Siderúrgica é âncora do desenvolvimento econômico local do Pecém

A instalação de grandes indústrias em São Gonçalo do Amarante promoveu o crescimento de outros negócios, em especial de pequenos empreendedores locais. De 2012 a 2017, o número de micro e pequenas empresas (MPE) no município cresceu em 181,88%

08:00 | Nov. 29, 2018

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A administradora de empresas Elisângela Marques Bezerra, 44, chegou ao Pecém há cerca de oito anos, juntamente com seu marido, o chefe de cozinha argentino Juan Sciurano, disposta a investir em uma região em plena expansão econômica. As perspectivas de crescer a reboque das grandes empresas que se instalavam no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) eram reais e muito positivas. Segundo Elisângela, a construção da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) foi o grande chamariz para sua decisão de trocar Fortaleza, onde já morava há 14 anos, por São Gonçalo do Amarante. Hoje, as empresas do casal empregam, ao todo, nove pessoas.

"Como sou paulista e frequentava muito Santos, eu via como a economia da cidade e da região era movimentada pelo porto e pelas empresas que se instalaram lá. Então, eu vi que era uma boa oportunidade investir no Pecém", conta Elisângela, que tem atualmente dois negócios no local: uma pousada, inaugurada em 2013, e o restaurante Dom Vicente, na Praia da Colônia, criado em 2017.

A empresária sabe que ainda há muito a crescer, tendo em vista as expectativas de que mais indústrias se instalem na região e de que as que já estão instaladas ampliem suas atividades nos próximos anos. Elisângela enfatiza que o movimento do restaurante chegou a duplicar desde a sua inauguração e projeta que, se as expectativas de crescimento no Cipp se confirmarem, possivelmente o casal abra outro restaurante até 2020.

Trabalho de longo prazo

Victor Samuel, secretário de Desenvolvimento Econômico de São Gonçalo do Amarante, afirma que a siderúrgica trouxe muitas mudanças e alavancagem ao território durante sua implantação e, agora, com o seu pleno funcionamento. Para ele, tão importante quanto a chegada da usina é a implementação, no futuro, do polo metal mecânico, que tem a siderúrgica como a grande âncora.

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"A CSP é a grande âncora do Cipp e não só para São Gonçalo do Amarante, mas para o Pecém como um todo, incluindo parte de Caucaia. Impacta também Fortaleza, beneficiada hoje em relação aos empregos que exigem uma maior qualificação", assinala Samuel. Ele diz que São Gonçalo do Amarante vem realizando, em parceria com a CSP, um trabalho em longo prazo, visando a aumentar o percentual de empregados permanentes que morem, consumam e vivam na região. E os negócios que têm se estabelecido em virtude das grandes companhias do Cipp também são grandes geradores de empregos.

 

O sociólogo Janivaldo Teixeira Ferreira, 52, tanto sabe disso que, há um ano e meio, instalou sua empresa, a Tellus Consultoria, para prestar serviços na área de desenvolvimento territorial tendo em vista os impactos do Cipp. São projetos de consultoria em temáticas como diálogo social, relacionamento com as comunidades, projetos sociais, empreendedorismo, associativismo e responsabilidade social. "Tudo que tem a ver com o desenvolvimento do território e com a potencialização dos negócios na região", observa Ferreira, que durante quatro anos trabalhou para a CSP na área de diálogo com as comunidades.

"Na perspectiva econômica, com a circulação de dinheiro e a arrecadação de impostos, a CSP é uma indutora de negócios na região. Mas não só isso. A siderúrgica tem uma política de sustentabilidade consolidada, que inclui, entre outras ações, a capacitação das pessoas para fornecerem produtos e serviços à usina", afirma o consultor. Ele cita o programa Território Empreendedor, que capacita os pequenos empreendedores da região. Ele mesmo já já fez dois cursos, um sobre base produtiva para gestão de pequenos negócios, e o "Liderar", que forma lideranças e estimula o associativismo.

