Aleitamento materno: benefícios para toda a vida

Além de estimular o vínculo entre mãe e bebê, amamentação garante desenvolvimento integral das crianças e promove retorno para a sociedade. Saiba por que amamentar e como doar leite humano

06:00 | Abr. 02, 2022

Por: O Povo
Cada litro de leite humano doado pode alimentar até dez bebês por dia. Desde o início da retomada das atividades econômicas, porém, o número de doadoras caiu (foto: gettyimages)

Conhecido como “a primeira vacina do bebê”, pela capacidade de auxiliar o organismo do recém-nascido a evitar uma série de doenças, o leite materno vai muito além da nutrição, sendo responsável também pelo início dos vínculos afetivos. E os benefícios ultrapassam as barreiras do núcleo familiar: com menos crianças doentes, há menos hospitalizações, o que torna a gestão da saúde do Estado mais eficiente.

No entanto, o marketing da indústria de fórmulas infantis promoveu, durante décadas, afastamento e desconfiança sobre o tema. Até a década de 80, a maioria das mulheres não acreditava que seu leite “sustentaria” uma criança, ideia que já foi rebatida através de diversos estudos, políticas públicas e da atuação dos Bancos de Leite Humano (BLH).

“É o alimento mais completo que existe, porque além de entregar todos os nutrientes que uma criança precisa, fazendo com que ela adoeça menos, beneficia indiretamente a sociedade”, afirma Márcia Machado, doutora em Saúde Pública e cientista chefe da Funcap na Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS).

Por isso, garantir o aleitamento materno, especialmente nos primeiros seis meses de vida, é essencial para o desenvolvimento integral das crianças e o fortalecimento da segurança alimentar de uma região. Colaboradora da Pesquisa de Saúde Materno-Infantil do Ceará (Pesmic) desde 1987, Márcia aponta que, no início do estudo, o Ceará não tinha nem 10% de mães amamentando com alguma frequência, número que subiu para 73% em 2017.

“Na época, o índice de desnutrição era de 44%, e hoje não chega a 5%. A amamentação exclusiva ainda é baixa, não há nem 10% de aleitamento exclusivo até o sexto mês, mas de toda forma as mães estão dando mais o peito. Esse aleita mento foi muito protetivo na pandemia, até como garantia de alimentação dos bebês em famílias mais vulneráveis”, completa a enfermeira.

De acordo com Márcia, a solução para números mais expressivos está nas mãos do Estado, através de adicionais de transferência de renda que garantam a possibilidade da amamentação, como o Cartão Mais Infância, instituído pelo Governo do Ceará em 2020, além da melhor formação de profissionais e postos de saúde. Mas não só: pais, outros familiares, amigos e empregadores também têm um importante papel de suporte. “A amamentação deve ser uma escolha da mulher, mas é preciso toda uma rede de apoio para garanti-la”, conclui.

BANCOS DE LEITE HUMANO ASSEGURAM DIREITO À SAÚDE

Antes mesmo da chegada da pequena Luísa Vitória, hoje com sete meses, a microempreendedora Ana Jéssica da Silva, 27, já sabia que seu leite não alimentaria apenas a filha. Com alguns meses de gravidez, Ana Jéssica já tinha a bombinha de tirar leite e sonhava em poder ajudar outras mães e bebês através da doação de leite materno.

“Nem sabia como seria minha produção de leite, mas já queria doar. É um sonho que sempre tive, porque acho que estamos nesse mundo também para servir”, conta. Já na primeira semana de vida de Luísa, após fazer um cadastro na maternidade, Ana Jéssica começou a rotina de doações, que segue até hoje. “Quando a gente doa vê a alegria das enfermeiras, vê quantas crianças estão lá precisando. É muito gratificante”.

Só no Banco de Leite Humano (BLH) do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), considerado referência estadual, doadoras como Ana Jéssica auxiliam de 40 a 50 bebês de baixo peso internados em UTIs neonatais por mês. De acordo com Rejane de Brito Santana, coordenadora do BLH do HGCC, a principal função dos bancos é empoderar as mães através do conhecimento.

“Nosso papel é apoiar as mães para que elas possam amamentar seus próprios filhos. A segunda estratégia é a doação do excesso de leite para suprir a demanda dos bebês que estão nas UTIs”, explica.

Cada litro de leite pode alimentar até dez bebês por dia. Desde o início da retomada das atividades econômicas, porém, o número de doadoras caiu. “Estamos precisando triplicar esse número e, para isso, temos equipes de plantão 24h para atender quem desejar doar”, ressalta Rejane.

Para doar, basta se cadastrar em um dos BLHs presencialmente, pela internet ou pelos telefones 0800 286 5678, (85) 3101 7821 ou (85) 98819 9912 (WhatsApp).

Principais vantagens da amamentação

1. Aumento do vínculo familiar

2. Redução da mortalidade por doenças, especialmente gastrointestinais e respiratórias

3. Estímulo da musculatura e auxílio no crescimento de uma dentição mais saudável

4. Melhor articulação da fala e das palavras

5. Para a mãe, redução nos sangramentos pós-parto e nas chances de câncer de ovário e mama

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Primeira Infância em pauta

Este conteúdo faz parte do projeto Primeira Infância em Pauta – A Importância da Nutrição. No próximo dia 6, será publicado no O POVO conteúdo sobre alimentação para crianças até seis anos. Já no dia 7 de abril haverá uma live, no YouTube do O POVO, com a doutora em Saúde Pública Márcia Machado e o pediatra Sulivan Mota, presidente do Iprede.