Após ocupações da Polícia, equipe de reportagem do O POVO visita antigo reduto do Comando Vermelho
11:10 | Mar. 22, 2017
[FOTO1]A equipe de reportagem do O POVO visitou, na tarde dessa terça-feira, 21, o prédio onde funcionava a antiga fábrica de roupas Vilejack, na comunidade do Gueto, Barra do Ceará. O lugar era considerado um dos territórios dominados pelo Gueto e do Comando Vermelho (CV), mas atualmente, passa pelo processo de ocupação policial, que começou com a operação Marco Zero.
Por ser um ambiente considerado hostil, a equipe de reportagem foi escoltada por equipes da 3ª Companhia do 5º Batalhão da Polícia Militar. A visita foi supervisionada pelo comandante da área, major Nunes. A entrada da comunidade estava sem as conhecidas 'barricadas' de lixo.
Veículos obstruíam a entrada da Polícia, mas os proprietários retiraram assim que perceberam a chegada das viaturas. Os moradores acompanhavam a intervenção com o olhar, mas não parecia surpresa a presença ostensiva da PM.
A antiga fábrica da Vilejack é dividida por vários prédios. A unidade principal fica de frente para uma viela que dá acesso a Avenida Francisco Sá. Subir as escadas com degraus pela metade e sem iluminação é um desafio. As paredes úmidas e mau cheiro tornam o ambiente um lugar de difícil permanência.
As pichações começam desde o entorno do prédio, exaltam a facção criminosa do Comando Vermelho (CV). Dizeres sobre um "trem bala", frases de amizade, o que seria a sede de uma evangélica, apenas com uma fachada. O nome maior do Comando Vermelho, logo na entrada, foi coberto com tinta preta. Dentro do prédio, a própria Polícia escreveu frases na cor amarela, como Ronda, Polícia Militar e Paz no Gueto. Os criminosos, por sua vez, trataram de riscar e rasurar a demonstração de poder dos agentes de segurança.
As luzes das lanternas dos policiais passam pelas pichações, pelas escadas e chega até cobertura do prédio. Apontando para uma espécie de parapeito, um dos PMs explica que, ali, aproximadamente oito criminosos permaneciam com armas apontadas para a entrada da viela da Avenida Francisco Sá. O grupo ficava posicionado estrategicamente para proteger a comunidade de ataques de grupos rivais. Quando a Polícia chegava, eram avisados por um olheiro que gritava 'olha o óleo'. Todos corriam.
O comandante mostra um quarto. Ele diz que o lugar funcionava como uma espécie de motel e durante as incursões, a Polícia encontrava camisinhas usadas. Ao entrar no lugar, a equipe de reportagem constatou que o local estava limpo e com roupas de cama que pareciam ter sido lavadas recentemente.
Algumas mulheres estavam do lado de fora, crianças brincavam com cães e um homem recolhia material reciclável. No fundo uma música evangélica tocava. Uma jovem dormia em um dos cômodos abandonados. Os policiais mostram um buraco onde foi encontrado um fuzil, no ano passado. Em seguida afirmam que os principais criminosos já não estão mais na área, se mudaram, mas familiares de alguns permanecem.
Com a chegada da noite o conjunto de prédios parece mais assustador. Chegamos a uma área com casas do tamanho de um banheiro, portas estreitas, de papelão e outros materiais. Tudo cheirava a queimado. Difícil imaginar que alguém consiga passar mais de minutos ali, mas o policial afirma que é uma moradia e que ainda há gente que vive ali.
Gueto
A comunidade do Gueto surgiu na ocupação da antiga fábrica Vilejack. Até então, o principal criminoso que dominava o tráfico de drogas na área era Márcio Gledson Dias da Silva, o Márcio do Gueto, que no ano passado foi transferido para uma penitenciária federal, no Paraná. Integrantes do Gueto, por maioria, seguem presos.