Ataques no Ceará partiram da GDE; facção criminosa está enfraquecida e sem apoio de rivais
Pelo menos sete pessoas foram presas e cinco identificadas por envolvimento nos ataques em Fortaleza e Região Metropolitana. Ações começaram no último sábado, 21
23:11 | Set. 23, 2019
Diferente dos ataques que ocorreram em janeiro de 2019, a série de atentados que começou no sábado, 21, é praticada por apenas uma organização criminosa: Guardiões do Estado (GDE). O POVO Online constatou a predominância da facção em todos os locais de crime que a reportagem visitou. Conforme uma fonte do serviço reservado, a organização dessas ações está com a GDE, que segue enfraquecida, sem a adesão das outras facções.
Os ataques acabaram causando um efeito contrário ao objetivo das reivindicações dos detentos, já que o titular da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), Mauro Albuquerque, determinou vistorias e "endurecimento" das ações do sistema penitenciário.
Conforme uma fonte ligada à cúpula da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), desde que o "salve" - um texto com uma série de pedidos de melhorias para as unidades prisionais e uma ameaça de ataque com explosivo - foi divulgado na sexta-feira, 23, as ações eram relacionadas apenas a GDE.
A facção protagonizou várias ações desde o começo do mês de setembro, em que tentava chamar atenção. A organização criminosa impediu que empresas de telefonia e internet realizassem manutenções em residencial localizado na Capital. As ações prejudicaram os moradores, que denunciaram o caso e passaram a receber ameaças. Ainda em Fortaleza, surgiram mensagens em muros, como na rua Péro de Góis, no Planalto Ayrton Senna, que determinavam a retirada das câmeras instaladas nas ruas, no período de 24 horas.
No começo da semana passada, a mesma organização criminosa tentou uma movimentação em busca de mudanças no sistema penitenciário e organizou uma manifestação. A facção chegou a divulgar a venda de camisas do evento, que aconteceria no Dionísio Torres, no entanto a movimentação não teve muitos adeptos.
Policiais militares (PMs) têm férias suspensas e setores administrativos vão às ruas
Apesar das forças da segurança optarem pela suspensão das férias dos policiais militares, que devem se apresentar nesta terça-feira, 24, no Quartel do Comando Geral (QCG), as ações da organização são consideradas enfraquecidas, pois não possuem o apoio das outras facções presentes no Ceará.
A ideia de trazer os PMs de férias e de colocar o setor administrativo da PM nas ruas faz parte de uma estratégia bem sucedida, registrada no mês de janeiro, com a presença ostensiva dos agentes de segurança em ônibus e nas ruas. Indagada se haveria a volta dos policiais da reserva, que também foi uma ação adotada em janeiro, a fonte afirmou que, por ser somente a GDE, os ataques não tomaram proporções maiores. Não é descartada a adesão de outras organizações criminosas, mas, por enquanto, a GDE segue enfraquecida, sem ajuda dos rivais, com as prisões dos envolvidos nos ataques.
Em um áudio, um integrante de organização reclama da falta de adesão dos participantes e tenta "conscientizá-los" a aderir aos ataques. Ele chega a afirmar que os mesmos criminosos que estão na rua podem passar a viver nos presídios e vão se deparar com uma série de dificuldades no sistema penitenciário. Ele relata ainda a importância de lutar pela "causa" dos detentos.
Aconteceram transferências do Interior do Ceará para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), após registros de ataques em Quixadá e Quixeramobim, durante a madrugada. Os atentados causaram um efeito contrário ao esperado pelos criminosos, pois a partir dos primeiros registros de incêndio a veículos, o gestor da SAP, Mauro Albuquerque, anunciou, em um áudio interno, que seria necessário o "endurecimento" nos presídios e determinou uma vistoria geral nas unidades.
Ao todo, sete pessoas foram capturadas e outras cinco foram identificadas por envolvimento nas ações. A informação é do Boletim da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). A frota de ônibus segue com o acompanhamento da PM e as investigações da Polícia Civil atuam no sentido de identificar os envolvidos nas organizações. As cúpulas da Polícia Civil, Polícia Militar e da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) estiveram reunidas na sede da SSPDS acompanhando os casos.