Como escolas podem identificar adolescentes com a saúde mental abalada?
OMS alertou para aumento no índice de adolescentes com problemas psicológicos durante a pandemia; entenda como ajudarDurante a pandemia, com a mudança drástica de rotina e o afastamento presencial dos amigos, professores e outros familiares, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta sobre a possibilidade de aumento nos índices de adolescentes com problemas psicológicos que levam a tentativas de suicídio e automutilação, algo que já vem sendo constatado por pesquisadores e profissionais da saúde. Nesse momento, mais do que nunca, é essencial se questionar: com o retorno das crianças às salas de aulas – e durante todo o “novo normal”, como a escola pode agir para resguardar a saúde mental dos alunos? E como identificar alunos que têm ideação suicida?
Segundo a psiquiatra Renata Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), é essencial ter em mente que as manifestações de transtornos psicológicos são diversas. “Os sintomas são muito diferentes em cada criança e adolescente. Eles podem se manifestar através de mudanças no comportamento, na aparência física e até no tipo de roupa usado. Crianças e adolescentes que usam roupas de frio no calor, por exemplo, podem estar sofrendo bullying ou se automutilando”, explica.
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Comportamentos como sono ou indiferença durante as aulas e agressividade também podem ser sinais de sofrimento. Por isso, de acordo com a médica, também é importante observar os alunos que praticam bullying, pois muitas vezes eles também estão com a saúde mental abalada. “É necessário observar tanto quem sofre quanto quem pratica bullying e, a partir disso, estabelecer uma parceria com os pais ou responsáveis, orientando-os a procurar um profissional de saúde mental. Se eles não tomarem nenhuma providência, pode-se buscar o Conselho Tutelar; o importante é não deixar a criança ou adolescente sozinho em nenhum momento”, completa a psiquiatra.
COMO SE APROXIMAR
Ainda que sejam pessoas de confiança do aluno, é necessário que os professores e outros adultos que convivem com crianças e adolescentes em situação de sofrimento mental sejam cuidadosos na abordagem. De acordo com Renata Figueiredo, é preciso se aproximar, mas sem forçar o diálogo.
“Muitas vezes, ao abordar de uma maneira não especializada, o professor pode fazer com que a criança reviva o sofrimento, o que não é bom. É importante que ele acolha, mas a deixe falar somente até onde ela se sente à vontade. A partir daí, se for identificado algum risco ou ideação suicida, não se deve deixar a criança sozinha em nenhum momento, podendo-se recorrer a um consultório ou emergência psiquiátrica”, afirma Renata.
Para prevenir o suicídio e a automutilação, é necessário que a escola crie canais eficazes de comunicação com os alunos, realizando uma escuta ativa, com acolhimento da coordenação pedagógica e sem julgamento por parte da equipe multidisciplinar – que deve estar atenta e buscar desconsiderar atitudes que possam estar relacionadas a um quadro de ansiedade ou depressão.
PREVENÇÃO É VIDA
Com o intuito de ajudar professores e outras lideranças a compreenderem o estado de suas crianças e adolescentes, o projeto Ações Integradas de Educomunicação para Prevenção ao Suicídio e da Automutilação oferta cursos gratuitos, cartilhas e notícias especializadas sobre a temática, que podem ser replicadas e utilizadas no trato diário com crianças e adolescentes.
Segundo a coordenadora executiva do projeto, Ana Cristina Barros, a ideia de utilizar a educomunicação como metodologia surgiu do objetivo de unir conceitos pedagógicos ao alcance das plataformas de comunicação. “De um lado, temos uma instituição de altíssima credibilidade na educação, que é a Fundação Demócrito Rocha (FDR); de outro, as instituições que possuem respaldo mundial no estímulo de promoção de debates sobre temáticas relacionadas à saúde mental. Promover essa parceria em plataformas digitais, já que todos se voltaram para esses meios na pandemia, faz com que estejamos mais próximos ainda do nosso público-alvo”, comenta.
O material pode ser replicado e utilizado para capacitação em escolas, igrejas e outros ambientes ligados à rotina das crianças. A iniciativa é uma parceria entre a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde do Brasil, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), a Fundação Demócrito Rocha e a Universidade Aberta do Nordeste.
A expectativa dos organizadores é que, até o final da campanha, mais de 80 mil pessoas tenham participado das formações, multiplicando saberes e disseminando conhecimento sobre saúde mental. Para ter acesso às cartilhas digitais e se inscrever nos cursos de prevenção ao suicídio e da automutilação, acesse (http://prevencaoevida.com.br/#apresentacao).