Justiça nega arquivamento de inquérito que investiga advogada
A advogada, que chegou a ser presa por desacato, foi liberada após pagamento de fiança no valor de R$ 9.980. As investigações seguem em andamentoO pedido de habeas corpus de arquivamento de inquérito policial que investiga a advogada Paloma Gurgel, após a prisão por desacato no dia 26 de setembro, foi negado pela Justiça na última quarta-feira, 30.
Paloma, conforme documento pedido de habeas corpus obtido pelo O POVO, estava acompanhando um cliente em uma clínica oftalmológica de Fortaleza, localizada na avenida 13 de maio, e foi impedida de acompanhar um detento pelo motivo de não ter procuração. No entanto, a defesa de Paloma alegou que a advogada principal estava de atestado médico e que Paloma foi acompanhar o cliente para a realização da consulta. Paloma discutiu com os agentes penitenciários e, no mesmo dia, esteve em uma Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL), onde houve outra discussão.
O paciente que Paloma acompanharia era o detento Givanildo da Silva, de 45 anos. Givanildo foi preso durante investigação da Polícia Civil sobre grupo criminoso de Carlos Odeon Bandeira 35, conhecido como “Jow", sob a suspeita de formar uma organização criminosa responsável por gerenciar e distribuir drogas no Sertão Central. Em abril de 2015, a Polícia desmontou o esquema com o cumprimento de 87 mandados de prisão, 53 cumpridos dentro do sistema penitenciário e 52 de busca e apreensão. Jow era considerado pela Polícia Civil como o número um do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Sertão Central. Givanildo é padrasto dele.
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AssineNo dia da ocorrência na clínica, 26 de setembro, era o sétimo dia de ataques criminosos no estado do Ceará. As ações que partiram da facção Guardiões do Estado (GDE) tiveram início no dia 20 de setembro. Na quinta-feira, 26, pelo menos 88 atentados haviam sido registrados no Ceará e até um carro da Polícia havia sido incendiado em frente à guarnição.
No dia 24 de setembro, o advogado Alaor Patrício foi preso repassando bilhetes com instruções de facções criminosas dentro de uma unidade prisional. Dois dias após o incidente, e com investigações relacionadas ao envolvimento de advogados que levavam e traziam informações para os detentos faccionados, a Secretaria da Administração Penitenciária intensificou os procedimentos de segurança.
Givanildo da Silva chegou na clínica com o aparato dos agentes penitenciários e a advogada foi impedida de entrar no consultório. No documento em que constam os depoimentos, Paloma Gurgel diz que iria entrar no consultório com o preso, mas foi impedida. A partir disso, houve a discussão e ela alega que levou uma cotovelada do agente penitenciário. No depoimento do agente, ele diz que paloma foi para cima do agente penitenciário e que alegou ter "as costas largas" e que quando o profissional de segurança perguntou se era uma ameaça ela teria respondido "entenda como quiser".
No depoimento de Paloma, ela relata que no mesmo dia esteve na CPPL III para obter informações sobre onde estaria Carlos Odeon, o Jow. E que, posteriormente, foi contactada pela advogada do detento Givanildo para acompanhá-lo na clínica. Paloma, após a confusão na unidade de saúde, acabou presa em flagrante por desacato e ameaça. Ela pagou uma fiança de R$ 9.980 e também representou contra um dos agentes penitenciários.
A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) afirmou, em um documento, que Paloma esteve na CPPL II em busca de Jow e ao ser informada que ele não estava na unidade teria afirmado que estavam ocultando os internos e impedindo que ela visse os clientes.
Advogada foi alvo de atentado no RN
Paloma foi alvo de uma tentativa de homicídio no dia 19 de dezembro de 2015 em Natal. Na ocasião, ela foi internada e sobreviveu após a bala atravessar o silicone da profissional.
Em 2017, Paloma concedeu entrevista ao portal de notícias Agora RN rebatendo informações sobre acusação do Ministério Público do Rio Grande do Norte. Na época, Paloma era suspeita de facilitação de fuga, pois um detento saiu de unidade prisional com um habeas corpus falso assinado com o nome da advogada, no entanto, ela disse que não assinou o documento. O preso em questão era João Maria dos Santos, o João Mago, considerado responsável pela articulação de aproximadamente 50 ataques criminosos no Rio Grande do Norte. O motivo dos ataques era a instalação de bloqueadores de celulares.
Paloma também ficou conhecida por ser responsável pela defesa de Deijair de Souza Silva, o De Deus, que é considerado um dos conselheiros da facção Guardiões do Estado e qualificado como o "01" da GDE. De Deus foi transferido para um presídio federal em 2018 e é considerado um dos mandantes da chacina das Cajazeiras, em Fortaleza, que aconteceu no Forró do Gago e deixou 14 mortos.
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