Conheça os perfis das facções que atuam no Ceará

Alguma delas atuam como verdadeiras empresas, com sistema de hierarquia e setores de trabalho

14:15 | Mar. 27, 2018

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[FOTO1]Atualmente, quatro organizações criminosas dominam o Estado. A reportagem do O POVO apurou e esclareceu como essas facções funcionam, quando surgiram, quais os perfis dos membros, quem são seus líderes e como elas atuam no Ceará.  

O Comando Vermelho (CV) possui cerca de 9.056 membros e surgiu no estado do Rio de Janeiro. A Família do Norte (FDN) tem pelo menos 663 integrantes e nasceu no Amazonas. Os Guardiões do Estado (GDE) é uma facção cearense, que teve sua origem no bairro Conjunto Palmeiras, conta com cerca de 5.718 membros, e a organização paulista Primeiro Comando Capital (PCC) tem 3.230 integrantes, no Ceará. 

Comando Vermelho
Possui pelo menos 9.056 membros nas penitenciárias cearenses. Está abrigada nas CPPLs I e IV, e nos presídios de Caucaia, Pacatuba e Sobral, além de 26 cadeias públicas. Maior número de membros dentro das cadeias cearenses. 

É a mais antiga das 4 facções criminosas que atuam no Ceará. O Comando Vermelho Rogério Lemgruber (CVRL), mais conhecido como Comando Vermelho (CV), foi criado em 1979, na prisão Cândido Mendes, na Ilha Grande, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

A instalação da organização criminosa no Ceará aconteceu de forma desordenada na década de 1980, quando protagonizou grandes assaltos, mirando instituições bancárias e joalherias. 

Não possui um "código de conduta rígido", cada liderança da facção tem autonomia para agir como quiser em seus territórios. O CV estaria por trás do rapto e execução de 4 adolescentes, com idades entre 13 e 16 anos, que cumpriam medidas em unidade socioeducativa na Sapiranga, sob a tutela do Estado. 

A chacina na Cadeia Pública de Itapajé, que deixou 10 presos mortos, e o ataque à Cadeia Pública de Pentecoste, com dois mortos e nove feridos, também são atribuídos ao CV.  Os membros têm perfil jovem e agressivo. A facção costuma  se utilizar de mecanismos de tortura, decapitação, esquartejamento e carbonização para impor medo. 

Família do Norte (FDN)
663 membros nos presídios do Estado. Aliada ao CV, divide o domínio da penitenciária de Sobral com a facção carioca, mas está presente em outras unidades ocupadas pelo comando. 

Facção criminosa transnacional, a Família do Norte (FDN) é especializada em tráfico internacional de drogas e é considerada a terceira maior do Brasil. Foi criada em 2006, no Amazonas, pelos traficantes e ex-rivais José Roberto Fernandes Barbosa, o Compensa, e Gelson Carnaúba, o G. 

Por conta da localização de origem, próximo aos países produtores de drogas, controla rotas. A FDN atua de maneira ordenada há pelo menos cinco anos. Apesar de ser considerada violenta, tem características empresariais, com estrutura hierarquizada e divisão funcional de atividades, com núcleo jurídico e estatuto próprio. No território cearense e também em outros estados, se aliou e abastece parte do CV. 

Em novembro de 2015, durante a operação La Muralla deflagrada pela PF no Brasil e em outros quatro países, com o apoio da Interpol, 80 pessoas foram presas, sete delas em cidades cearenses. Entre os capturados estava Joleardes Celestino Lopes, 28, O Giba, um dos líderes do grupo. Morava em um flat, na avenida beira mar, em fortaleza, e atuava como empresário do ramo da construção civil. 

Em outubro de 2017, 11 pessoas ligadas à facção foram capturadas pela Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas. 

Guardiões do Estado (GDE)
5.718 membros ativos nas penitenciárias cearenses. Domina o IPPOOII, a CPPL II e a unidade Professor Sobreira, todas em Itaitinga, além de penitenciária regional do Cariri e 23 cadeias públicas. 

Em número de membros soltos, a GDE é considerada a facção mais numerosa do Ceará. Foi criada no bairro conjunto palmeiras, em Fortaleza. Teria surgido de uma dissidência do PCC, em 2015. Seus fundadores estariam insatisfeitos com as diretrizes da facção paulista. 

A cisão deu à GDE autonomia e "rebeldia". Apesar de ter um estatuto próprio, tem regras pouco estabelecidas, liderança pulverizada e pouca hierarquia. É bastante agressiva também pelo perfil de seus membros: muito jovens, com média de 17 anos, que buscam visibilidade.

Seus membros protagonizaram a chacina das Cajazeiras em 27 de janeiro deste ano, com 14 pessoas mortes, e também a Chacina do Benfica, em 9 de março, com 7 mortos. Um dos primeiros líderes do grupo foi preso em 2014. Edgly Dutra Barbosa, 35, o Dudeca, foi capturado em Maracanaú. Após fugir, foi recapturado em julho do ano passado, em Aracati. Outro líder da GDE, Mazola Pereira da Costa, o Márcio Magneto, 47, foi preso em abril do ano passado, em Maracanaú, acusado de tráfico. Atualmente, Auricélio Sousa  Freitas, o Celim, é uma das lideranças buscada pela polícia. Estima-se que a GDE já domine 70% das comunidades periféricas de Fortaleza. Capilaridade ganha durante a pacificação de 2016.  

Primeiro Comando Capital (PCC)
Está abrigada na CPPL III, em Itaitinga, e domina 20 cadeias públicas. Teria 3.230 membros no sistema prisional do Estado. 

O primeiro comando Capital (PCC) é considerado o maior e mais organizado grupo criminoso do País. É a única facção á qual se atribui status de "cartel", por conta de sua atuação no tráfico internacional. Foi criada por 8 pessoas, em 1993, no Anexo da Casa de Custódia de Taubaté, em São Paulo. Tem perfil empresarial, com rigorosa cadeia hierárquica.

A facção dispõe de departamento jurídico, conselho fiscal, diretoria financeira, presidência, auditoria, dentre outros setores. O grupo se estabeleceu no Ceará no início dos anos 2000. Muitos de seus líderes no Estado estão presos. Entre eles, está Francisco Márcio Perdigão, 39, capturado pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado, em agosto do ano passado, no Bom Jardim. 

Em março de 2016, a Polícia Federal (PF) prendeu, em Fortaleza, o traficante Alejandro Juvenal Herbas Camacho Junior, irmão de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC. Alejandro teria iniciado o processo de pacificação entre as facções, ocorrido no Ceará, em 2016. 

Em fevereiro deste ano, Rogério Jeremias, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves, o Paca, duas lideranças nacionais do grupo, foram encontrados mortos em Aquiraz. Dias depois, outro chefe da facção, Claudiney Rodrigues, o Cláudio Boy, foi detido no Aeroporto de Guarulhos (SP), ao desembarcar de Fortaleza. 
 
Redação O POVO Online
com informações do repórter Thiago Paiva