Troféu Empreender 2024: Melka – marca de mel cearense aposta na mudança de cultura e sonha com ampliação do mercado apícola no país
A marca é uma das agraciadas pelo Troféu Empreender 2024 na categoria microempresa
04:00 | Jan. 22, 2025
O sol à pino que alaranja a paisagem e evidencia os tons terrosos no Sítio Mané Maria, em Morada Nova, castiga quem precisa vestir o grosso macacão de apicultor, traje imprescindível para adentrar a mata que dá acesso à pequena criação de abelhas da jovem empreendedora Melca Macedo. O percurso até o enxame é longo, já que as colmeias precisam ficar a pelo menos 300 metros de distância da casa. Melca, agrônoma em formação, já está acostumada às altas temperaturas dentro da roupa que evidenciam sua escolha profissional: a apicultura. “Comecei conhecendo o mundo das abelhas e me apaixonei devido à inteligência delas, todo o processamento de organização dentro de uma colmeia”, explica.
Foi em 2020, na faculdade de agronomia, que ela começou a se aprofundar neste universo, já que era a única disciplina da área animal e a única que oferecia a parte prática dentro do curso. A ideia de vender mel veio do professor, que na época produzia o insumo. Foi aí que Melca passou a enxergar no ramo uma oportunidade para abrir o próprio negócio. Começou a vender alguns litros de mel cedidos pelo professor, mas já criando sua própria marca, “Melka com K”, como ela mesma enfatiza, orgulhosa. Foi na pandemia que Melca e o marido, Alexandre, decidiram investir nas próprias colmeias. Mas não foi fácil. Muitas abelhas fugiram, outras morreram. Mas a empreendedora que nascia dentro de Melca só se fortalecia.
Muitas ferroadas e aprendizados depois, Melca decidiu apostar de vez no negócio. Pegou os primeiros 15 litros de mel produzidos por suas três colmeias e apostou no marketing como principal estratégia: “peguei um rótulo que um amigo tinha feito, bem antigo, imprimi, comecei a colar eles nas garrafinhas e comecei a colocar, além do rótulo, um laço com uma tarjeta pendurada com um agradecimento. Fiz o Instagram e comecei a divulgar”, lembra.
Foi usando a internet, também, que Melca começou a prospectar os primeiros clientes em Fortaleza: “comecei a ligar e a procurar clientes, lojas de produtos naturais em Fortaleza que eu via que tinham a ver com meu produto. Eu procurava o telefone e entrava em contato de uma por uma e fechava a venda por meio do WhatsApp”, conta. Foram tantas vendas fechadas, que o pequeno estoque de 15 litros de mel não foi o suficiente: “então, eu comecei a comprar mel de outros apicultores da região”. Durante a semana recebia as encomendas, no final de semana comprava o mel, envasava, e nas segundas já enviava os pedidos para a Capital. “A gente chegou a atender mais de 20 lojas nesse período”, comemora.
Como todo pequeno empreendedor, o principal desafio do início foi o capital. “A gente foi comprando tudo aos poucos. Os enxames a gente foi pegando. A gente não esperava fazer captura e nem comprava. A gente procurava os enxames na mata, em oco (buracos nos troncos das árvores), em tudo. Então, a gente apanhou muito, levou muita ferroada de abelha. A gente tirava os enxames do oco, colocava na caixa, passava dois, três dias o enxame ia embora. A gente penou um bocado nesse começo”, relembra. Foi aí que as técnicas aprendidas na faculdade ajudaram no processo. Ao invés de ir atrás dos enxames, Melca começou a fazer multiplicação, técnica da apicultura em que se pega dois enxames fortes, divide e monta outro. “A gente vendeu uma vaca e comprou 30 enxames de um apicultor que estava desistindo da área. Foi aí que a gente desenvolveu mais”.
O processo no sítio de Melca, em Limoeiro do Norte, ainda é bem artesanal. Na mesa da sala de casa, ela posiciona um grande balde adaptado com uma torneira. Enquanto ela envasa os potinhos de vidro um a um, o cheiro forte do mel puríssimo espalha-se pelo ambiente. Pra facilitar a dinâmica, Melca e Alexandre desenvolveram um esquema próprio: um enche o pote, o outro tampa e rotula. A maior parte do mel que Melca vende ainda hoje vem de apicultores da região, já que sua própria produção é pequena e não dá conta da demanda. Sem uma casa de mel para processar o insumo, ela também utiliza um espaço cedido para este fim.
Como diferencial, Melca acredita na inovação. Foi pensando nessa ideia, que ela investiu numa marca mais estilizada e mudou a embalagem de seu produto, que migrou das garrafinhas de plástico para potes de vidro com uma logo bonita e requintada, criada por ela mesma. Além de focar no digital: “muita gente se prende nas vendas, acha que pra vender eu preciso ir pessoalmente numa loja lá em Fortaleza oferecer o meu produto pessoalmente. E não, eu acho que a minha facilidade de entrar em mercado foi essa questão da venda online. Eu não precisei sair da minha casa, eu não gastei um real saindo da minha casa pra entregar mel na loja de ninguém. Eu nunca fui numa loja de um cliente meu. Todos os meus clientes eu convenci pelo WhatsApp ou por ligação”, reforça.
Entre as maiores dificuldades de empreender neste mercado, Melca sinaliza a falta de cultura para consumo do mel para além do apelo medicinal. “Aqui no Brasil, a gente não tem uma cultura de consumir mel. Enquanto nos Estados Unidos se consome 300g por pessoa/ano, aqui a gente consome uma colher de chá, aqui só se come mel pra remédio. Ah, tá gripado, aí tu come uma colher de mel. Então essa cultura de fazer o brasileiro comer mel tá sendo um trabalho não só meu, mas de muitos apicultores, de conscientização da população sobre a importância do consumo do mel pra que a gente consiga desenvolver o setor no País”, salienta.
Nos planos sonhados para logo mais, Melca tem escrito a ampliação de seus próprios enxames, a construção de uma casa de mel e a aquisição dos selos necessários para vender seu produto em todo o País e, quem sabe, no exterior. “Cada País tem seu próprio selo. É um trabalho pra percorrer muito grande, exportar é o plano futuro da gente. No momento, a gente tenta pegar o mercado local e pra isso a gente tenta mudar a cultura”. E ela já trabalha nessa direção: investindo na conscientização da população via redes sociais e trabalhando no desenvolvimento de novos produtos, como um pré-treino natural a base de mel com açaí e outros produtos que terão como foco o mercado infantil. “Eu e Alexandre, é a gente pela gente. A gente ainda não tem nenhum funcionário, tudo é a gente. É cansativo, mas é gratificante. Principalmente quando a gente vê o nosso produto numa prateleira e recebe o feedback positivo dos clientes sobre a qualidade do nosso mel”, comemora.
Sobre o Troféu Empreender 2024
O Troféu Empreender é uma iniciativa do Grupo de Comunicação O POVO que destaca micro e pequenas empresas e empreendedores individuais nas categorias Pequena Empresa, Microempresa e Microempreendedores Individuais (MEIs).
Na edição 2024, a premiação contemplou também startups que fizeram a diferença na categoria Tecnologia, além de homenagear o Empreendedor do Ano e o Empreendedor Social.
As indicações são feitas por instituições convidadas e comprometidas com o desenvolvimento dos pequenos negócios. São elas: Banco do Nordeste do Brasil, Instituto Centec, Instituto Euvaldo Lodi, Federação das Micro e Pequenas Empresas do Ceará, Iracema Digital, Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Fortaleza e Sebrae.
Mel de Abelha Melka
Instagram: @meldeabelhamelka