Estudantes criam perfis para divulgar projetos; ação é resposta ao bloqueio de verbas na educação

O protesto surgiu após o ministro da Educação (MEC), Abraham Weintraub, dizer que as verbas serão reduzidas em universidades e instituições de ensino federais que "estiverem fazendo balbúrdia"

15:31 | Mai. 09, 2019

Por: Gabriela Feitosa ESPECIAL PARA O POVO
Perfil @balburdiauece apresenta uma série de projetos desenvolvidos pela universidade estadual (foto: REPRODUÇÃO)

Anunciadas no final do último mês, a notícia de que universidades e instituições de ensino federais sofrerão uma retenção de 30% no seu orçamento, causou preocupação. Instituições de todo o país emitiram notas se posicionando sobre a situação, alertando que, com o bloqueio, atividades básicas, como manutenção da limpeza e pagamentos de contas da luz e água, serão paralisadas.

Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) foram as primeiras a serem enquadradas nos cortes, mesmo que duas delas, UFBA E UFF, apresentem bom desempenho em avaliações internacionais sobre educação.

Além do anúncio dos cortes, comentários do atual ministro da educação também repercutiram. Abraham Weintraub chegou a dizer que “Universidades que, em vez de procurar melhorar desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas”. Com “balbúrdia”, Abraham estava se referindo aos eventos políticos, manifestações e “festas inadequadas” no ambiente universitário.

A resposta foi rápida. Estudantes de todo o país logo começaram a criar perfis no Instagram ironizando e ressignificando a fala do ministro. “Vamos expor a balbúrdia em ensino, pesquisa e extensão” é a frase que impulsiona a ação. Na rede social, o objetivo é fazer postagens sobre os projetos que estão acontecendo na instituição. A iniciativa é uma tentativa de mostrar à parcela da população que não está no ensino superior (principal atingido com os cortes), que a comunidade acadêmica produz conteúdos de ampla relevância social.

Universidades e institutos cearenses estão se mobilizando

No Ceará, estudantes também criaram os perfis no Instagram, chegando à alcances surpreendentes - o perfil da Universidade Federal do Ceará (UFC), por exemplo, passou dos 10 mil seguidores em 24 horas. Foi em um laboratório de informática no Departamento de Jornalismo da UFC que os estudantes de Comunicação Social - Jornalismo e Publicidade, Karyne Lane Mateus Sales e Yago Oliveira, terminavam de criar, na tarde da terça, 6, a logotipo do perfil Bálburdia na UFC.

Desde então, os três estão se organizando para conseguir atender as demandas das publicações. “A repercussão tá gigantesca! Nós jamais imaginávamos tamanha resposta da comunidade, não só do Ceará, mas de todo o Brasil. Meu coração fica aquecido ao ver que estamos, pouco a pouco, de seguidor em seguidor, de compartilhamento em compartilhamento, conseguindo conversar com diferentes pessoas, de diferentes lugares.”, conta, Mateus, emocionado.

A ideia surgiu a partir de iniciativas de outras universidades do Brasil, somada à preocupação com o futuro de seus cursos, mas também com o cenário político nacional. “Não saber o que vai acontecer ou ficar imaginando situações graves, como o aumento do valor do RU (Restaurante Universitário), o corte de bolsas, que já é uma realidade, a diminuição do orçamento que a universidade precisa para funcionar plenamente é uma coisa que atinge a gente diretamente”, conta Karyne. Em nota publicada na última terça, 7, o reitor atual da UFC, Henry Campos, questionou os cortes promovidos pelo MEC e afirmou que eles inviabilizam a Universidade, que é a 11° melhor universidade do Brasil.

Os cortes, segundo a estudante, vão comprometer a entrada e permanência de quem acessa o ensino superior através de políticas de assistência, como as bolsas estudantis. “A gente começa a excluir [com os cortes] setores que já são excluídos na sociedade, cuja importância é imensurável. A importância de uma pessoa negra, de uma pessoa LGBT dentro de salas de aulas e espaços de discussão, por exemplo. Isso tudo está em jogo", desabafa.

Yago Oliveira, estudante de Publicidade e gerenciador do Balbúrdia na UFC, espera que o perfil seja ainda mais repercutido, pois as pessoas precisam conhecer o que eles produzem, que são “trabalhos incríveis”, como reconhece o jovem. “Temos muito orgulho da universidade que a gente estuda, de saber que existem tantos projetos incríveis. Toda vida que eu olho pra um projeto e começo a ler sobre o que ele trabalha, eu fico "caramba, que trabalho incrível'’, que eu não conhecia, porque muitos trabalhos a gente acaba nem conhecendo, pela universidade ser tão grande”, revela.

Apesar de ter sido inspiração para Karyne, o Balbúrdia na UFCA Universidade Federal do Cariri) também é resultado da onda de criação desses perfis por todo o Brasil, em uma cadeia que engloba mobilização por parte de diversas instituições federais. Rodrigo Manfredini, estudante de Filosofia na UFCA, conta que a principal reivindicação é aproximar a população ao que vem sendo produzido pela universidade, a fim de “defender a universidade diante dos bloqueios, cortes e contingenciamentos de orçamento”, explica.

Ele e outros cinco estudantes propuseram a iniciativa por acreditar que ela refuta o ministro, mostrando que esses cursos apresentam resultados à sociedade através das pesquisas, por exemplo. “A universidade é um investimento. Um investimento que tem um retorno social. Então, a publicização desses projetos e dessas ações são muito importantes para conquistar a população pro nosso lado”, conta.

A repercussão, segundo Rodrigo, tem sido muito boa. O Balbúrdia UFCA, em menos de 24 horas, está chegando à 1.500 seguidores, quase metade dos estudantes da universidade, que somam um pouco mais de 4 mil. O sentimento do estudante é de esperança. “Tem muita gente disposta a lutar pela universidade, indignada com isso [os cortes], principalmente pessoas que possivelmente votaram no Jair Bolsonaro, depositaram confiança nele, e agora estão arrependidos. O que está em jogo é o futuro da educação pública, então a gente tem que lutar por isso”, reforça.

Instituto Federal do Ceará (IFCE) e Universidade Estadual do Ceará (UECE) também participam da ação. Confira os projetos divulgados nos perfis da UFC, UFCA, IFCE E UECE.