Cada Gota Importa

A ameaça do El Niño no Ceará

A presença do El Niño no clima global influencia significativamente os recursos hídricos do Ceará

O El Niño provocado pelo aumento da temperatura do Oceano Pacífico equatorial, tende a provocar secas no Estado. As chuvas escassas durante os eventos do fenômeno afetam diretamente os reservatórios, comprometendo o abastecimento de água para a população e a irrigação agrícola.

A redução da disponibilidade hídrica também intensifica a desertificação e prejudica os ecossistemas locais. “O El Niño moderado, moderado a forte, e forte tendem a impactar negativamente tanto o rendimento da agricultura de sequeiro como o aporte aos reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão de Recursos Hídricos”, explica Eduardo Sávio Martins, presidente da Funceme, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

Mas qual será o verdadeiro impacto do El Niño no Ceará, com a incidência do fenômeno marcando o ano de 2024? “A incerteza é enorme, podendo-se ter um indicativo apenas sob certas condições, as quais nem sempre estão evidentes no monitoramento. Este ano foi possível indicar, em janeiro, a preocupação com o El Niño, e seus efeitos sobre a quadra de 2024. Nem sempre isto é possível”, afirma Eduardo.

A única certeza é que o Ceará será impactado. A questão é saber o nível deste impacto. Tudo vai depender do nível de aquecimento das águas do Pacífico e o local onde esse aquecimento acontecerá com mais potência. Se o aquecimento começa e se desenvolver mais próximo à região central do Pacífico, a influência é menor do que quando o fenômeno ocorre mais próximo à costa do Peru. E se a anomalia de temperatura da superfície do mar ultrapassa 2°C, ocorre o que alguns pesquisadores classificam como o “super El Niño”.

Olhando para trás, as últimas vezes em que o "super El Niño" afetou o Ceará foram nos períodos de 1982/1983, 1997/1998 e 2015/2016. Nestes anos, houve muito impacto para a quadra chuvosa do Ceará. Enquanto o esperado era de 600 mm para o quadrimestre de fevereiro a maio, foram registrados menos de 400 mm em todos estes períodos. Já no período de 2018/2019, o El Niño foi considerado fraco, e choveu 672 mm durante a quadra chuvosa, nível bem acima da média.

“Tivemos uma boa reposição das águas dos nossos sistemas monitorados como podemos observar ao compararmos a situação de hoje com a do mesmo período de 2016”, reforça o presidente da Funceme, comparando a situação atual com a da época em que o El Niño chegou forte. Mas o impacto será inevitável. “O El Niño deve impactar também em termos de altas temperaturas, reduzindo tanto o aporte, como ao mesmo tempo os volumes armazenados nos reservatórios, por evaporação. Ao mesmo tempo, as necessidades hídricas das culturas irrigadas devem também aumentar, por conta do mesmo motivo: aumento das temperaturas e, consequentemente, da evapotranspiração”, completa.

Como o Ceará se prepara para enfrentar esta situação que pode se tornar bastante grave?

O Sistema Estadual de Recursos Hídricos do Estado já trabalha para tentar garantir que o bom aporte da quadra chuvosa de 2023 garanta uma segurança hídrica para 2024, mesmo em caso de chuvas abaixo da média. “Em termos de resposta emergencial, trabalhamos com o monitoramento das condições de criticidade em termos de segurança hídrica das sedes municipais, assim como a identificação antecipada de alternativas para assegurar o abastecimento humano nestas sedes. Este é apenas um exemplo, muito fruto do esforço técnico de um grupo mobilizado de forma permanente para assegurar esse objetivo, o Grupo de Contingência, que é liderado pela Casa Civil e Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), conta com a participação da Cagece, COGERH, Sohidra, Funceme e Defesa Civil Estadual. A próxima reunião deve contar com a liderança do nosso governador Elmano de Freitas”, afirma Eduardo.

No médio e longo prazo, são necessárias obras que o Ceará já começa a definir. Vários projetos de natureza estruturantes estão sendo projetados, implementados, e em busca de financiamento. “Como exemplo, posso citar o Malha D'água Banabuiú, no Sertão Central, em fase de implantação, e o Malha D'água Sertões de Quixeramobim, em Quixadá, este com financiamento pré-aprovado pelo Ministério da Economia e em fase de estudos preparatórios para assegurar o crédito via Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD)”, revela Eduardo

O El Niño no Ceará



- Efeito provável: alteração na quadra chuvosa, com grande probabilidade de seca.



- Duração: de três meses a até dois anos seguidos sobre a quadra chuvosa.



- Fator determinante: condições atmosféricas e oceânicas e local do aquecimento. Se o aquecimento da temperatura da água ocorre mais próximo à região central do Pacífico, a influência é menor. Se ele ocorre mais próximo à costa do Peru, a influência é maior.



- Previsão para 2024: mais próximo do Peru.



- Períodos em que o fenômeno foi mais intenso na quadra chuvosa: 1982/1983, 1997/1998, 2015/2016.

- Nível de chuvas normal: 600 mm (fev a mai).



- Nível registrado nos períodos mais intensos do fenômeno: menos de 400 mm.



Fonte: Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme)

 

Conteúdo de responsabilidade do anunciante
Cada Gota Importa
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar