Grandes Nomes

Cláudia Leitão ao Grandes Nomes 2024: reflexões em políticas públicas

Referência no campo de políticas públicas e em economia criativa, a pesquisadora e consultora fala sobre si, sobre a união entre cultura e economia, e sobre o Ceará

Cláudia Leitão é uma referência no debate sobre políticas públicas e desenvolvimento, em especial no campo da cultura. Com currículo extenso, a ex-secretária da Cultura do Estado do Ceará (2003-2006) e ex-secretária da Economia Criativa do Ministério da Cultura (2011 a 2013) é a entrevistada da vez no projeto Grandes Nomes, Grandes Entrevistas, realizado pelo Grupo de Comunicação O POVO.

A jornalista Neila Fontenele conduziu a entrevista, divulgada na manhã ontem, 21, e já disponível no canal do O POVO no YouTube.

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Cláudia Leitão é sócia do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento e membro do Conselho Consultivo da empresa portuguesa Territórios Criativos (2020) e consultora ad hoc em Economia Criativa para a Organização Mundial do Comércio (OMC), para a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e para a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Desde cedo, a música e as atividades artísticas desempenharam papel central em sua formação pessoal e profissional, oferecendo uma compreensão mais ampla do mundo, além das lógicas racionais e deterministas.

A união entre o Direito e a Música, inicialmente vista como incomum, provou-se fundamental para a atuação como secretária de cultura do Ceará, relata Cláudia. Segundo conta, o exercício desse cargo foi um divisor de águas, levando a um profundo entendimento das realidades culturais do Ceará e a conexão com a diversidade do Brasil profundo.

“Foi aí que também começaram a surgir os insights sobre essa questão da economia e da cultura. De entender que quando nós fazíamos uma ação estruturante nas diversas regiões, a gente movimentava a economia do município, do conjunto de municípios”, afirma.

A caminhada pelo estado revelou a riqueza de expressões culturais e a necessidade de políticas públicas que valorizassem a cultura como identidade, direito e vetor econômico. Sob uma perspectiva inspirada por Gilberto Gil, então ministro da Cultura (2003-2008) foi possível enxergar a cultura de maneira tridimensional: antropológica, cidadã e econômica.

Foi essa abordagem a responsável por transformar festivais e eventos culturais em instrumentos de desenvolvimento local, ao mesmo tempo que promovia a inclusão e o fortalecimento das comunidades.

“Talvez o grande momento, quando eu penso e fecho o olho e lembro da minha gestão no Ceará, há 20 anos, foi o fato de que, no primeiro ano, eu disse para o Ministro Gilberto Gil, nós vamos criar uma lei dos mestres da cultura aqui. Porque ninguém vê esses mestres e essas mestres. Nós precisamos dar visibilidade a essas pessoas, dar dignidade para elas, compreendê-las, como a Unesco chama, dessa categoria rara do planeta que são os tesouros vivos, homens e mulheres de saberes e fazeres que estão em extinção e que a gente tem que proteger, valorizar e reconhecer”, relata.

Ir para fora e se voltar para dentro

Se a iniciativa de Cláudia Leitão colocou o Ceará como pioneiro na política de valorização dos mestres e mestras da cultura no Brasil, enaltecendo o regional, esse reconhecimento do valor local chegou apenas depois que Cláudia foi buscar referências fora de casa.

A vivência acadêmica, com o doutorado em Sociologia na Universidade de Sorbonne (França) e as leituras de Celso Furtado, agregou ferramentas teóricas para enxergar a cultura sob o prisma do desenvolvimento e da economia criativa.

“Quando eu andei pelo Ceará, palmo a palmo, município e distrito por distrito, eu entendi, compreendi coisas que só na caminhada, como diria o Guimarães Rosa, eu entenderia o real. A volta para a universidade depois foi uma outra volta. Eu atravessei um rio e não voltei para o mesmo lugar, porque eu não era mais a mesma”.

Inspirada por experiências internacionais, como na Austrália, e pela relação íntima com o Cariri e suas tradições, a jornada demonstrou que o estudo e a arte se complementam e são indispensáveis para nomear, valorizar e potencializar os talentos e riquezas locais, afirma Cláudia.

“Eu não sou economista, mas eu comecei a ler cada vez mais Furtado, a entender mais as relações da cultura com o território, o lugar da cultura nessa relação do trabalho. E isso foi me encantando e eu fui tentando estudar, fui para a Austrália conhecer a primeira política de economia criativa que acontece nessa virada do século e é um sucesso. E isso depois vai para os ingleses e acaba sendo uma experiência anglófona. Mas eu pensei, e a África? E o Caribe? E nós? E a América Latina? Como é que a gente pode também, no processo antropofágico, aprender a engolir tudo isso, mas digerir e devolver de uma outra forma?”

O impacto transformador dessa caminhada reflete-se no legado deixado, na criação de políticas culturais estruturantes e na capacidade de mobilizar o território através da cultura. A trajetória de Cláudia Leitão é um testemunho de como a arte, o estudo e a sensibilidade têm o poder de "mundar" (que significa, segundo o amigo Mario Luz Souza, “mudar o mundo”). Mas “mundar” não somente uma vida, mas todo um contexto social e econômico de um povo.

Acesse a íntegra da entrevista:

Projeto Grandes Nomes, Grandes Entrevistas - 21ª edição

Entrevistas: de 18 a 22 de novembro e no dia 25 de novembro de 2024, às 11 horas (YouTube e Facebook do O POVO), e às 16 horas (Rádio O POVO CBN - FM 95.5)
Site: www.especial.opovo.com.br/grandesnomes/

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