MPF apura "organização de polícia ideológica" e "ação antifascista" na Uece
Estudantes afirmam desconhecer práticas agressivas por parte de professores ou alunos no ambiente universitário e destacam o diálogo como espírito filosófico
14:29 | Nov. 27, 2018
Atualizada às 17h20min
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Suposta “organização de polícia ideológica” e “ação antifacista” na Universidade Estadual do Ceará (Uece) é alvo de apuração pelo Ministério Público Federal (MPF). De acordo com ofício endereçado ao coordenador do Centro de Humanidades (CH), atos de violência e intolerância política e religiosa aconteceram no centro, especialmente no espaço do curso de Filosofia.
A representação estudantil repudia a denúncia apresentada ao MPF e destaca abertura ao diálogo e respeito frente a opiniões divergentes dentro do ambiente universitário.
Os esclarecimentos foram solicitados pela procuradora da República, titular do Núcleo da Tutela Coletiva, Nilce Cunha Rodrigues. "Deve ser esclarecido sobre a existência de uma organização de polícia ideológica e de uma ação antifacista Uece-CH-Fortaleza, organizada por professores e alunos, com intensa atuação ameaçadora presencialmente e pelas redes sociais", solicita o documento. De acordo com a assessoria de comunicação do MPF, a representação foi apresentada por mais de uma pessoa. Os termos mencionados são so que estavam presentes na denúncia.
A assessoria do MPF ressalta que, quando o órgão recebe uma denúncia, antes de ajuizar qualquer ação ou arquivar a representação, faz apuração mínima para saber se há algum fundamento. É nesse estágio em que está a iniciativa do MPF. Diferentemente do informado inicialmente, não há, até o momento, ação ajuizada pelo MPF.
O vereador Acrísio Sena (PT) leu, na manhã desta terça, 27, durante a sessão da Câmara Municipal de Fortaleza, nota da Associação Nacional de História (Anpuh-Ceará) que protesta contra a iniciativa. Na nota, a entidade presta solidariedade aos professores e afirma que a denúncia "parece retomar as operações da justiça eleitoral executadas contra universidades públicas proibindo debates e reflexões". O vereador cobrou respeito à autonomia universitária.
[SAIBAMAIS]
O Centro Acadêmico de Filosofia (Cafil) da Uece, representação dos estudantes do curso, deve lançar nota de posicionamento na tarde desta terça-feira, 27, sobre o assunto. Em entrevista ao O POVO Online, um dos membros do Cafil destacou que houve diálogo com corpos docente e discente e o centro acadêmico não reconhece as ações apuradas pelo MPF. Segundo ele, não houve relato de agressão verbal ou física dentro do ambiente universitário que tenha partido de professores, alunos ou funcionários.
“Consideramos todos os tipos de opiniões, tanto à direito quanto à esquerda, respeitando o coletivo e a convivência entre os alunos. Há posturas políticas, mas nunca ninguém foi impedido de falar ou sabotado ou impedido de dar aula. Prezamos pela discussão de ideias. Se víssemos (as acusações feitas ao MPF) seríamos os primeiros a refutar atitudes agressivas, por mais que não concordermos”, destacou o aluno, que não quis ser identificado. Ele destacou ainda que há disciplinas no curso onde se discute teologia.
Para o estudante, há um movimento nacional que tem tentado limitar e cercear os passos e, muitas vezes, determinados fatos nem acontecem.