Mulheres são empoderadas a partir da folha da carnaúba
A produção de artesanato desenvolvida a partir da folha de carnaúba é uma atividade responsável por manter a autoestima e a confiança de diversas mulheres do interior do Estado
07:00 | Jul. 19, 2018
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A habilidade de trançar a folha de carnaúba e transformá-la em objeto de uso, como chapéu e bolsa, é um trabalho minucioso e delicado que Francisca das Chagas, 42, aprendeu a desenvolver aos cinco anos. Com a prática passada entre gerações, a artesã acompanhou desde cedo o trabalho da avó e da mãe com o material e hoje faz parte da Associação Mucaúba, na comunidade de Muquém de São Pedro, em Cariré (CE).
“Desde quando me conheço como pessoa que vivo do artesanato, da folha da carnaúba. As mulheres daqui sempre trabalharam com isso. Eu aprendi com minha mãe, que aprendeu com minha avó”, conta. A associação Mucaúba surgiu em 2012 e, em 2016, o programa Ypióca de Artesanato – Gerando Valor, Somando Saberes teve início na cooperativa para fortalecer e valorizar a atividade realizada pelas mulheres da comunidade.
De acordo com a artesã, o trabalho tem grande importância em sua vida. “É muito gratificante trabalhar com o que a gente gosta e ser reconhecida. O artesanato atua no sentido de crescimento e conhecimento. Com ele, conheci muitos lugares e pessoas boas.” Francisca também ressalta que o trabalho contribui no orçamento familiar. “É uma renda a mais na minha vida, na minha família. Ajuda a gente a se fortalecer como trabalhador. Queria que muitas outras empresas seguissem esse exemplo de criar projetos para comunidades pequenas.”
Pelo interior do Ceará
O programa Ypióca de Artesanato, além de atuar na associação Muquém de São Pedro, em Cariré, apoia mais duas comunidades do interior do Ceará: a Associação Comunitária das Mulheres de Curralinho (ACMC), em Morrinhos, e a Associação de Artesanato de Ipaguaçu Mirim (AAPIM), em Massapê.
Em Morrinhos, o artesanato sempre fez parte da cultura da região. No entanto, a produção era carente de apoio técnico. Segundo Paloma Maria Rocha, presidente da associação, o programa Ypióca de Artesanato contribuiu para que a cooperativa tivesse melhor organização na demonstração dos produtos e na parte financeira. “A Ypióca começou a trabalhar com a gente e nos deu alguns direcionamentos. Tivemos aulas de marketing, aprendemos como fazer divulgação e recebemos orientação financeira”, afirma.
De acordo com a presidente, a faixa etária das mulheres que participam da associação varia de 30 a 60 anos e é a união e o desenvolvimento que contribuem para a continuação do trabalho na comunidade. “A gente sabe que existe essa questão de muitos pensarem que a mulher é inferior ao homem, que ainda existe o machismo. Hoje elas saem e os maridos reclamam, mas elas já se empoderaram e sabem que isso faz com que elas ganhem o próprio dinheiro”, pontua. Hoje, os produtos das mulheres da associação são vendidos em lojas virtuais, feiras e mutirões.
Em Massapê, a associação, que tinha parado de produzir em 2008, voltou a ser ativa com o apoio do projeto. “Foi por meio do programa que a associação foi fundada. A Ypióca fez o projeto e doou uma quantia para fundar a cooperativa e comprar o material. Foi assim que conseguimos montá-la devidamente legalizada”, pontua o presidente da associação Halisson Mateus. Hoje, as principais atividades desenvolvidas pela associação para a empresa Diageo é a garrafa de palha e o gargalo. Além disso, a associação também produz bolsas de praias, chapéus e viseiras para o comércio da região. “Esse apoio é muito positivo, porque é uma geração de renda. Aqui toda mulher produz e isso é bom, porque elas têm o próprio dinheiro. Além de ajudar no comércio da cidade”, frisa.
Investindo em artesanato e empreendedorismo
De acordo com Daniela de Fiori, diretora de relações corporativas da Diageo, quando a empresa comprou a Ypióca, parte do que a atraiu foi a conexão da marca com o Ceará. “A Ypióca tem a cara do Ceará, é uma herança cultural que é traduzida na garrafa vendida com a palha de carnaúba. Um trabalho que passa de geração a geração”, pontua.
A criação do programa Ypióca de Artesanato, segundo a diretora, surgiu como uma maneira de fortalecer a relação com as artesãs. “É um trabalho que agrega muito valor à marca. Ao mesmo tempo, tem uma relevância extraordinária na vida dessas mulheres, nessas comunidades”, afirma. Embora a companhia já demandasse alguns serviços para as profissionais, muitas vezes o lucro para as mulheres era incerto. “A empresa percebeu que acabava sendo um trabalho que era feito apenas por encomenda e que não havia outros clientes que podiam fazer pedidos para essas pessoas. Acontecia que, eventualmente, uma venda menor interferia imediatamente na renda das artesãs”, pontua Daniela.
"A razão da escolha foi justamente porque essas comunidades já participavam da cadeia de suprimento da empresa. A ideia era estimular esse empreendedorismo, coloca-las para aproveitar seu potencial, ampliando, também, a renda na região", explica.
Daniela também pontua que a Diageo entende a importância de investir a longo prazo. "Promover essa oportunidade de desenvolvimento social econômico faz parte do DNA da empresa."
De acordo com Lúcia Sá, gerente de produção artesanal da Central de Artesanato do Ceará (Ceart), vinculada à Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Econômico (STDS) do Estado, o trabalho desenvolvido pelas artesãs faz parte da economia criativa e soma na vida das mulheres que dependem do trabalho. “90% dos profissionais de artesanato são mulheres. Elas são donas de casa, trabalham e têm sua renda a partir disso. O trabalho faz com que elas tenham independência e orgulho de serem a geradora de renda da sua própria casa”, conta ressaltando que o projeto Ypióca de Artesanato beneficia artesãs que são vinculadas à Ceart.
Serviço
Para participar das associações, basta entrar em contato com os presidentes ou responsáveis.
Associação Comunitária das Mulheres de Curralinho (ACMC)
Contato: (88) 99630 6786
Associação de Artesanato de Ipaguaçu Mirim (AAPIM)
Contato: (88) 99730 4721
Associação Mucaúba
Contato: (88) 99730 4721