O impacto da pandemia na saúde mental das crianças
Especialistas em educação infantil e psicologia afirmam que crise sanitária e econômica ocasionada pela Covid-19 teve efeitos emocionais severos também para os pequenos. Estar atento a mudanças de comportamento é essencial para saber se há algo erradoGrande parte das famílias brasileiras foi diretamente impactada pela Covid-19. Além das quase 700 mil perdas humanas, que deixaram o País em um estado permanente de luto, as implicações financeiras da crise ainda repercutem em milhões de lares através da perda de renda, da insegurança alimentar e da violência. Desse modo, não houve como impedir que o impacto da pandemia chegasse aos pequenos.
Especialmente durante o período mais rígido de isolamento social, mas também no retorno às atividades presenciais, as crianças têm sofrido com problemas de saúde mental como ansiedade, depressão e estresse – muitas vezes como reflexo dos problemas de saúde mental enfrentados pelos pais ou responsáveis.
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Segundo Dagmar Soares, fonoaudióloga, psicopedagoga e coordenadora do programa Mais Infância Ceará, as crianças passaram por uma sobrecarga de informações catastróficas nos últimos meses, o que pode gerar trauma mesmo nos primeiros anos de vida. “Às vezes os adultos acham que as crianças não entendem, mas isso não é real. Na verdade, elas entendem de uma maneira muito maior, e ouvindo o tempo inteiro sobre morte entenderam que havia um risco de morte iminente”, explica.
Dagmar conta que, após enfrentar as restrições impostas pelo isolamento, muitas crianças tiveram dificuldade de retornar às aulas, especialmente pelo medo de perder um ente querido de repente. As desigualdades sociais também foram acentuadas e, ainda que todas as famílias tenham sido impactadas, a maneira como cada uma sofreu os efeitos da pandemia foi muito particular.
“Há uma grande diferença na rotina de crianças que têm casas com milhões de recursos e crianças em situação de vulnerabilidade social. Isso é relevante porque muitas delas passaram pelo menos um terço da vida em isolamento”, completa.
Como identificar se há algo errado
“Quando há algo errado, a criança dá sinais”. É o que afirma Renata Pires, psicopedagoga, psicomotricista relacional e mestre em Psicologia. De acordo com ela, muitos comportamentos que podem parecer “birra” podem ter um significado mais profundo, que mereça atenção dos pais e investigação profissional.
“A criança pode não querer conviver e dar sinais de ansiedade como unhas roídas, mexer em feridinhas o tempo todo, ter comportamentos repetitivos. Ou, ainda, ela pode ficar mais chorosa, irritada, com medo e até mesmo mais agressiva ou com resistência a coisas que ela gostava ou aceitava bem anteriormente, como ir à escola ou estar com os pais”, detalha.
Segundo a psicopedagoga, entre os principais problemas de saúde mental na infância que foram acentuados pela pandemia estão a depressão infantil, a ansiedade, a fobia social, a hiperatividade e o transtorno opositivo desafiador.
Os principais sinais para se atentar são:
- Agressividade
- Choro excessivo
- Comportamentos exacerbados
- Comportamentos obsessivos
- Fixação pela rotina
- Mau humor
- Medo de perder
- Muitos pesadelos e/ou terror noturno
- Puxar cabelos e/ou feridas
- Roer as unhas
Ao identificar um ou mais desses sinais, especialmente quando com maior frequência, é preciso buscar auxílio qualificado em instituições de apoio à família, como os postos de saúde, os Centros de Referência da Assistência Social (Cras) e os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas).
O primeiro passo, no entanto, deve começar em casa. “É preciso ouvir as crianças, deixar esse espaço aberto para a escuta e estimular que elas se expressem de várias formas; através de desenhos, da brincadeira, de conversas. A segunda coisa é falar sobre. Deixar no silêncio é a pior saída, o não dito gera ansiedade e medo”, destaca Renata.
SERVIÇO
Primeira Infância em Pauta
O projeto “Primeira Infância em Pauta: desafios e oportunidades para o desenvolvimento saudável pós-pandemia” tem como foco a produção e veiculação de conteúdos de fácil assimilação sobre os impactos da pandemia de Covid-19 na saúde emocional, mental e física de crianças de zero a seis anos de idade, apresentando possíveis caminhos para minimizar os efeitos negativos do prolongado isolamento social vivido nos últimos dois anos.
O principal objetivo do projeto é fomentar o debate qualificado, com participação de especialistas sobre a primeira infância, gestores públicos, educadores e sociedade civil, sobre os caminhos para propiciar o desenvolvimento sadio na primeira infância, já que é nesse período que que os vínculos e conexões afetivas mais importantes são estabelecidos, e o aspecto cognitivo tem seu crescimento mais acelerado.
Confira o calendário e todo o conteúdo do projeto no canal digital.