Cervejarias: por que apostar no segmento?

Novos hábitos de consumo estão fazendo o mercado de cerveja se expandir no Brasil. As cervejarias artesanais puxam esse crescimento e começam a se multiplicar em Fortaleza

08:53 | Dez. 04, 2018

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Não teve crise que fizesse o brasileiro parar de tomar cerveja. O consumo até deu uma diminuída, mas o setor é um dos poucos que ainda segue forte, em crescimento e com perspectivas de se expandir ainda mais. 
 
Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em 2008, o número de cervejarias registradas no Brasil não chegava a 100. Hoje, já são 835. Somente entre dezembro de 2017 e setembro de 2018, o segmento cresceu 23%. 
 
Grande parte da expansão deve-se às cervejarias artesanais, que se multiplicam pelo Brasil. A região Sul ainda é a com maior número de cervejarias (369), seguida pelo Sudeste (328), Nordeste (61), Centro-Oeste (51) e Norte (26). A conta se refere apenas às cervejarias com produção e marcas próprias. Se somar as cervejarias ciganas [que terceirizam a produção das suas cervejas], os números são ainda maiores. 
 
Mudança de hábito ajuda na expansão
Para a administradora Fabiana Gizele*, o crescimento do mercado pode ser explicado por uma mudança cultural nos hábitos de consumo de cerveja no Brasil. “Cada vez mais o consumidor tem procurado um produto diferenciado, a experimentação. Hoje, no mercado europeu, a grande história é experimentar vários sabores. No Brasil não está diferente”, avalia a administradora, que é também uma das sócias da cervejaria cearense Sabeer.
 
Segundo ela, para muitos brasileiros, beber cerveja, principalmente as artesanais, está passando ser uma experiência de consumo, tal como é para os admiradores de vinhos. “O consumidor está brincando com o paladar. Ele bebe menos, mas quer beber melhor”, pontua. 
 
A variedade de sabores ajuda nessa brincadeira gustativa. Hoje o mercado oferece sabores, literalmente, para todos os gostos. Cerveja de café, chocolate, jerimum, gengibre. Pode inventar um ingrediente e é provável que alguém já esteja produzindo uma cerveja com ele.
 
Vale a pena investir nas cervejarias?
O número de novas empresas surgindo no segmento aponta para um mercado em plena expansão. No Ceará, no entanto, a produção local ainda é inexpressiva quando comparada a estados da região sul e sudeste. Porém, o aumento da procura pelas cervejas diferenciadas já érealidade por aqui.
 
Foi de olho nessa lacuna que cinco amigos decidiram inovar e, em 2016, criaram a primeira cervejaria artesanal genuinamente cearense, a 5Elementos. Com investimento inicial em torno de R$ 400 mil reais, o grupo montou a cervejaria e investiu outros R$ 300 mil para montar o bar da fábrica, onde servem os rótulos que produzem diretamente ao consumidor.
 
A empresa iniciou produzindo 1.500 litros por mês. Hoje, já são 7 mil litros/mês e, em breve, deve aumentar para 10 mil litros/mês. Atualmente, os cinco rótulos da 5Elementos são distribuídos para 200 pontos de vendas, sendo mais de 50% deles localizados fora do Ceará.
 
“O mercado aqui ainda engatinha. Quando iniciamos, nós contávamos com cerca de 10 torneiras de chope artesanal em Fortaleza. Hoje, são mais de 300 torneiras e o número só cresce”, ressalta Wellington Alves, um dos sócios da 5Elementos.
 
Para ele, a cerveja artesanal não pode ser considerada uma moda, mas sim, “uma mudança de paradigma”. “O interesse por buscar uma coisa nova é real”, diz. Segundo o cervejeiro, vale a pena investir nas cervejarias, mas é preciso alguns cuidados.
 
“É necessário você ter um background para segurar a barra, porque o lucro em uma cervejaria não é tão exuberante, não aparece de forma tão rápida como outros setores. Mas a gente consegue fazer uma leitura de que é um mercado que só cresce, então tem muito futuro e acaba sendo bastante interessante investir”, avalia. 
 
Da informalidade ao pequeno negócio 
Como qualquer negócio, montar uma cervejaria requer uma análise de mercado e uma boa gestão administrativa-financeira. De acordo com Fabiana Gizele, para as cervejarias ciganas, que ainda estão em fase de construção da marca e sabores, antes de fazer um investimento maior, é preciso levar em consideração alguns pontos. 
 
“É preciso avaliar se conseguiram desenvolver um bom produto, se ele teve aceitação dos clientes da rede de contato dele e se a marca soube se posicionar no mercado. Se o empresário tiver uma boa visão de mercado, vale a pena investir”, pondera. 
 
Para os sócios da cervejaria cearense Luzterr, o caminho trilhado foi bem por aí. A produção teve início como o hobby de cinco amigos, que produziam cerveja para consumo próprio. O produto teve aceitação dos amigos, se espalhou por festas particulares, começou a ser vendida para conhecidos, até que, em 2017, a cervejaria entrou formalmente no mercado, com o lançamento de três rótulos.
 
“Ainda estamos tentando descobrir os caminhos da área comercial, que é difícil, mas hoje a gente já conta com um comercial mais profissionalizado que está fazendo a capilarização do produto. A gente está conseguindo atingir um maior número de pontos de vendas [cerca de 50 pontos] e está sempre tendo uma repetição de pedidos”, comemora Eduardo Lopes, um dos sócios da Luzterr.
 
* Fabiana Gizele Fabiana Gizele é Gerente do Sebrae Baturité