Novo aterro da Beira Mar terá impacto no Icaraí? Pode atrair tubarões? Veja o que diz estudo técnico

Projeto da Prefeitura de Fortaleza é de engordar a faixa de areia da Beira Mar avançando 80 metros mar adentro, em extensão de 1,2 mil metros

23:01 | Abr. 11, 2019

Por: Wanderson Trindade
Projeto da Prefeitura de Fortaleza é de engordar a faixa de areia da Beira Mar avançando 80 metros mar adentro, em extensão de 1,2 mil metros (foto: Divulgação)

O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), assinará nesta sexta-feira, 12, a ordem de serviço que vai dar início às obras para o novo aterro da Beira Mar – projeto que visa uma série de modificações urbanísticas no local, como o avanço de faixa de areia ao mar. Diante das modificações a serem realizadas, questionamentos acerca dos impactos ambientais são feitos à Prefeitura. Parecer técnico, no entanto, justifica que não haverá degradação da costa marítima nem da Capital nem de cidades vizinhas.

Na proposta da Prefeitura, o futuro aterro deverá avançar 80 metros mar adentro, tendo extensão de 1,2 mil metros – os quais correspondem ao espaço entre os espigões das avenidas Rui Barbosa e Desembargador Moreira. Responsável pela elaboração de documento que prevê os riscos ambientais do projeto, Fábio Perdigão Vasconcelos informa que a obra vai ser benéfica para o local.

Também professor de Geografia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), ele afasta suposições de que o plano arquitetônico possa degradar praias a oeste da Capital, como a do Icaraí, em Caucaia, por exemplo. O especialista diz que há, na verdade, uma “crença popular” de que modificações na orla desse lado de Fortaleza afetariam a cidade vizinha, em uma relação de causa e efeito. Segundo ele, essas “lendas urbanas” são difundidas na sociedade, e entre gestores daquela cidade, “sem critérios técnicos”.

Para a ampliação do aterro, serão colocados em torno de um milhão de metros cúbicos (m³) de areia no mar, o que seria massa “insignificante” em dimensão oceânica. “E isso não vai mexer com o nível do mar, nem vai fazer o mar invadir outras praias”, afirma Perdigão, observando que o avanço das águas no litoral de Caucaia acontece por conta de fatores como a fixação do Porto do Mucuripe, em 1939, e a urbanização e ocupação não planejadas nas orlas. O resultado dessas intervenções teria sido a diminuição do transporte natural de sedimentos (areia) pelas águas do mar.

No parecer técnico ambiental, Perdigão destaca que o Porto do Mucuripe criou uma “zona de sombra do quebra-mar” no litoral oeste, fazendo com que nessa região as ondas passassem a quebrar na muralha de pedras do ancoradouro. Portanto, não incidindo diretamente na areia. “Esse fator é decisivo para o entendimento dos processos erosivos locais e sua influência (ou não) na erosão das praias do município de Caucaia”, explica.

Em Fortaleza, para impedir que o mar avançasse, o professor conta que foram construídos diversos molhes, os conhecidos espigões, na orla da Capital. “E construir espigão não afeta em nada a praia do Icaraí, porque as praias de Fortaleza estão localizadas na zona de sombra do Mucuripe. Então, se não tem onda nesse local, não tem transporte de sedimento”, aponta.

Desta forma, o engordamento da faixa de areia proposto pela Prefeitura seria uma forma de “recuperar a degradação” do litoral. “Não há nenhum impacto negativo na construção do novo aterro, porque vão estar colocando areia no local e não retirando-a. Esses sedimentos, inclusive, vão alimentar o próprio Icaraí, durante o movimento das águas”, projeta.

Para tentar resolver o problema na cidade vizinha, o professor da Uece indica uma proposta que já havia sido pensada em 1963: instalar uma draga permanente no Mucuripe – que se trata de uma embarcação ou estrutura flutuante destinada a retirar areia, lama ou lodo do fundo do mar. “O equipamento iria servir para lançar areia à Praia de Iracema, que iria passar adiante. Não quiseram fazer porque seria um gasto muito grande. O resultado disso foi um processo de erosão ao oeste”, descreve.

Risco de tubarões

Questionado se o engordamento da faixa de areia do aterro da Beira Mar atrairia tubarões assim como acontece em praias de Recife, o professor Fábio Perdigão descarta a hipótese. Segundo ele, o que houve de diferente no mar da capital pernambucana foi a instalação de um terminal pesqueiro no porto marítimo.

“O terminal pesqueiro de Recife começou a jogar muita carcaça de peixe no mar, o que atraiu os tubarões, que criaram habitat por lá”, minimiza, ponderando em seguida: “Se houver alguma migração de tubarão para Fortaleza não seria por causa do aterro”.