Estudante relata caso de racismo e abordagem violenta de seguranças da UFC

Universidade afirma que a Comissão de Direitos Humanos está avaliando o caso e deve emitir parecer. O jovem registrou Boletim de Ocorrência (BO) e deve ir ao IML nos próximos dias para fazer o exame de corpo de delito

21:54 | Jun. 19, 2019

O estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luiz Fernando de Lima Teixeira, 19 anos, publicou em seu perfil do Facebook o relato do racismo que sofreu dentro da instituição. Quando tentava entrar no Campus do Pici na última segunda-feira, 17 de junho, foi parado por seguranças que pediam para o jovem se identificar, tratamento diferente ao dado a outras pessoas que circulavam no local, relatou o jovem. Após não atender a ordem e seguir caminho, Luiz foi interceptado novamente. O aluno diz ter recebido um golpe conhecido como chave de braço e cotoveladas dos seguranças, além de ter sido conduzido a uma sala, onde foi ameaçado com arma de choque.

“Eu me senti constrangido de tá tendo que me identificar, sendo que as pessoas que passavam não precisavam. É uma prática bem seletiva”, conta ao O POVO Online. Luiz relembra que casos como o dele são relatados por diversos alunos e até mesmo por professores negros da universidade que precisam mostrar documentos na entrada dos campi. Enquanto isso, pessoas brancas não são ordenadas a fazer o mesmo, segundo ele. O jovem registrou Boletim de Ocorrência (BO) e deve ir ao Instituto Médico Legal (IML) nos próximos dias para fazer o exame de corpo de delito.

Na postagem que fez nas redes sociais, Luiz descreve com detalhes como foi tratado pelos seguranças do campus na abordagem. “Ficavam me ofendendo, dizendo que eu não era ninguém, eu pedia para que tirassem as mãos de mim, que não me enforcassem, pedi socorro”, escreve no texto publicado. De acordo com o estudante, quando pessoas tentavam parar para ajudá-lo ou saber o que estava acontecendo logo eram repreendidas pelos agentes. O caso aconteceu por volta das 19h40min, quando Luiz ia entregar no Instituto de Cultura e Arte (ICA) uma bicicleta que pegou emprestado de um amigo.

Quando já estava há mais de 40 minutos parado discutindo com os seguranças, equipes da Polícia Militar que fazem ronda no campus pararam para verificar o que estava acontecendo. Luiz diz que os policiais pediram seus documentos, que no momento estavam espalhados no calçamento. “A única coisa que eles falaram foi que não existia ocorrência. Depois que eles falaram isso eu achei que poderia seguir. Mesmo depois dos PMs terem liberado, um segurança que se colocou como supervisor não me queria ali e disse para eu sair”, explica.

Após continuar o caminho por alguns metros, Luiz foi abordado novamente, algemado e levado para uma sala. Ele relata ter sido jogado no chão e ameaçado por um dos seguranças com uma arma de choque elétrico, enquanto o agente o ameaçava verbalmente. Foi só após o ativista Ari Areia chegar no local e pedir para que Luiz fosse solto que a abordagem teve fim. Agora, o jovem pretende denunciar o caso para a reitoria da UFC com a ajuda de professores do seu curso. “Temos que denunciar a estrutura, porque não é um caso isolado aqui na UFC. É uma empresa [de segurança] que não tem preparo. Foi um caso de extrema violência”.

Em nota, a UFC afirmou que a Comissão de Direitos Humanos da instituição está analisando o caso e deve emitir um parecer “em tempo hábil”. O texto enviado à imprensa reiterou também o respeito à diversidade dentro e fora da universidade.

Confira a nota na íntegra:

A Universidade Federal do Ceará repudia qualquer prática de desrespeito à dignidade das pessoas e defende que a convivência no âmbito universitário – e fora dele – seja sempre pautada pelo respeito à diversidade, seja ela relacionada a etnia, raça, gênero ou qualquer outra forma.

Essa posição da UFC é reafirmada pelas atividades desenvolvidas por sua Comissão de Direitos Humanos, que está apreciando o referido caso e, em tempo hábil, emitirá parecer que subsidiará as providências cabíveis.