Pesquisa e extensão geram pertencimento do aluno às instituições de ensino, diz especialista

Atividades estimulam relação com a comunidade e desenvolvimento de novas tecnologias, agregando valor no âmbito pessoal e profissional dos estudantes

10:11 | Nov. 29, 2017

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Atividades estimulam relação com a comunidade e desenvolvimento de novas tecnologias, agregando valor no âmbito pessoal e profissional dos estudantes

Ensino, pesquisa e extensão formam o tripé da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica a pró-reitora de extensão dessa universidade, Márcia Machado. A docente pondera que as três atividades caminham juntas na formação acadêmica e colaboram para a evolução e o senso de pertencimento do aluno. “É muito notório o prazer hoje que os professores e alunos têm em dizer ‘eu faço parte de um projeto de extensão da UFC’”.

Atualmente, a UFC atua com 924 projetos e programas de extensão, com 650 bolsistas vinculados. Outros 100 alunos da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), em geral, jovens de baixa renda com bolsa especial para o desenvolvimento de trabalhos direcionados à comunidade, são ainda alcançados pelas ações da universidade. Com esse quantitativo, a pró-reitora afirma que existem atividades de extensão da UFC em praticamente todos os bairros de Fortaleza.

Nas atividades de campo, acontecem os desafios e os aprendizados. Márcia cita o diálogo e as metodologias de que o aluno precisa desenvolver para interagir bem com a comunidade. A violência tem sido outro desafio no acesso aos bairros, exigindo da universidade preparação e conversa com as lideranças. “É preciso deixar claro o papel da universidade ali dentro. A população está cansada de tanta gente fazer entrevista, pesquisa e não dar retorno. Hoje, para entrar, tem que pactuar isso”. Entre os acordos com a comunidade, há devolutivas anuais dos avanços e aprendizados com os projetos.

Interdisciplinaridade

Segundo o pró-reitor de extensão da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Fernando Roberto, a extensão universitária é um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político. É um "braço" da instituição que se relaciona com a comunidade. Nesse sentido, a Uece atua com 186 programas e projetos de extensão, dos quais participam 500 bolsistas e 200 estudantes voluntários.

Entre as iniciativas, Fernando destaca a “ADM Soluções”, empresa júnior do curso de Administração da Uece, que aproxima estudantes de Administração das demandas reais do mercado, e a "Rede de Empreendedorismo da Uece", programa que estimula novos negócios e interdisciplinaridade. “A aprendizagem deve ir além da aplicação imediata, impulsionando o sujeito a criar e responder a desafios, a ser capaz de gerar tecnologias e de manter a habilidade de aprender e recriar permanentemente”, pontua.

Na formação profissional do aluno, Fernando diz que é imprescindível a interação com a sociedade para situar histórica e culturalmente o estudante, referenciando a técnica à realidade. Neste processo, porém, o pró-reitor esclarece que a relação é uma via de mão dupla e não um assistencialismo.

Pesquisando novas tecnologias

Projetos de pesquisa são uma constante na vida acadêmica de Igor Guerreiro, de 32 anos. Ele é graduado em Engenharia de Teleinformática pela UFC, onde também desenvolveu pesquisa no mestrado, dois projetos no doutorado e atualmente, no pós-doutorado, pesquisa as novas tecnologias 5G. O objetivo é otimizar a rede de celular e gerar mais velocidade para os usuários. O projeto, financiado pela empresa de telefonia Ericsson, iniciou em 2016 e deve finalizar em 2018, quando Igor conclui o pós-doutorado.

Entre as expectativas, o engenheiro espera tornar-se professor da UFC e ser contratado por alguma empresa do segmento. Dedicando-se à leitura e ao estudo constante, Igor defende o trabalho de pesquisa como um meio de produção de novas tecnologias e observa a importância da “vocação” para se trabalhar em grupo. “É quando surgem as grandes ideias”.

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O Mercado

Na visão do pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFC, Antonio Gomes, as universidades ainda são as responsáveis por um grande percentual da pesquisa no Ceará, a exemplo do cenário brasileiro. O último censo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), de 2016, indica 7.713 grupos de pesquisa no Nordeste, o equivalente a 20,5% da produção do País, sendo 976 grupos ativos no Ceará. No caso da UFC, o pró-reitor afirma que são em torno de 6.000 estudantes envolvidos.

Entre as dimensões desafiadoras da pesquisa, Antonio Gomes cita o recente corte nas bolsas de iniciação cientificada da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), que não era esperado na intensidade que ocorreu. Com a medida, 750 alunos de graduação ficaram sem o financiamento. “Para esses estudantes, que eram beneficiários e ficaram sem a bolsa, é um grande desestímulo”, acentua.

Em meio aos percalços, porém, o pró-reitor cita os bons resultados da UFC, como é o caso do uso da pele de tilápia para tratamento de queimaduras, que ganhou repercussão recente na mídia. O projeto foi desenvolvido com o apoio do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da UFC, coordenado pelo professor Manoel Odorico. E, apesar das dificuldades estruturais que o país apresenta, o pró-reitor enfatiza as “recompensas” da carreira de pesquisador. “Você não pode imaginar como é grande a satisfação de descobrir e entender algo antes não explorado.”