De acordo com o consultor, também presidente da Associação Empresarial e Comercial do Pecém (Unipecém), o resultado desse trabalho é a implementação de uma rede de cooperação, lançado em 2017, o fórum tem reunido pequenos empreendedores da região que têm se articulado para desenvolver e fortalecer seus negócios. Atualmente, a rede tem 57 participantes.

Incremento de 181% de micro e pequenas empresas

Para Joaquim Cartaxo, superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Ceará (Sebrae/CE), parceiro da CSP no programa Território Empreendedor, São Gonçalo do Amarante nos últimos anos tornou-se terreno fértil para o empreendedorismo, devido ao conjunto de oportunidades surgidas com os investimentos estratégicos. "É preciso olhar o território como um celeiro de oportunidades de trabalho e renda, ou seja, para além do emprego, é preciso perceber as oportunidades para empreender", afirma.

"O resultado disso é que, entre 2012 a 2017, o número de micro e pequenas empresas (MPE) no município cresceu em 181,88%, um incremento anual de 30,31%. Em 2017, o número de MPE alcançou a marca de 3.205 empresas ativas. Entre os aspectos qualitativos, o superintendente destaca a riqueza do capital social, “rico e dinâmico que tem se organizado para colocar o fortalecimento da economia local como uma das principais pautas do município."

 

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Retorno às origens

Em 2013, Maria da Conceição Martins Viana, 40, voltou a morar no Pecém, sua terra natal, por conta da siderúrgica. A tecnóloga em Gestão Empreendedora enxergou o potencial para as melhorias econômica e social das comunidades. Depois de trabalhar para a própria CSP em dois projetos de incentivo ao empreendedorismo na região – o Trigo de Ouro Caraúbas, para negócios no setor de panificação, e o projeto Transformando Vidas – Conceição decidiu alavancar os negócios da sua própria empresa, a DRH Educação Profissional.

Para atender à demanda das empresas do Cipp e dos demais negócios surgidos em torno do complexo, Conceição identificou a necessidade de que as pessoas da região estejam cada vez mais qualificadas profissionalmente. Para isso, a DRH oferece cursos profissionalizantes a preços populares e, atualmente, conta com cerca de 380 alunos. “São pessoas que precisam aprender inglês, informática e se aperfeiçoar na área comportamental para atuar no âmbito corporativo”, salienta a empreendedora, cujo negócio, em 2018, cresceu cerca de 200%.

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Conceição não tem dúvidas de que a siderúrgica tem atraído muitos dos negócios surgidos na região nos últimos anos. "E a expectativa é de que essas empresas trabalhem o lado social para melhorar a questão do emprego e qualificar as pessoas, visando a um crescimento sustentável, porque a comunidade acha o caminho. É só incentivar, como faz a CSP." 

Ricardo Sabadia, diretor executivo da Associação das Empresas do Cipp (Aecipp), ratifica que a siderúrgica é a grande indutora do desenvolvimento dos negócios surgidos nos últimos anos para suprir a demanda das empresas do complexo. No caso da CSP, são empresas na área de logística, transportes, processamento de resíduos siderúrgicos, gases industriais, energia, engenharia, insumos para a siderurgia, entre outros setores. O Cipp gera um volume anual de compras em torno de R$ 5 bilhões, sendo a siderúrgica responsável por aproximadamente 60%.

Segundo Sabadia, as próprias empresas beneficiadas devem investir cada vez mais para desenvolver e qualificar fornecedores locais, ação que a siderúrgica já vem realizando desde a fase de construção. A expectativa da Aecipp é de que, em 2019, a entidade inicie uma grade de formação desses empreendedores locais para que possam prestar serviços e oferecer produtos com padrão internacional. Cartaxo, do Sebrae-CE, acrescenta que a condução do trabalho da CSP tem sido voltada para estimular o protagonismo da comunidade. “É necessário, portanto, preparar os empresários, compreendendo toda a cadeia de fornecimento, não só para a CSP mas para as empresas do Cipp."