Ordem sobre como matar mulheres foi dada de presídio por telefone, diz réu
O crime ocorreu no dia 2 de março do ano passado; os acusados são levados a júri popular
12:02 | Fev. 27, 2019
Atualizada às 15h15
Cinco de seis membros da facção Guardiões do Estado (GDE) acusados de tortura e esquartejamento de três mulheres são julgados na manhã desta quarta-feira, 27, por júri popular. O crime ocorreu no dia 2 de março do ano passado, no bairro Vila Velha.
O julgamento teve início com interrogatório dos cinco réus, com tempo livre. Depois, haverá debate de 2h30min para que sejam apresentados os argumentos de acusação e defesa.
O caso é julgado na 3ª Vara do Júri, do Fórum Clóvis Beviláqua. Os réus são: Francisco Robson de Souza Gomes, o Mitol; Bruno Araújo de Oliveira, Jeilson Lopes Pires, Júlio César Clemente Silva e Rogério Araújo de Freitas.
Jonathan Lopes Clemente, outro acusado, não será julgado hoje por ter sido preso depois dos outros. Ele não havia sido encontrado à época da notificação. A decisão de julgá-lo depois se deu para que o julgamento de hoje não fosse atrasado.
Acompanhe abaixo o andamento do julgamento:
Bruno Araújo de Oliveira
O primeiro interrogado é Bruno Araújo de Oliveira, 24 anos. Ele estudou até a sexta série e trabalhava como servente de pedreiro. Ele afirmou conhecer os outros réus de infância (com exceção de Mitol), por morarem no mesmo bairro, mas não conhecia as vítimas.
"Eu mesmo não participei desse crime. Eu tava na minha casa, onde teve uma operação, vieram na minha casa me interrogar, me torturar (pela polícia). Eu decidi informar onde essas pessoas estavam (as vítimas). Fui até o local (mangue) por curiosidade. A polícia foi na minha casa, talvez, porque eu já tinha passagem", disse Bruno.
Jeilson Lopes Pires
Jeilson, 22 anos, é o segundo interrogado. Ele trabalhava em uma lanchonete com o pai e ajudava nos serviços de uma oficina. É irmão de Jonathan. Ele diz não conhecer as vítimas e que nem chegou a ir ao local para ver os corpos.
"O que era falado na rua é que elas morreram porque eram do Comando Vermelho. Não faço parte de nenhuma facção criminosa. Fazia parte da gangue dos gafanhotos quando era mais novo, tinha uns 16 anos. Fiz até uma tatuagem de gafanhoto na barriga", disse no interrogatório.
Júlio Cesar Clemente
De 29 anos, o terceiro interrogado trabalhava ajudando a mãe com costura em casa. Ele conhecia todos os outros réus, incluindo Mitol. "Eu tava presente, com as duas meninas enquanto eles torturavam outra. Falaram eu 'pastorar' elas já que eu não queria fazer nada", disse.
"Bruno começou a cortar, mas todos participaram. Quando cortaram as cabeças, elas ainda estavam vivas, agonizando. Cheguei a me batizar na GDE. Mataram a 'loirona sapatão' porque ela é batizada no CV. Outra mataram porque era mulher dela. E a terceira morreu para não deixar testemunha", continuou.
O POVO Online também apurou que Júlio havia entregado outras pessoas que participaram do crime e não estariam entre os seis acusados até então.
Júlio diz não saber como as vítimas foram levadas para o mangue, e que os interrogadores "não teriam noção" do número de pessoas que o Mitol já mandou matar. Ele afirma não ter tentado impedir o crime por medo de ser morto.
"Eu contei tudo porque não vou responder por algo que eu não fiz. Eu tenho vontade de sair da facção, mas, se eu sair, vou ser decretado porque a gente sabe que isso acontece", contou.
Rogério Araújo de Freitas
O homem de 26 anos é o primeiro que declara não saber ler. Todas as vezes que foi perguntado, respondeu que "prefere ficar em silêncio".
Francisco Robson de Souza Gomes
Por videoconferência, Francisco Robson de Souza, conhecido como "Mitol", negou qualquer participação no crime. "Eu não sou nenhum traficante, não sou nenhuma liderança para ter mandado esse crime. Se eu tivesse esse poder, eu teria um advogado próprio. Desde 2013 eu me encontro no cárcere. Em momento algum eu fiz parte de facção. Em momento algum eu iria ordenar, do cárcere, ter tirado a vida de alguém", declarou.
Ele é considerado o mandante do crime e líder da facção na região. Durante os interrogatórios, foi citado inclusive que ele estaria em uma ligação telefônica, durante o crime, com um dos réus dizendo como se daria o esquartejamento das vítimas.
Procedimento
Após o interrogatório de todos os réus, falarão o Ministério Público (MPCE) e a defesa, seguindo de réplica do MP e tréplica da defesa. Por fim, o caso será julgado.
A acusação argumenta que os réus devem responder por homicídio qualificado, por crueldade, torpeza, e impossibilidade de defesa da vítima, tortura e porte ilegal de arma, além de associação com organização criminosa. A Mitol acrescentam o fato de ser líder da organização.
Não é pedido tempo de prisão, apenas condenação pelos crimes. A acusação argumenta ainda que Mitol tem muitos antecedentes, com processos em todas as varas do júri.
Relembre o caso
De dentro do presídio, Mitol, líder do grupo, ordenou a morte da vítima Nara Aline Mota, por fazer parte do Comando Vermelho. As outras duas vítimas, Darcyelle Ancelmo de Alencar e Ingrid Teixeira Ferreira teriam sido mortas por estarem na casa de Nara.
Segundo aponta a denúncia do Ministério Público e o inquérito policial, as vítimas foram foram levadas para o mangue do rio Ceará, onde foram mortas.
Ingrid e Nara foram decapitadas ainda vivas. Já Darcyelle, segundo laudo cadavérico, foi decapitada depois de levar um tiro no crânio.
As cenas de horror foram gravadas e divulgadas nas redes sociais pelos próprios criminosos.