Negócios com propósito movem empreendedores sociais

Na busca por resolver um problema da sociedade, empreendedores fazem a diferença na vida das pessoas

Mudar a realidade dos pequenos agricultores cearenses em prol de um comércio justo é o propósito que move Déborah Veras, 32 anos, e Priscilla Veras, 35. Formadas, respectivamente, em Secretariado e Pedagogia, as irmãs criaram, em dezembro de 2016, o negócio social Muda Meu Mundo, em Fortaleza.  “A gente percebeu que tinha muita exploração comercial em cima do agricultor. Ele sabe plantar, mas não sabe negociar. O dinheiro fica no meio, com os atravessadores”, explica Déborah.

A empresa trabalha atualmente com 35 famílias de várias regiões do Ceará, como Capistrano, Baturité, São Gonçalo, Paracuru, Caucaia, São Luís do Curu, Pindoretama. Os produtos são vendidos em feirinhas itinerantes em Fortaleza, com 60% do valor arrecadado indo para o agricultor e o restante é reinvestido no negócio.

As irmãs uniram habilidades e o conhecimento que já acumulavam nas áreas ambiental e social. Déborah é responsável pela parte administrativo-financeira da empresa e Priscilla cuida das parcerias e capacitação dos agricultores sobre técnicas de agricultura sustentável. “Próximo ano, vamos começar a capacitação administrativa, ensiná-los como administrar o negócio”, planeja Déborah.

Para empreender em um negócio social, é preciso ser fiel ao que se acredita, recomenda Déborah. “Não adianta fazer porque negócios sociais estão em alta. Tem que ter propósito de vida, tentar de verdade mudar alguma coisa. Nada que você faz, que não é de verdade, dura.” O retorno é percebido nos testemunhos de clientes e parceiros. “A gente tem feito os agricultores sonharem junto coma a gente. Graças a Deus, muito sonho já tem acontecido”, revela Déborah.

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Empoderamento de mulheres

Contribuindo para o empoderamento de mulheres da região do Cariri, Gustavo Barbosa, 21 anos, é um empreendedor social de vários projetos. Ele atua como líder de consultoria na Enactus, organização sem fins lucrativos vinculada ao Centro Universitário Leão Sampaio, em Juazeiro do Norte, Ceará. A Enactus está presente em 36 países, sendo formada por uma rede de estudantes, líderes executivos e acadêmicos para criação de projetos de desenvolvimento comunitário.

Entre os projetos que Gustavo coordena, está o Sonhos de Maria, iniciativa que visa ao empoderamento social de mulheres da região de Missão Velha, por meio da produção de doces e bolos. “As mulheres dos agricultores se sentiam subjugadas pela sociedade por serem somente donas de casa. Não tinham renda própria. Surgiu aí a visão da necessidade que elas tinham.”

Com o Sonhos de Maria, projeto iniciado em maio de 2016, as 13 mulheres participantes já obtêm uma renda mensal de R$ 800 cada. Elas evitam o desperdício mensal de 300 kg de frutas e verduras dentro de uma lanchonete da UniLeão. Além disso, a iniciativa ganhou o prêmio Walmart de Empoderamento Econômico de Mulheres, ano passado, possibilitando a construção de uma cozinha industrial.

Entre os desafios de empreender na área social, Gustavo cita a obtenção de recursos financeiros para viabilizar os projetos e conseguir unir a comunidade em torno de um objetivo. “O sucesso vem da união e dedicação. É preciso mostrar a essa comunidade que eles só conseguem mudar de vida se estiverem unidos”. Nesse processo, Gustavo destaca a necessidade de que os envolvidos construam algo e não simplesmente recebam ajuda. “Precisa colocar a mão na massa para depois conquistar. E conquistar vai desde o reconhecimento familiar ao reconhecimento local.”

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Setor 2.5

Especialista em empreendedorismo social, Gabriel Pires explica que Muhammad Yunus é considerado o pai do microcrédito e dos negócios sociais no mundo. Economista de Bangladesh, Yunus ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2006.

Gabriel, que é consultor na Dialogus Consultoria, esclarece os termos que envolvem o segmento. Empreendedor social define a vontade de qualquer pessoa em fazer o bem para a sociedade, não somente abrindo um negócio, mas querer impactar positivamente. Já os negócios sociais são modelos inovadores, que unem a dinamicidade das empresas privadas com os objetivos do terceiro setor, sendo nomeados de setor 2.5. “Empresas que oferecem produtos e serviços são sustentáveis financeiramente e querem resolver uma problemática social.”

Para empreender na área, Gabriel recomenda:

      1. Encontrar um problema social com o qual se identifique e ter compromisso pela mudança. “Os que têm mais sucesso são empreendedores apaixonados que estão engajados com a causa que os sensibiliza”;

      2. Não demorar na fase de modelagem de negócios, testando o produto para ir evoluindo;

      3. Seguir as atividades da Artemísia, aceleradora de negócios de impacto social, e da Yunus Negócios Sociais, instituições de referência no segmento.

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