Médicos suspendem cirurgias cardíacas pelo SUS em três hospitais particulares de Fortaleza
A Coopcardio aponta dívida acumulada de R$ 1 milhão por serviços prestados desde novembro. Em reposta, a Sesa esclareceu que as despesas estão em processo de avaliação. Há indicativo de paralisação dos médicos cooperados no Hospital de Messejana, caso não haja negociação
18:20 | Fev. 24, 2017
Atualizada às 22h33min
Por falta de pagamento e condições de trabalho, a Cooperativa dos Médicos Cirurgiões Cardiovasculares e Torácicos do Ceará (Coopcardio) suspendeu as cirurgias cardíacas realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos hospitais Prontocárdio, Batista Memorial e Antônio Prudente. O contrato da com a Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) estabelece a disponibilização de médicos ainda para o Hospital de Messejana, onde os cirurgiões cooperados podem paralisar as atividades a partir do dia 1º de março.
A dívida acumulada é de R$ 1 milhão, de acordo com a médica Bianca Pinho Sequier, presidente da Coopcardio. "Passou janeiro, fevereiro está terminando e ainda não recebemos nada. Fica difícil obrigar as pessoas a trabalharem, não tenho como colocar o cooperado em uma plantão sem saber quando a secretaria vai nos pagar", diz.
Além do atraso dos meses de novembro, dezembro e janeiro, Bianca cita o não pagamento complementar de 45 cirurgias realizadas nos três hospitais da Capital, entre os dias 20 de novembro e 20 de dezembro passado. "Não é só pela falta de pagamento, é também pelas condições de trabalho. O profissional, que acompanha os pacientes até o pós-operatório, se sente completamente desrespeitado", explica a presidente da Coopcardio.
Ao todo, cerca de 500 cirurgias cardíacas são realizadas por ano pelo SUS nos três hospitais citados, conforme a cooperativa. Para eles, são disponibilizados 14 cirurgiões, enquanto no HM atuam cerca de 40 médicos por meio da Coopcardio.
"O Estado deveria fazer concurso público para suprir a carência dos profissionais, mas o que acontece é que as cooperativas são a base do funcionamento desses hospitais. Não é bom pro profissionais porque ele não recebe garantias trabalhistas. Falta material, o ambiente é superlotado, e o profissional sobrecarregado", narra a médica e presidente da Coopcardio.
O Sindicato dos Médicos do Ceará, após denúncia da cooperativa, enviou ofício à Sesa e à direção do Hospital de Messejana solicitando uma reunião.
O POVO Online procurou a direção do HM, mas a assessoria de imprensa informou apenas que não havia indicativo de paralisação de cirurgiões cardiovasculares e torácicos.
A Secretaria da Saúde do Estado informou, em nota, que as despesas referentes aos serviços prestados pela cooperativa nos meses de janeiro e fevereiro estão em processo de avaliação. Os valores dos meses anteriores, também de acordo com a secretária, estão sendo avaliados pela Controladoria Geral. Quanto às 45 cirurgias nos hospitais conveniados, a Sesa esclareceu que não reconhece a dívida.
Cirurgias
A denúncia sobre a falta de pagamento complementar para as 45 cirurgias realizadas nos três hospitais motivou audiência no Ministério Público, na última quarta-feira, 22. Segundo a titular da 2ª Promotoria de Justiça e Defesa da Saéde Pública , Lucy Antoneli Domingo, a Sesa afirmou que as cirurgias foram pagas pelo Município, mas as complementações aos médicos não teriam sido pagas por causa de supostas irregularidades.
"Demos o prazo de para a secretaria apresentar essa justificativa com a previsão de pagamento, e uma nova audiência foi marcada. Há alegação de que o fluxo para a realização dessas cirurgias não foi respeitado", explicou a promotora.
A nova audiência, com representantes dos cirurgiões e da Sesa, está marcada para o próximo dia 13 de maio. O MP informou que o valor a ser pago dessas 45 cirurgias é de R$ 121.720,72.
Redação O POVO Online