Cartunista Mino tem muro pichado e responde com grafite
Cearense teve parede da própria residência, no bairro Papicu, pichada durante o Carnaval, em fevereiro último
19:18 | Mar. 14, 2017
[FOTO1]Encontrar paredes pichadas em Fortaleza não é exatamente incomum. Mas o que fazer quando a pichação for na porta de casa? Para o cartunista cearense Hermínio Macêdo Castelo Branco, ou simplesmente Mino, que teve a frente da sua residência pichada durante o Carnaval deste ano, o caminho foi um só. O desenhista transformou a pichação em grafite.
"Fiz isso para o pichador entender que há outro lado. Que ele pode caminhar para o grafite, uma obra de arte popular", considera. "(o grafite) existe em todo lugar do mundo".
A arte urbana dos sprays tem ganhado cada vez mais as ruas de Fortaleza. Painéis tomam conta de avenidas de grande fluxo na Capital, como as avenidas Antônio Sales, Domingos Olímpio e Duque de Caxias. Coletivos como o Acidum Project rodam o País (e o mundo) com o trabalho de intervenção artística.
Para Mino, ainda existe uma discussão necessária a ser realizada sobre a atividade. "O pichador é um artista ou apenas uma pessoa que protesta de forma grosseira e agressiva para mostrar o repúdio para a sociedade?", provoca.
O desenho ficou na parede de casa, no bairro Papicu, durante uma semana. "Eu acho que o pichador viu e entendeu o recado", brinca. "Agora estou notando que os pichadores estão invadindo as propriedades privadas. Antigamente existia um código de honra. Agora, olho pra cidade e me preocupo".
O episódio despertou no cartunista um desejo de compreender a política do pichador. "Vivemos em uma sociedade que precisa ser estudada, precisamos entender por que as pessoas agem dessa forma", explica. "A sociedade deve se preocupar com a razão por trás das coisas. A mídia noticia os crimes, mas não se preocupa em mostrar para a sociedade o motivo. Como se não existisse um aspecto sociológico".
Respeito entre as linguagens
O artista plástico Narcélio Grud, reponsável por intervenções urbanas como a do Mara Hope, navio que ganhou cores depois de mais de 30 anos encalhado na orla de Fortaleza, lembra que a pichação é anterior ao grafite na Capital cearense. "(A pichação) tem esse caráter libertário mesmo, de vandalizar e de estar em todo lugar, diferente do grafite", aponta.
Grud, que já foi pichador, diz que há respeito entre as duas linguagens. "Existe uma solidariedade dentre os pichadores, mas há desunião em tudo. Há quem considere a pichação o que há de mais verdadeiro e contemporâneo dentro da história da arte", comenta.
Ainda assim, alguns pontos podem "quebrar" esse contrato, como grafites comerciais, feitos por encomenda. Outro ponto é o grafite feito para "higienização", caso do viaduto da av. Antônio Sales, no Cocó, como exemplifica o artista. "São pontos que levam o pichador a passar por cima desse acerto informal".
De acordo com a Lei
Pichações são alvo de discussões nas grandes Capitais. Em São Paulo, só nos dois primeiros meses deste ano, mais de 70 pessoas já foram presas acusadas de escrever ou pintar sem autorização imóveis públicos ou privados.
Em Fortaleza, corre um projeto que prevê multa para quem "riscar" os muros da cidade. O texto diz que o ato de escrever ou rabiscar em muros, fachadas, asfalto, calçadas, ruas, veículos, monumentos e edificações em espaço público ou privado é "vandalismo".
De autoria do vereador Idalmir Feitosa (PR), o projeto é baseado no artigo 737, I, do Código de Obras e Posturas do Município. O projeto de lei tramita na Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa.