Cerca de 40 casas serão inspecionadas após demolição de prédio na Maraponga
Por medo de represálias, proprietário do imóvel envia sogro como representante para dialogar com moradores
13:30 | Jun. 28, 2019
A Defesa Civil de Fortaleza vai inspecionar pelo menos 40 casas no entorno do prédio que começou a ser demolido na manhã desta sexta-feira, 28. A demolição deve continuar por até três dias. A vistoria técnica é para verificar se a destruição da construção afetou a estrutura das residências evacuadas. Caso verifique-se danos, o proprietário do empreendimento derrubado será notificado pela órgão.
Os moradores afetados devem reclamar o prejuízo na justiça e o dono do residencial ressarci-los. Para evitar represálias, o homem não compareceu ao local, e o sogro tem assumido o papel de representante da obra. O enviado pelo proprietário se recusou a falar com a imprensa e bateu boca com moradores da área prejudicada.
A estrutura desabou parcialmente em 1° de junho. Desde então, 16 famílias deixaram o apartamento do residencial. Além dessas, outras 15 casas, no mesmo dia do incidente, foram interditadas como prevenção a possíveis danos. Para demolição completa, todo o quarteirão, onde está localizado o prédio, foi interditado.
As famílias retiradas das residências nesta manhã podem retornar às casas a partir das 17 horas, mas devem evacuá-las assim que o processo de demolição retome no dia seguinte. Por ser um prédio particular, toda a demolição está sendo feita por empresa e engenheiros contratados pelo proprietário do empreendimento.
“A prefeitura está dando suporte, assim como o Corpo de Bombeiros. O suporte é com prevenção aos moradores. A indenização deve partir do proprietário”, pontua Luciano Agnelo, coordenador da Defesa Civil.
Clima tenso
Na manhã desta sexta-feira, alguns residentes do prédio demolido ultrapassaram a área isolada para tentar retirar pertences dos apartamentos. No entanto, foram barrados. 35 homens da Defesa Civil acompanhavam os procedimentos. A Polícia Militar foi acionada. Corpo de Bombeiros e Guarda Municipal também escoltaram a demolição.
O POVO Online tentou conversar com os moradores, mas não conseguiu. Com os ânimos à flor da pele, as pessoas diziam-se cansadas de falar sobre o assunto. Sentados na calçada de uma rua paralela onde o prédio está localizado, um casal lamentava a perda dos livros do filho. O homem, que preparava-se para trabalhar no turno da tarde, contabilizava em R$ 5 mil os exemplares do filho.
Alguns mais exaltados tentavam falar com o representante do empreendimento. O diálogo era acompanhado pela Polícia. Moradores de residências próximas também acompanharam, por toda a manhã, o vai e vem de agentes da defesa civil e policiais. Impossibilitados de chegar na entrada da rua onde moravam, os moradores escutavam apenas o barulho das retroescavadeira a poucos metros dali. Quem conseguia chegar mais próximo via roupas e papeis voando do prédio. “A Maraponga nunca esteve tão movimentada”, comentou uma transeunte que parou para ver o burburinho.