A política quando encanta: o Político, eu!?! e a ação Escola vai à Câmara Municipal de Fortaleza
Durante duas edições, em 2023 e outro em 2024, o projeto Político, eu!?! levou 16 escolas para viver a experiência de ser vereador por um dia. A facilitadora da ação, Paula Vieira, conta sobre a oficina que antecedeu a visita à Câmara Municipal de Fortaleza. Confira fotosO programa Escola vai à Câmara Municipal de Fortaleza esteve inserido no projeto Político, eu?!?, realização da parceria entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Câmara Municipal de Fortaleza (CMF). Considerando o conteúdo escolar, o projeto se aproximou da escola com o objetivo de contribuir para formação cidadã.
A ação propunha levar aos estudantes o conhecimento sobre a dinâmica dos processos legislativos e suas diversas etapas. Vivenciar essa experiência passou pela elaboração de projeto de lei, Oficina de Comissão Legislativa e, finalizando, a visita à Câmara Municipal de Fortaleza. O objetivo: ser vereador por um dia.
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Nas oficinas, aos olhos dos estudantes, o espaço familiar da sala de aula era ocupado não apenas por eles, rostos conhecidos e cotidianos, mas também por uma nova professora que ministrava a oficina, técnicos de câmeras, jornalistas e seus microfones, fotógrafa. Transformando o cenário familiar. Ali iniciava o “ser vereador por um dia”, compreendendo a responsabilidade pública e, por isso, as câmeras. Mas, também, sentiam como um momento de “fama”, em que suas famílias e seus amigos estariam os assistindo na TV.
Em todas as Oficinas e visitas à Câmara Municipal, houve transmissão veiculada pela TV Câmara de trechos e entrevistas com o professor-consultor e estudantes. A presença da TV agitava os ânimos dos estudantes que se dividiam entre o desejo de dar entrevista e aparecer na TV aberta de um lado, e a timidez de outro.
Até para os mais desenvoltos na oralidade discursiva e/ou destaques nos treinamentos via tiktok, a presença de uma câmera manuseada por um técnico e de uma jornalista com microfone na mão, gerava alguma ansiedade. Alguns se escondiam, outros se exibiam, outros observavam. Frente à câmera, alguns alunos e alunas se colocavam vencedores da timidez e falavam sobre a importância de se discutir o projeto de lei ou de indicação que estavam propondo.
A preparação para a visita era feita desde a escolha da farda “mais nova” (solicitamos o uso dos uniformes, se possível, pois era uma atividade escolar), passando pelas maquiagens, estilos dos cabelos. Na chegada, conheciam os espaços de comunicação da CMF com a comunidade cidadã. Para Escritório de Direitos Humanos Dom Aluísio Lorscheider (EDHAL), as perguntas dos estudantes passaram por preocupações raciais e de gênero.
Na Casa do Cidadão, reconheceram o espaço como o local para buscar documentações, embora um ou outro puxassem na memória as ações no seu bairro para finalidades similares. No ano de 2024, após a inauguração da sede da Procuradoria da Mulher na Câmara Municipal, estudantes me procuraram para confirmar o número de telefone para denúncia. Essa informação, embora não crie alertas quantitativos, sensibilizam, mais uma vez, para importância da formação cidadã desde a escola.
As visitas passaram pelo setor da Redação e os estudantes conheceram a produção de comunicação da CMF, a sala de rádio, a sala das Comissões e, por último antes de ir ao Plenário, conheciam a TV Câmara. Imagine, nesse momento, a euforia.
Os jornalistas apresentadores explicaram a preparação prévia por meio de estudos sobre temas que iriam noticiar; demonstraram os deslocamentos para as câmeras e como circular no estúdio; ao apresentar a leitura dos prompts em tela, incentivaram o momento em que alguns dos estudantes saiam da timidez para testar suas habilidades frente às câmeras sem a função de “inversão” para selfies na qual estão acostumados. “Ah, assim é bem mais difícil”, alguns diziam. Outras e outros, viam naquele espaço um desejo de futuro, uma expectativa de profissão.
Na chegada ao Plenário, alguns se sentiram intimidados pela formalidade do espaço, outros externavam uma alegria eufórica. Em cada mesa de parlamentar, havia a placa com o nome do estudante que, naquele momento, estava com a função de ser vereador.
Na Mesa Diretora, as placas indicavam os cargos as quais tinham sido eleitos nas oficinas: Presidente, Vice presidente, Relator/a, Secretario/a. A/O Presidente da Mesa Diretora indicava a abertura da sessão e seguiam o roteiro ensaiado. Observavam a linguagem que, desde a etapa da oficina, fizeram usual no cotidiano escolar: “questão de ordem”, tratamentos por “senhor/senhora presidente”, “senhor/senhora vereadora”, solicitação pelo uso da “palavra, senhor/a presidente”. As lideranças de “situação” e “oposição” discursavam na tribuna, e, sem seguida, os vereadores/as das bancadas. Finalizava-se com a leitura da aprovação do projeto.
A ação Escola Vai à Câmara proporcionou aos estudantes uma aproximação com a linguagem legislativa e seus processos. Correspondeu ao momento de aprendizagem acompanhado da complexidade do funcionamento do Legislativo. O estar presente no espaço físico permitiu a transição de uma noção abstrata sobre o parlamento, para iniciar o processo de materialização do significado de ser cidadão.
Em uma das visitas, um estudante, negro, cuja escola tinha uma proposta de projeto vinculada às práticas antirracistas, disse: “Eu achava que não poderia entrar aqui, que seria parado na porta. Agora sei que posso ser até vereador”. Aqui cabe uma reflexão sobre o distanciamento entre a população e os espaços de representação política.
Mas, no Escola Vai à Câmara, a “moral da história” nos conduziu para outro caminho. O que assistimos foram estudantes propositores, dispostos a pensar suas realidades. O que observamos foram estudantes interessados em contribuir para a sociedade em que vivem. O que acompanhamos foi a construção de pertencimento à cidade e à comunidade nesse contínuo processo de formação cidadã.
Confira fotos: