o cadastramento biométrico obrigatório. No entanto, se fosse só pelo direito de votar, Márcio ainda assim faria o esforço de regularizar a situação.
“Nosso voto é de fato importante. É necessário votar com consciência”, opina. Já a motivação da colega recém-conhecida, Alexandra Farias, é divergente. Para ela, se o cancelamento do título de eleitor influenciasse apenas no voto, não buscaria fazer. “A gente bota e tira políticos e fica na mesmice. Acho que muita gente se sente da mesma forma”. Como pretende fazer concursos, decidiu procurar o mutirão.
Às 10 horas, a eleitora Jéssica Cavalcante era a última da fila que dava uma volta no Centro de Eventos. No entanto, a posição não foi dela por muito tempo. Após cerca de cinco minutos conversando com o O POVO, mais de 20 pessoas somaram-se à fila. Apesar de sempre votar branco ou nulo por não gostar de se envolver com política, Jéssica foi para não perder o documento.
Atendimento
De acordo com Lorena Belo, coordenadora de atendimento ao eleitor, o mutirão está atendendo 600 pessoas por hora. A meta é realizar pelo menos 6 mil biometrias por dia. Por isso, os portões fecham às 17h, mas o atendimento vai até a última pessoa dentro do Centro de Eventos. Apesar de não existir senhas, o TRE está atento, segundo Lorena, para tomar decisões levando em conta a demanda. No domingo, 17, devido a alta procura no fim de semana, foram distribuídas 3 mil senhas.
Mutirão da Biometria
Onde: Centro de Eventos do Ceará (avenida Washington Soares, 999 - Edson Queiroz)
Quando: Segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas. Aos sábados e domingos, das 8 horas até meio-dia. O mutirão no local será até 29 de novembro
Documentação: Documentos originais de identificação oficial com foto e comprovante de residência atualizado
Consequências do cancelamento do título de eleitor
Segundo o TRE, se o eleitor de Fortaleza não comparecer até o dia 29 de novembro, o título será cancelado. A situação irregular ocasiona o cancelamento do título e implicações no CPF. O eleitor fica impedido de:
- votar e ser votado;
- inscrever-se ou receber o Bolsa Família;
- emitir passaporte;
- fazer matrícula em instituições públicas de ensino;
- contrair empréstimos em bancos oficiais; tomar posse em cargo público e, se for servidor público, receber salário.