Siciliano, homem que ordenou os ataques no Ceará em abril, é transferido para presídio federal
Um helicóptero da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) partiu do Ceará e Siciliano embarcou na aeronave no Recife, de onde foi transportado para o presídio federal
17:31 | Set. 27, 2019
Ednal Braz da Silva, 46 anos, apelidado de Siciliano, foi transferido na tarde desta sexta-feira, 27, para o presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Ele é apontado pela Polícia Federal como responsável por ordenar ataques a torres de telefonia registrados no dia 1º de abril deste ano, em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Um helicóptero da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) partiu do Ceará rumo a Recife, de onde Siliciano embarcou e, em seguida, foi transportado para o presídio federal.
Nessa quarta, havia sido confirmado pelo promotor Rinaldo Janja, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a solicitação da transferência de Siciliano para uma penitenciária federal. O pedido foi apresentado pela Polícia Federal (PF). Paralelamente, o Ministério Público do Ceará (MPCE) já tinha solicitado a transferência de 12 detentos do Ceará para presídios federais. Na ocasião, ele disse que "não resta dúvida" de que os detentos que estão no sistema penitenciário cearense articularam os ataques dos últimos sete dias. A ligação entre eles e os criminosos que cumpriram as ações nas ruas teria acontecido através de recados levados por visitas de familiares e advogados.
Segundo nota do Ministério da Justiça e Segurança Pública, vagas foram disponibilizadas pelo Sistema Penitenciário Federal para receber os líderes criminosos envolvidos em ações no Ceará. O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) aguarda a lista de presos por parte do governo do Ceará e a autorização do juiz da origem. Não são informados detalhes sobre número de vagas por questões de segurança.
Ainda de acordo com o Ministério da Justiça, não foi formalizado, até o momento, pedido para a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) atuar no Ceará. "Já sobre a portaria 573, de 3 de junho de 2019, o prazo foi prorrogado por 90 dias para que Força Nacional (no âmbito da polícia judiciária) desse apoio aos trabalhos da Polícia Federal. A permanência do efetivo no estado encerrou-se no dia 5 de setembro de 2019. Por questões de segurança, não informamos o número de efetivo", completou a nota.
Ataques a torres de telefonia
Os equipamentos foram incendiados em ação semelhante às que estão acontecendo nos últimos sete dias na Capital e interior do Ceará. Mesmo já estando preso, o mandado contra Siciliano foi cumprido numa penitenciária na cidade de Limoeiro, na região do Agreste de Pernambuco. Ele está encarcerado no local desde 2013.
Siciliano foi um dos alvos da operação Torre, da PF, deflagrada na manhã desta quinta-feira, 26, que cumpriu seis de 15 mandados de prisão autorizados e nove de outras 14 ordens judiciais para busca e apreensão. Ainda está sendo analisado, a partir das conversações em celulares apreendidos, se as ações atuais tiveram os mesmos mandantes.
"A gente acredita que os ataques atuais tenham sido emanados deste homem preso no Estado de Pernambuco, mas ainda não podemos comprovar. Vai depender do decorrer das investigações, da análise das informações, até a gente comprovar. Dos presos de hoje, é fato que eles estavam envolvidos nos ataques de abril", confirmou o delegado federal Samuel Elânio de Oliveira, que coordenou a operação.
O trabalho foi feito em conjunto com o Gaeco, do MPCE, e Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). No caso de Siciliano, a operação Torre foi antecipada para manhã de quarta-feira, 25. Na sua cela foi encontrado um celular, mas a PF já havia interceptado mensagens anteriormente em que ele orientava criminosos de fora da cadeia para os atentados de cinco meses atrás.
Natural de Umbuzeiro, na Paraíba, Siciliano chegou a ser investigado no Ceará por ataques a agências bancárias. Seu nome aparece em relatórios da Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil cearense. No fim de 2018, comparsas dele teriam sido presos ocupando apartamentos de luxo em bairros de Natal (RN) e Recife (PE). Ele também já foi presidiário no interior paulista, onde teria criado laços de amizade e parcerias com criminosos do Ceará.
Em coletiva nessa quarta, Siciliano foi descrito como um dos fundadores da facção Guardiões do Estado (GDE), que é o grupo que estaria puxando a onda recente de ataques da última semana. Essa autoria foi reafirmada durante a coletiva à imprensa, mas sem que o nome da facção tivesse sido dito. Não foi informado onde Siciliano morava no Ceará.
Quatro dos cinco alvos da Operação no Ceará já estavam presos
Dos outros cinco mandados de prisão cumpridos, quatro pessoas também já estavam presas e uma estava solta. Todos foram cumpridos no Ceará, segundo o delegado federal Samuel Elânio de Oliveira, que coordenou a operação. Nenhum nome foi divulgado. Os nove mandados de busca e apreensão, dos 14 autorizados pela Justiça Federal, foram executados entre Fortaleza, Maracanaú e Caucaia, em imóveis ligados ao pessoal da facção. "Os demais, como havia alvos que estávamos acompanhando, alguns endereços perderam sentido e descartamos", confirmou Samuel Elânio.
"A gente acredita que entre os presos aqui no Ceará (que foram alvo da operação) não havia comunicação através de telefones celulares, mas poderia haver outras formas de comunicação com o mundo exterior, como visitas etc. Não foi confirmado como se comunicavam, mas a gente constatou que a ordem partiu desses presos", esclareceu o delegado federal.