Jovens Empreendedores

Empreendedorismo como alternativa às vulnerabilidades

Estratégias coordenadas geram oportunidades para jovens em territórios suscetíveis em todo o Ceará

O empreendedorismo é reconhecido como um fator potencial para se quebrar o ciclo da pobreza e de prevenção da violência, principalmente entre jovens. A atividade empreendedora permite que os jovens que moram em territórios vulneráveis avancem em graus de autonomia. Nesse cenário, o empreendedorismo é um dos pilares de projetos do Programa Integrado de Prevenção e Redução da Violência (PReVio), executado pela Assessoria de Prevenção à Violência do Governo do Ceará (Asprev). "O PReVio atua prioritariamente junto às juventudes periférica e negra, mulheres em situação de violência doméstica e familiar, população LGBTI+ e jovens egressos do sistema socioeducativo", explica Avilton Junior, assessor de Prevenção à Violência do Governo do Ceará.

Famílias têm visto a vida ser transformada a partir de ações que mais do que “dar o peixe”, aos moldes de uma política assistencialista, o empenho é para ensinar os jovens a “pescar”. Um dos projetos do PreVio é o Virando o Jogo. Direcionado a jovens entre 15 e 22 anos que estão fora da escola ou ainda não trabalham, a meta é alcançar, até 2026, dez municípios cearenses que, juntos, concentram 52% dos índices de homicídios no Estado.

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Tamires Silva, 19, é uma das participantes da última edição do projeto. Moradora do Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, ela participou do curso profissionalizante Auxiliar Administrativo, definindo a experiência como "maravilhosa". “Aprendi sobre como a gestão de uma empresa funciona, o cuidado com os colaboradores, direitos e deveres”, elenca. O curso rendeu uma vaga em uma empresa do ramo hospitalar. “Através do projeto, fui encaminhada para um processo seletivo para jovem aprendiz, e consegui o meu primeiro emprego: auxiliar de escritório”, comemora.

"O Virando o jogo tem equipes de áreas que fazem a busca ativa pelos jovens. Existe uma articulação institucional e comunitária que vai aos Cras, Creas, Postos de saúde que indicam o jovem para participar. Também acessamos a listagem da Seduc para identificar quem abandonou a escola. Além disso, temos o site em que o jovem pode se inscrever", conta Camila Paiva, supervisora técnica do Virando o Jogo.


Empreendedorismo que empodera
O empreendedorismo é também estratégia para o rompimento de ciclos de violência que sufocam muitas jovens mulheres no Estado. A relação entre violência de gênero e falta de oportunidade se dá, entre outros aspectos, na dependência econômica, responsável por manter muitas mulheres em relacionamentos abusivos, especialmente em regiões de muita vulnerabilidade. Quem afirma é Gabriela Freitas, integrante da equipe do PReVio.

Ela também coordena o projeto Empodera, iniciativa do Programa que promove a autoestima e o empoderamento econômico de mulheres em situação de violência doméstica e familiar. “Quando a gente oferece uma oportunidade de qualificação profissional ou de participação de um projeto onde existe um período de transferência de renda para essas mulheres, a gente está abrindo uma porta para uma outra trajetória”, explica Gabriela.

O Empodera vai distribuir, nos sete primeiros meses, auxílio financeiro de R$ 400 vinculado à frequência. Nos três meses finais de capacitação, as participantes receberão um capital semente no valor de R$ 2 mil para abrirem os próprios negócios. Inicialmente, o projeto vai atender 280 mulheres, encaminhadas a partir de triagens em espaços de atendimento especializado. Até 2026, a meta é acompanhar 920 mulheres em dez municípios cearenses.

Socioeducação para a vida
Apostar na autonomia intelectual e financeira da juventude tem mostrado resultados também no sistema socioeducacional do Estado. Ações da Superintendência do Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo do Estado do Ceará (Seas), órgão que atende adolescentes que cumprem medidas socioeducativas de semiliberdade e internação, mostraram queda no quantitativo de jovens nessas condições.

Em 2016, o Estado tinha em torno de 1.300 jovens nos centros socioeducativos. Hoje, o Ceará atende um total de 460 jovens distribuídos em 19 centros. Já as reincidências, que ultrapassavam a marca de 40% até 2019, são menores que 20%. “Efetivamente, 80% dos jovens que passam pelas medidas socioeducativas não retornam para os centros socioeducativos no Estado do Ceará”, informa Roberto Bassan, superintendente da Seas.

Ele cita exemplos de jovens que, uma vez atendidos pela Seas, conseguem diminuir a distorção idade-série, concluir o ensino médio e até alcançar o ensino superior. Apesar de ter como foco uma estratégia tática, a Seas também contribui na execução de projetos que trabalham a prevenção da violência a partir do envolvimento da família do jovem.

“A referência desse núcleo familiar que queira fazer cursos profissionalizantes enquanto esse jovem está cumprindo medidas socioeducativas, gratuitamente é feita a oferta dos cursos e a participação das famílias tem sido fundamental”, defende o superintendente.

No eixo de qualificação profissional, os retornos positivos ocorrem no cenário empreendedor. “As unidades têm focado nos cursos de barbearia, de design de sobrancelha, de cabeleireiro, e tem exemplos de jovens que realmente saem das unidades, abrem seu pequeno negócio e mudam a sua trajetória de vida a partir desse contexto”, explica.

Marcelo Andrade (nome fictício), 17, cumpre medidas socioeducativas em liberdade assistida. Morador do bairro Álvaro Weyne, em Fortaleza, o jovem cursa o segundo ano do ensino médio e se qualificou em diversos cursos no centro socioeducativo, oferecidos pela Seas em parceria com outras instituições. Reparos domésticos, informática, culinária e operador de processos logístico estão entre as formações realizadas, afirma o adolescente.

Há quase um mês, o jovem passou a ocupar um novo espaço: tornou-se estagiário da Defensoria Pública do Estado do Ceará, onde realiza atividades relacionadas à recepção de pessoas em uma das unidades do órgão. “Está sendo bom, estou aprendendo muita coisa por lá. A digitalizar papéis, a conversar com as pessoas”, afirma.

“Olhar o futuro é pensar esse jovem como protagonista da sua própria história. Que as relações sejam de mais oportunidades, e que o eixo de qualificação profissional possa possibilitar que ele tenha a própria escolha. Nós não podemos determinar o futuro desse jovem, mas podemos, sim, dar condições para que esse futuro seja diferente a partir de uma escolha de um protagonismo”, afirma Bassan.

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