Famílias desabrigadas dormem em colchonetes na arquibancada e têm comida duas vezes ao dia
15:42 | Fev. 28, 2019
Famílias do Grande Jangurussu que ficaram desabrigadas após as chuvas do último fim de semana permanecem dormindo no Cuca Jangurussu. As pessoas dormem sobre finos colchonetes cedidos pela Defesa Civil e acomodados na arquibancada da quadra. A alimentação é fornecida duas vezes ao dia. O POVO Online esteve no local na manhã desta quinta-feira, 28, e conversou com os abrigados e voluntários.
No domingo, cerca de cem pessoas chegaram à instituição e até esta quinta-feira, muitas delas continuavam abrigada ali. De acordo com os abrigados, cada família está sendo acompanhada por agentes da Defesa Civil até sua casa para ver se tem condições de voltarem. “Estão indo de cinco em cinco famílias hoje. E não deixam mais ninguém entrar”, conta Ana Lúcia, 48, que está abrigada e cuida da organização das famílias e das doações que chegam.
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Durante o tempo em que estão no Cuca por não terem para onde ir, as famílias, incluindo crianças e idosos, dormem sobre finos colchonetes cedidos pela Defesa Civil e acomodados na arquibancada da quadra. O espaço é quente dia e noite e, quando chove, também molha pela goteiras que existem no local.
“Muitas casas ainda estão com água e lama dentro. A minha mesmo está. Só fiz trancar para não roubarem e vim para cá”, relata Ricardo Morais, 47, morador do bairro Barroso. Sua esposa e filhos foram para o interior. Vitória Silvestre, 17, foi com o companheiro e a filha de um ano para a quadra do Cuca, onde as famílias estão acomodadas. “Nós perdemos tudo o que tinha dentro de casa e viemos para cá”, conta. “Minha filha está ficando doente, com febre e gripada por causa do calor aqui dentro. Tudo o que era dela eu perdi.”
A alimentação restrita a duas vezes ao dia e é uma das reclamações das famílias. “Se não fossem as doações que chegam cedo com a comunidade, as mamadeiras de mingau para as crianças e o café, a gente passava sem comida”, conta Ricardo. “A Defesa Civil guarda as quentinhas que sobram do almoço e entrega na janta. Aí azeda. E o pessoal come para não morrer de fome. Uma moça aqui está passando mal por conta disso, com diarreia e vomitando. E ela não é a única”, conta Vitória.
Marcília Cordeiro, 34, é atleta no Cuca e faz parte dos grupos de voluntários que estão arrecadando os materiais que as famílias precisam. Além dela, alunos e professores da instituição, moradores da comunidade e uma igreja próxima têm auxiliado no dia a dia dos abrigados.
Uma comissão de moradores dos bairros atingidos também foi organizada para auxiliar as famílias. Uma das líderes da comissão explicou ao O POVO Online que a comunidade vive um dilema: as pessoas precisam de suprimentos, mas esses estão sendo entregues pelo poder público somente para quem se abrigou no Cuca. Ao mesmo tempo, o kit ofertado pela Defesa Civil - com uma cesta básica, uma manta, uma rede, um colchete e algumas roupas - também faz falta a essas famílias e para recebê-los elas precisam estar nas suas casas. “Mas muitas casas continuam muito sujas e essas pessoas não têm nem os materiais para limpar, nem móveis ou utensílios domésticos”, explica.
Cristiano Ferrer, coordenador da Defesa Civil presente no local, assegurou que as ações estão sendo realizadas em cinco frentes: acolhimento, acompanhamento das famílias, entrega de materiais, limpeza das ruas e cadastramento. O cadastro dos atingidos estava acontecendo no Cuca Jangurussu até esta manhã e foi “descentralizado” para o Conjunto Palmeiras e o bairro João Paulo II. Cruz Vermelha, Secretaria de Saúde, Rede Cuca e Secretaria Municipal dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) estão em força conjunta para cuidar dos impactos dessa maior chuva do ano até o momento.
Os estragos da chuva
A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) registrou acúmulo de 120,3 milímetros entre as 7 horas de sábado, 23, e o mesmo horário de domingo, 24. Essa foi a maior chuva deste ano.
Segundo a Prefeitura, o bairro João Paulo II, o Grande Jangurussu - incluindo o Conjunto Palmeiras - e algumas áreas próximas ao rio Maranguapinho foram as mais afetadas pelas precipitações. Moradores contam que em alguns trechos a água chegou a subir cerca de dois metros e muitas famílias perderam tudo. Até esta quinta-feira, 28, é possível encontrar móveis, colchões, eletrodomésticos e roupas danificados e acumulados nas calçadas.
Vereadores de Fortaleza aprovaram, na tarde dessa quarta-feira, 27, projeto que autoriza o Município a destinar auxílio financeiro de até R$ 1 mil às pessoas que tiveram residências alagadas na Capital. O auxílio será concedido às famílias que comprovadamente tiverem bens, móveis ou utensílios danificados por ação das águas da chuva e estiverem no levantamento e apuração da Coordenadoria Especial de Proteção e Defesa Civil ou da Comissão Especial instituída pelo Poder Executivo.
Serviço
O Projeto Reintegrar está recebendo doações de artigos de higiene pessoal, produtos de limpeza, roupas e alimentos para a população atingida
Endereço: rua Quatrocentos e Seis, 309 - Jangurussu
Contato: (85) 98933-0249
Mais informações em https://www.instagram.com/projetoreintegrar/