Professor denuncia agressão homofóbica e racista de apoiadores de Bolsonaro dentro da UFC
Comissão de Direitos Humanos da UFC presta solidariedade ao educador e ressalta preocupação com ambiente universitário, que "tem sido palco de reiterados confrontos que extrapolam os limites do debate saudável"
10:36 | Out. 18, 2018
O professor Júlio Araújo relata que foi vítima de agressões homofóbicas e racistas dentro da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde trabalha. Ele conta que na tarde do último dia 9 de outubro, uma terça-feira, foi abordado por quatro homens vestidos com camisas do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) que o ofenderam verbalmente.
Em uma postagem no Facebook, o professor descreveu a violência sofrida no momento em que tentava voltar para casa. Ele declara que enquanto encaminhava-se para seu carro, na garagem do Centro de Humanidades (CH) I, no bairro Benfica, os homens foram ao seu encontro dizendo expressões como: “bicha”, “viado”, “macaco” e “que todo negro tinha que morrer”.
“Sofri agressão de um rapaz, não sei se ele é aluno. Evitei olhá-lo no rosto. Mas, de relance, deu para perceber que é alto, branco e usa barba. Não olhei para o rosto porque fiquei com medo”, escreveu na rede social. “Ele deve saber quem eu sou porque disse em voz alta que ao me ver passar pelo bosque do CH I, queria ver como ficaria os professores viados e negros dessa porcaria de universidade após seu presidente assumir”, complementou.
Ao O POVO Online, Júlio afirmou que um dos agressores tentou cuspí-lo enquanto os demais tripudiavam da situação. “Parecia uma terça que não passava mais”, relembrou, comentando ainda que teve a sensação que os homens tentaram “apenas assustá-lo”. “Mas eu não ia ficar para comprovar esse sentimento”, informou. Boletim de Ocorrências foi registrado na Delegacia do 4º Distrito Policial.
A Comissão de Direitos Humanos da UFC lançou nota de solidariedade ao professor na última segunda-feira, 15. No texto, a instituição anuncia que não considera o caso como um “ataque isolado”, mas "fruto de um movimento que representa um profundo retrocesso”.
“Ressaltamos ainda nossa preocupação com o ambiente universitário, que tem sido palco de reiterados confrontos que extrapolam os limites do debate saudável e construtivo próprios de uma universidade pautada nos princípios da democracia, liberdade, pluralidade de ideias e respeito às diferenças”, comunica.
A postagem de Júlio no Facebook ganhou grande repercussão, recebendo mais de 2,5 mil reações e mais de 1,5 mil compartilhamentos. Com isso e em forma de solidariedade, professores, alunos e servidores da UFC organizaram um ato público no local do incidente.
Um dos organizadores foi o ex-candidato ao Governo do Ceará, Ailton Lopes (Psol), que afirmou que “foi um ato muito bonito não somente por causa do Júlio”, “mas também pela união em torno da preocupação com o cenário atual de nossa democracia”.
Primeiro postulante ao governo cearense autodeclarado gay, Ailton foi questionado pelo O POVO Online se a população LGBT e outros grupos considerados minorias estão com maior sensação de vulnerabilidade neste período eleitoral: “Além da sensação têm casos concretos. Em uma semana teve mais de 50 casos ocorridos por violência política. Tem sido mais difícil para as pessoas, pois elas podem morrer porque são gays, negras ou mesmo por simpatizarem por um partido político”, alertou.