Moradores do Conjunto Palmeiras II vivem sob ameaça de nova enchente
Nível da água está subindo e já começa a atingir outros bairros
19:07 | Mar. 10, 2019
Residentes do Conjunto Palmeiras II vivem sob a ameaça de nova enchente na região. De acordo com moradores, um dos guardas da barragem do Rio Cocó avisou-lhes sobre a possibilidade de abertura de mais uma das três comportas da represa ― uma delas já está desobstruída. A justificativa, segundo ele, seria o nível da água do equipamento no qual tem subido com as chuvas dos últimos dias.
Desempregada, Rosineide Golveia é mãe de uma menina com microcefalia. "A minha casa está toda brejada,os móveis todos molhados. Fica bem difícil de ficar em casa, não vou abandonar, porque é o que eu tenho. Perdi tudo. Os objetos dela de limpeza, os vizinhos que ajudaram. Ninguém apareceu. Até os leites da minha filha ficaram boiando. Eu não posso fazer nada, eu tenho uma filha especial”. Rosineide ainda tem outras duas crianças.
O pedreiro Raimundo Ferreira, de 53 anos, deixou a residência na manhã deste domingo, 10. “Na minha casa já tem meio metro (de água) lá dentro. A enchente começou de manhã. Da outra vez que foi cheio, não deu tempo de tirar nada. Ficou tudo submerso. O prefeito veio só até o Cuca, disse que ia beneficiar quem morava na beira do canal. Até agora, nada. Essa próxima (inundação) vai ser maior. A água não tá escoando, agora tá acumulando”, relata sobre a situação da barragem do Rio Cocó, onde esteve presente na manhã de hoje.
Veja vídeo com nível da água já elevado na manhã deste domingo:
Doente de uma grave pneumonia, Raimunda Nonato, de 66 anos, mora próximo ao rio. “Não temos mais nada. Só salvamos uma televisão. Agora, é orar a Deus e pedir sorte. Só ele por nós e mais ninguém”. De acordo com a ribeirinha, a visita da Defesa Civil ainda não ocorreu. “Não é primeira vez que eles prometem, prometem, prometem e nada. Há 15 anos, eles disseram que íamos sair. Saiu um, dois, três, os outros estão aí. Nós não temos nada. Só a vida”, lamenta com a voz ofegante.
Joana Pereira, 43, dona de casa, mora a 400 metros da beira do rio Cocó. Além dela, residem cinco crianças e uma gestante. “Minha casa está toda rachada. A Defesa Civil chegou e só condenou um muro, não fez mais nada. A ajuda vem da igreja”. De acordo com ela, o nível da água do canal é monitorado pelos próprios moradores. “Um vai olhar, outro chama. Um cuida do outro. Eu passei uma semana comendo na casa dos vizinhos. Está todo mundo na expectativa, se chover mais, para levantar tudo”, descreve.
Integrante da Associação das Mulheres em Movimento, Patrícia Freire afirma que moradores de ruas mais prejudicadas como a Prado e a 30 de dezembro ainda carecem de visitas de representantes da Defesa Civil do Município. Articulados por meio do WhatsApp, os residentes trocam informações sobre o estado das ruas e o nível da água. Patrícia afirma que a água já começa a atingir o São Cristóvão, bairro vizinho ao Conjunto Palmeiras 2.
No último 24 de fevereiro, a mesma região foi afetada por uma enchente após cheia na barragem do Rio Cocó. A água deixou dezenas de famílias desabrigadas. Os prejudicados foram levados ao Cuca Jangurussu e para uma escola no bairro João Paulo II. Em 1° de março, não havia famílias nos locais cedidos pela prefeitura. À época, um cadastro foi realizado para auxiliar financeiramente às vítimas.
De acordo com o coordenador das Regionais e da Quadra Chuvosa, Renato Lima, a visita às famílias prejudicadas pela enchente é uma atividade em execução. “Iniciou no dia 1° de março. Continuou por essa semana, após o Carnaval, e irá continuar na próxima, seguindo até o fim do mês, quando todas as famílias visitadas forem aprovadas e devem receber o auxílio”. A ajuda, aprovada pela Câmara Municipal de Fortaleza, prevê auxílio de até R$ 1 mil aos atingidos.
A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) informa que o Rio Cocó está transbordando 20 cm de água. Segundo a Companhia, o volume de água que está indo para o rio é o que está extravasando. Em nota, o órgão descarta alterações nas comportas. “A água continua sendo liberada em vazões mínimas. A Cogerh trabalha alinhada com a defesa civil para fazer a liberação controlada da água e aguarda direcionamento para fazer a operação das comportas”.
Com informações do repórter Nut Pereira