Tecnologia para voar alto: o mercado para jovens

Oportunidades gratuitas em Fortaleza garantem inclusão e empoderamento para jovens que escolheram trilhar o caminho da educação e tiveram a vida transformada pela tecnologia.

00:00 | Jan. 09, 2024

Por: O POVO Lab
Andressa Villela, 22, na apresentação do JD Festival. Depois de outro evento, o JD Conecta, ela foi convidada para o cargo de analista de negócios júnior em uma empresa privada. (foto: divulgação)

High-tech. O termo, cada vez mais popular, pode ser traduzido como alta tecnologia e significa que um produto ou sistema incorpora recursos avançados para atingir soluções inovadoras. Altos são também os voos de quem buscou percorrer as rotas da educação na perspectiva tecnológica. Em primeira instância, é uma decisão que representa potencial de mudança. Transformação na forma de pensar, de se relacionar com o mundo, de ganhar a vida a partir de novos aprendizados, com mais dignidade e emprego garantido. Em última alçada, é testemunhar a conquista de tudo isso como parte da realização de um sonho.

“Diriam que eu sonho muito alto. Mas eu quero deixar minha marca no mundo”, conta a estudante Andressa Villela, 22. Tamanha foi a influência da tecnologia em sua vida que a fez migrar do curso de Química para o de Engenharia de Telecomunicações, ambos no Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). O primeiro contato com a área aconteceu durante a pandemia, quando resolveu buscar opções gratuitas para qualificação tecnológica. “Baixei um aplicativo para começar a aprender a programar”, conta. Daí em diante não teve jeito: Andressa tomou gosto pela coisa. A moradora do bairro Rachel de Queiroz continuou então a busca por oportunidades.

“Eu participei da Escola de Jovens Programadores, da Rede Cuca, da Prefeitura de Fortaleza. Depois, fui bolsista no programa Juventude na Escuta, onde atuei por seis meses na geração de conteúdo.” Após esse período, Andressa ingressou como estagiária na Controladoria e Ouvidoria Geral do Município (CGM). “Desta vez, assumi o cargo de programadora no programa Jovens Talentos. Desenvolvi um aplicativo para a Controladoria, que facilitava a geração virtual de relatórios, eliminando o uso de papel”, conta, revelando que a solução permitiu armazenar os relatórios de forma mais segura e eficiente. Ela não imaginava que isso a levaria a outros lugares.

Quando foi convidada para apresentar sua criação no JD Conecta, evento que liga jovens ao mercado de tecnologia, viu seu destino mudar. Realizado pela Prefeitura de Fortaleza por meio do programa Juventudes Digital, o evento deu visibilidade a Andressa, que recebeu uma proposta do líder de transformação digital da Normalabs, hub de transformação digital vinculado à Normatel, para integrar o time. Hoje analista de negócios júnior da empresa, a jovem diz que a oportunidade modificou “bastante” a sua vida.

“O que importa não é nem tanto a experiência que você tem, mas a vontade de aprender. E eu tenho muita vontade de aprender. Eu tô aprendendo muito, tá valendo muito a pena, tô levando conhecimento de lá. Eles têm um mentor para cada um de nós para ajudar na nossa carreira profissional”, relata Andressa, responsável pela organização dos projetos de tecnologia e de inovação do Normalabs.

Inclusões

A tecnologia vem impulsionando transformações positivas no mercado de trabalho, demonstrando ser uma ferramenta receptiva à diversidade ao promover inclusão social e empoderamento a grupos minorizados. Mulheres, pessoas com deficiência, comunidade negra, LGBTQIA+, moradores de periferias e recentemente, pessoas de faixas etárias diversas ganham mais espaço no setor.

“Na inclusão de pessoas que têm mais idade, tem comunidades se formando para pessoas com mais de 40 anos que querem entrar na área da tecnologia. Pessoas essas que são vistas pelo mercado de trabalho com um certo preconceito”, afirma Rokssane Freire, que encontrava-se desestimulada até ingressar no mercado de tecnologia.

Com formação em marketing, a jovem de 27 anos lamenta a falta de oportunidades na área, motivo pelo qual decidiu iniciar uma transição de carreira. “No começo do marketing eu tive muita frustração e eu tive muita decepção, principalmente quando era bem no começo do curso, que a gente tentava aplicar para vaga de estágio e quando apareciam oportunidades, nenhuma dava certo”, lembra.

Foi então que ela descobriu o Juventude Digital e participou de cursos e oficinas relacionados a currículos, LinkedIn e ferramentas experiência do usuário (UX). "Eu acabei encontrando a vaga pelo LinkedIn e eu apliquei. Foi uma exceção, na verdade, porque a maioria das vagas de UX pedem portfólio e no começo eu não tinha um", revela.

Há nove meses, Rokssane é designer de experiência do usuário em uma “software house” de Fortaleza. Ela diz que o atual emprego mudou muita coisa na vida. "De alguma forma, me moldou, me preparou e me deu muito mais conteúdo para conversas ou para abordagens futuras com pessoas da área”, diz.

Mulher, negra e moradora do bairro Parque Araxá, agora ela tem motivos para comemorar sua inclusão social também a partir do retorno financeiro. “Para quem entra, é um salário considerável.” A tecnologia também é a responsável por ter levado a UX designer a despertar para novas questões. Durante um bootcamp elaborado pela Reprograma, iniciativa de impacto social com foco em reduzir a disparidade de gênero no setor de tecnologia por meio de capacitações, Rokssane descobriu novas maneiras de existir.

“Foi onde a minha bolha estourou, foi onde eu conheci realmente a minha realidade como mulher, que eu não a conhecia, e também o que a gente passa como mulheres, justamente por essa falta de oportunidades, por essa falta acessibilidade, incentivo, principalmente dentro da comunidade da tecnologia”, relata.

“Isso me levou a considerar que eu posso fazer a diferença incentivando outras mulheres, motivando outras mulheres a correr atrás não só do curso, mas de procurar a pensar na vida digna, procurar a tecnologia como uma maneira, como um dos caminhos para construir o seu próprio futuro”, conclui.

O contato com a área da tecnologia também despertou na estudante de engenharia Andressa Villela o sonho de deixar sua marca no mundo. "Eu pretendo fazer um mestrado e um doutorado em tecnologias assistivas, que é basicamente tecnologia para pessoas com deficiência, acessibilidade”, relata. “Existem muitas pessoas com deficiência que querem se inserir no mercado de trabalho, que querem se capacitar. E, ao entrar numa faculdade, por exemplo, não têm assistência. Foi a partir dessa necessidade que eu me interessei bastante pelo tema”, diz a futura pesquisadora, que já guarda alguns projetos para desenvolver.

 

Serviço

Juventude Digital
Programa de capacitação de jovens para o mercado de tecnologia
Site: jd.fortaleza.ce.gov.br
Instagram: @juventudedigital_/