A importância de políticas de governança dos negócios ante os atuais desafios sociais e ambientais
ARTIGO: Silvana Parente é Diretora de Economia Popular e Solidária da ADECE onde coordena o Programa de Microcrédito do Estado CEARA CREDIOs desafios sociais e ambientais estão materializados no Pacto Global da ONU em torno dos objetivos do desenvolvimento sustentável da Agenda 2030, os quais foram debatidos recentemente no evento Conexão ODS no Ceará, com a presença do economista Mohamed Yunus, prêmio nobel da paz. Segundo ele esses desafios podem ser resumidos na utopia de mundo três zeros: zero pobreza, zero desemprego e zero emissão líquida de carbono.
Essa abordagem vai além das práticas ESG e questiona os pilares do sistema capitalista centrado essencialmente no lucro e nas forças do mercado. É que o modelo econômico vigente tem negligenciado os atuais desafios sociais e ambientais, diante de tamanha pobreza, desigualdades e degradação ambiental, razão pela qual o mundo busca por sistemas econômicos que funcionem de outra forma, a exemplo dos movimentos ESG, negócios de impacto, economia solidária, economia de Francisco. Todos reconhecem que a consciência social e ambiental deveria ser o pilar na tomada de decisões tanto de gestores públicos quanto de atores privados, para que tenhamos uma economia baseada em valores humanistas, da equidade e da sustentabilidade.
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O conceito ESG surgiu em 2005 ocasião em que a ONU reuniu 20 instituições financeiras de 09 países, para discutirem uma forma de incluir esses desafios sociais e ambientais no mercado de capitais, o que foi uma evolução do conceito de responsabilidade social privada, incorporando nas empresas a governança corporativa integrada a esses fatores.
A lógica foi: para que as empresas incorporem em sua gestão o ESG, é preciso que o mercado de capitais as valorize, gerando ganhos adicionais de valor financeiro. É tanto que o nome do Relatório era “Ganha quem se importa”, ou seja, as empresas têm maior probabilidade de sucesso e rentabilidade se criarem valor para todos os seus stakeholders. Por isso os fatores não financeiros que compõem a abordagem ESG foram tão exaltados nos Foruns Econômicos de Davos, desde 2020, pelo seu esperado impacto significativo nos valores financeiros. Essa é a promessa do ESG.
São exemplos de benefícios com o ESG: maior facilidade de captação de recursos, preferência de consumidores que reconheçam a pegada ambiental e social, melhor gestão de riscos, o uso de insumos sustentáveis que reduza custos, políticas de diversidade, gênero e participação dos colaboradores que resultem em mais satisfação e inovação, gerando ganhos de produtividade.
Assim, as empresas devem incorporar em sua estratégia e decisões gerenciais os desafios ambientais e sociais, sendo o G da governança corporativa o fator que articula e faz os outros dois acontecerem. É através da Governança que partem os temas estratégicos, os riscos assumidos e oportunidades, as decisões de investimento e de gestão que incorporem os fatores sociais e ambientais. Não se trata de ações isoladas compensatórias e sim da inserção desses fatores desde o desenho de produtos, os processos produtivos, o ciclo de vida dos produtos, as relações de trabalho, as relações com fornecedores, clientes, acionistas e com demais atores do território.
Além disso, o desenvolvimento sustentável não é um processo que depende somente da intervenção do estado, nem tampouco é o resultado exclusivo das atividades empresariais. A eficiência produtiva e competitividade das empresas depende da criação negociada e compartilhada de um ambiente social e político-institucional inovador que envolve educação, saúde, habitação, infraestrutura básica, segurança e sistema judicial resolutivo de conflitos.