Retrospectiva 2018: chacinas, abordagens desastradas e queda de homicídios marcam ano da segurança
O ano foi de contrastes na segurança pública do Ceará. A partir de abril, teve início trajetória de redução dos índices de homicídios. Por outro lado, o Estado ganho destaque nacional com grandes chacinas e matança de líderes de facções criminosas. Abordagens policiais desastradas também marcaram o ano
15:30 | Dez. 03, 2018
O ano de 2018 foi de contrastes na segurança pública do Ceará. Ao mesmo tempo que números divulgados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) apontaram queda nos homicídios, o Ceará se deparou ao longo do ano com crimes violentos e nove chacinas. Entre elas, a maior da história do Estado, com 14 mortos. O Estado também chamou atenção do Brasil com a execução de dois líderes nacionais da facção Primeiro Comando da Capital, em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza.
Erros e condutas abusivas de policiais chamaram atenção e levaram a mortes, inclusive, a de um cabo da Polícia. Casos envolvendo facções e feminicídios foram recorrentes.
O POVO Online inicia hoje a retrospectiva de 2018. O primeiro tema escolhido é um que mexe diretamente com o cotidiano dos cearenses: a violência.
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ANO DE CHACINAS
Foram nove chacinas ao longo do ano, com 53 mortos:
A primeira delas no dia 7 de janeiro, em Maranguape. Fontes relataram ao O POVO que a chacina foi causado por rivalidade entre grupos criminosos. O imóvel, por ficar em um local ermo, era utilizado pelas vítimas como esconderijo após a realização de assaltos e tinha em suas paredes inscrições de uma facção criminosa.
Em cerca de dez minutos, 14 pessoas foram assassinadas, em um mesmo local, na maior chacina da história do Ceará. O massacre ocorreu na primeira hora da madrugada de 27 de janeiro, no bairro Cajazeiras. O "Forró do Gago" foi interrompido pelos disparos. Os algozes caminharam pela rua até o local da festa, disparando a esmo, determinando vítimas e sobreviventes. E perseguindo quem tentava escapar dos tiros.
Menos de 72 horas após a maior chacina já registrada no Ceará, as forças da segurança pública do Ceará registraram novo massacre. Agora, em Itapajé, a 124,2 km de Fortaleza, em 29 de janeiro.. A rebelião deixou pelo menos dez homens mortos e outros oito feridos. O massacre ocorreu dentro da Cadeia Pública do Município.
Sete pessoas foram mortas na quarta chacina do ano no Ceará. Na noite de sexta-feira, 9 de março, no bairro Benfica, em Fortaleza, grupo armado usou dois veículos para promover o massacre na Praça da Gentilândia, na sede da Torcida Uniformizada do Fortaleza (TUF) e na rua Joaquim Magalhães.
Tiroteio deixou quatro mortos e um ferido em Quixeramobim, município a 204 km de Fortaleza. Os assassinatos aconteceram na noite de 28 de junho, por volta das 20 horas. Foram mortos três mulheres e um homem. Outro homem ficou ferido na perna.
Em 13 de julho, homens que estariam caçando em serra de difícil acesso em Palmácia foram assasinados por pessoas encapuzadas. As vítimas foram um pai, um filho e três amigos. O massacre, ocorrido na localidade de Cafundó, teria sido motivado por vingança pela tentativa de estupro de uma menina.
Um dia depois da chacina em Palmácia, quatro pessoas foram mortas em Quiterianópolis, no dia 14 de julho. Homens armados invadiram a residência das vítimas efetuando os disparos com armas de fogo. Morreram dois irmãos gêmeos, a mãe e o tio deles.
A oitava chacina do ano teve policiais como vítimas. Três policiais militares foram executados em bar do bairro Vila Manoel Sátiro, no início da tarde de 23 de agosto. Eles estavam à paisana, almoçando no estabelecimento, quando foram surpreendidos por homens armados, que chegaram em um carro Volkswagen Voyage, de cor preta.
Um ataque de facção criminosa terminou com duas pessoas mortas e outras três lesionadas à bala, no bairro Manoel Dias Branco. O caso ocorreu no dia 6 de dezembro. Investigações apontam que as vítimas foram surpreendidas pelos criminosos que chegaram em um veículo e efetuaram disparos.
REDUÇÃO DOS HOMICÍCIOS
Os primeiros meses do ano, puxados pelas chacinas, seguiram a tendência de aumento dos homicídios, que vinha desde 2017. A partir de março, houve redução em Fortaleza. De abril em diante, a tendência de queda foi observada no conjunto do Estado:
Foram 482 assassinatos, média superior a 15 hoimicídios por dia. Sõ ficou atrás de outubro de 2017, quando morreram 516 pessoas.
Foram 21 homicídios na Capital entre as 18 horas da sexta-feira e as 6 horas da Quarta-Feira de Cinzas. Em 2017, 10 mortes haviam sido registradas no mesmo período.
A alta foi de 34,9% na comparação com 2017.
A redução foi de 13,6% na Capital. No total do Ceará, aumento de 15,6%.
Durante o mês de abril, foram 2,6% a menos de homicídios que no mesmo mês do ano passado. Embora discreta, a redução é a primeira no Estado desde fevereiro de 2017. No acumulado dos primeiros quatro meses do ano, todavia, o Estado acumulou alta nos homicídios de 20,1%.
No acumulado de janeiro a outubro, foram registradas em todo o Estado 3.863 mortes do tipo, uma queda de 8,2% em comparação com as 4.209 ocorrências no mesmo período de 2017.
[FOTO3]ABORDAGENS DESASTRADAS
Erros policiais e conduta abusiva por parte de profissionais de segurança também marcaram o ano.
Perseguição policial na avenida Washigton Soares terminou com a morte de Giselle Távora Araújou, de 42 anos. A abordagem aconteceu na noite de segunda-feira, 11 de junho. Policiais receberam denúncia de um carro que foi roubado e avistaram veículo com as mesmas características: HB 20 branco. A motorista foi baleada nas costas. Um dos policiais disse que a intenção era acertar no pneu. Ela estava com a filha dentro do carro.
Jogador de sinuca é morto após perseguição policial; PMs não acham armas e inquérito será instaurado
Morreu na madrugada de 1º de agosto, no município de Campos Sales (a 504 km de Fortaleza), o jogador de sinuca José Messias Guedes Oliveira, de 35 anos. Ele foi morto em abordagem policial. Além de Oliveira, um passageiro foi ferido de raspão no pescoço. O taco de sinuca transportado no veículo teria sifo confundido com arma.
No vídeo, de 1 minuto e 21 segundos, policial segura a vítima, um adolescente de 15 anos, enquanto o outro faz a prática do afogamento simulado (totura na qual a água despejada sobre o pano na face inunda os pulmões e a vítima sufoca lentamente). O terceiro observa o crime de perto e outros dois aparecem no entorno. O vídeo foi gravado em 28 de agosto.
O cabo da Polícia Militar Paulo Alberto Marques Albuquerque foi assaltado e reagiu com disparos contra os criminosos. Ao escutar tiros, uma viatura da Policiamento Ostensivo Geral (POG) que passava pelas proximidades se dirigiu à rua e disparou contra o PM, que pensaram ser assaltante. O episódio se passou em 28 de agosto.
MORTES DE POLICIAIS
[FOTO4]O número de policiais mortos chegou a ser também o maior do Nordeste. Foram pelo menos 10 mortes de profissionais a paisana ou em serviço.
Ceará é o estado em que mais morreram policiais no Nordeste nos últimos anos. Segundo a SSPDS apenas um dos policiais assassinados estava de serviço. Ele foi morto ao voltar do trabalho para casa.
Raimundo da Silva Neto era lotado no Eusébio (Região Metropolitana de Fortaleza) e estava a caminho da terra natal.
O PM estava acompanhado de seu cunhado, que também foi atingido.
Houve também aumento do número de mortes em ações da Polícia: 182 de janeiro a outubro. Em 2017, nos 12 meses, foram 161 mortes. Em apenas uma dessas ações, morreram os seis homens que trocaram tiros com a Polícia em ataque a carro-forte.
[FOTO5]FEMINICÍDIO
Feminicídios e assassinato de mulheres foram recorrentes durante o ano, sendo o Ceará o 3º estado que mais matou mulheres. O caso de Stefhani Brito, que foi morta por ex-companheiro e teve seu corpo carregado pelo assassino na garupa de uma moto no bairro Mondubim em janeiro deste ano, foi um dos mais conhecidos.
No primeiro dia do ano, os moradores do Mondubim ficaram horrorizados com um homem que transitava de moto com uma mulher morta e cheia de hematomas na garupa da moto.
Segundo testemunhas, Silvany Sousa estava sentada em um banco da praça quando o suspeito, identificado como Elson Siebra de Deus, 47, chegou ao local e efetuou disparos contra a vítima. O crime foi em 19 de agosto.
Patrícia Vieira da Silva, 34, e Maria Genaci Pereira, 57, foram mortas a facadas na madrugada de 20 de setembro, no município de Iguatu, a 360,1 km de Fortaleza. Segundo a Polícia Militar, o crime foi cometido por Irisvan Rodrigues da Silva. Patrícia era ex-companheira dele, que não aceitava o fim do relacionamento e por isso teria cometido o crime. Mãe e filha foram vítimas do feminicídio, tipo de crime que tem crescido no Ceará.
O ex-namorado, segundo relato de amigos e familiares da vítima à Polícia, ameaçava a jovem nas redes sociais.
Número engloba período de janeiro a agosto e inclui casos de homicídio doloso, feminicídio, lesão corporal seguida de morte e latrocínio. São 15 os tipificados como feminicídio neste intervalo.
Entre as tendências observadas no Anuário Brasileiro da Segurança Pública está o crescimento no número de mortes de mulheres, incluindo feminicídios - crimes motivados pela vítima ser do sexo feminino. E o Ceará aparece nas primeiras posições do ranking.