Marcha alerta para a importância do diagnóstico da endometriose

A Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose (EndoMarcha) foi realizada na manhã de ontem, na Praça do Ferreira, e em outras 20 cidades do Brasil

"Escutem as mulheres! Escutem a dor das mulheres!". Uma performance no meio da Praça do Ferreira, no Centro, na manhã de ontem, fez alerta para os sintomas de uma doença que afeta de 10% a 15% das mulheres em idade fértil no mundo. A apresentação fez parte da Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose (EndoMarcha), realizada em 70 países. Além da dificuldade no diagnóstico, o tratamento também é de difícil acesso e demanda políticas públicas.

Apesar da alta prevalência, a endometriose só é diagnosticada depois de sete a dez anos. Em 57,3 % dos casos, o diagnóstico só ocorre após a terceira opinião médica, conforme o Grupo de Apoio às Portadoras de Endometriose e Infertilidade (Gapendi). A enfermidade é crônica, pode ter caráter progressivo e, em casos mais graves, pode causar infertilidade.

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"Eu sou uma daquelas mulheres que menstruou aos 13 anos e teve dor até os 35, um diagnóstico tardio. Já passei por duas cirurgias de endometriose, tive uma gravidez com aborto. Esse processo todo foi registrado em forma de diário que virou um livro publicado em 2013, no mês que nasceria o bebê. E nasceu o projeto Mulheres e Novelos", relata Tatiana Zylberberg docente do Instituto de Educação Física e Esportes (Iefes) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

"O projeto é uma metáfora daquilo que embaralha por dentro do corpo e embaralha a vida por fora. Nesse movimento, vi que outras linguagens faziam com que as mulheres compreendessem e que ao redor delas pudesse ser mais acolhedora", explica a criadora da perfomance Um fio por vez.

A ginecologista Kathiane Lustosa, coordenadora do Setor de Dor Pélvica e Endometriose da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), explica que a endometriose é quando o endométrio - camada de dentro do útero que sai todo mês na menstruação - cresce fora do útero. "Começa a crescer em outros órgãos. E esse tecido tem um caráter inflamatório e, quando é ativado na menstruação, causa muita dor. Depois a dor passa a ser não só na menstruação. Uma dor forte que faz a paciente ir para o hospital, faltar trabalho, faltar colégio".

O alerta para os principais sintomas pode ser feito com os seis D's: dismenorreia (cólica menstrual); dispareunia (dor na relação sexual); dor pélvica crônica fora do período menstrual; dor na hora de evacuar e alterações intestinais como constipação ou diarréia durante a menstruação; alterações urinárias como dor para fazer xixi e incontinência urinária no período menstrual; e dificuldade de engravidar.

"A gente tá fazendo uma pesquisa qualitativa do porquê desse atraso no diagnóstico e notamos o cunho sexista. A mulher chega na emergência ou no consultório e a dor é encarada como 'normal, uma besteira'. Essas falas existem e são comuns para a maioria das mulheres que passaram anos para ter o diagnóstico. Existe um preconceito de que dor é normal e dor não é normal", frisa. As consequências da doença também têm repercussões, como ansiedade, depressão e diminuição da função sexual. Além do diagnóstico clínico, casos mais profundos da doença são detectáveis por meio do ultrassom transvaginal e ressonância, ambos com mapeamento específico para a endometriose.

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