Caso Juan: investigação pode esclarecer se houve ricochete do tiro após exame do projétil
Analisar o projétil, o ângulo de disparo e refazer a possível trajetória da bala pode ajudar a entender a ação do policial que teve como consequência a morte de Juan
15:01 | Set. 16, 2019
A Polícia Militar do Ceará (PMCE) defende que houve ricochete no tiro que atingiu a cabeça do adolescente Juan Ferreira dos Santos. O jovem de 14 anos estava em uma festa que acontecia na Praça do Mirante, no bairro Vicente Pinzon, quando foi baleado por um PM durante uma abordagem policial. O caso foi na noite de sexta-feira, 13. Juan não resistiu aos ferimentos e morreu. De acordo com a PMCE, a arma do soldado estaria apontada para o chão na hora do disparo. Familiares pedem que o caso seja investigado.
Domingos Tocchetto, perito criminal aposentado e autor de diversos livros sobre perícia forense, diz que a questão pode ser esclarecida a partir de exames no projétil que atingiu Juan. Se a bala bateu no asfalto ou concreto antes de se alojar na vítima, ela pode conter resíduos dos materiais que entrou em contato. Além disso, o projétil estaria deformado devido ao impacto do primeiro baque no chão.
“Tudo vai depender se existe esse projétil disponível e de uma perícia bem feita”, disse o perito.
Outro procedimento que pode ser realizado para estudar o caso é uma reprodução simulada do momento da abordagem policial. É preciso, de acordo com Tocchetto, analisar o ângulo do disparo e comparar à trajetória da bala. “É uma situação difícil de acontecer, mas é possível. O policial tem de ter cuidado”, explica.
Testemunhas ouvidas pelo O POVO Online questionam também a necessidade do disparo efetuado pelo soldado. Na versão da PMCE, indivíduos em “atitude suspeita” motivaram a ação. Alguns dos jovens teriam resistido e arremessado pedras contra a composição, que respondeu dando um tiro para o chão. No entanto, os moradores da comunidade afirmaram que acontecia uma festa com música e dança na praça e os policiais chegaram mandando todos se retirarem.
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Juan recebeu o tiro na nuca e caiu no chão e, de acordo com as testemunhas, ele não estava jogando pedras contra os agentes. “O tiro foi por trás. Como ele estava jogando pedras de costas? Tinha muito policial! Como uma criança de 14 anos bate de frente com um policial armado? Não tem lógica. Não dá para engolir. Como uma criança joga uma pedra e recebe um tiro na nuca?", questionou um jovem amigo da vítima.
O PM responsável pelo tiro está detido no Presídio Militar. O homicídio será investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) informa, em nota, que determinou a instauração de investigação preliminar para apuração do caso na seara administrativa. "O inquérito policial, por sua vez, está sob a responsabilidade do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoas (DHPP)", destaca a nota.