Indústria do aço com a cara do Ceará
Chegada da CSP no Estado contribuiu expressivamente para o mercado de trabalho local, aponta Fiec. Mão de obra cearense é o principal alvo de oportunidades de emprego geradas pela empresa
08:00 | Nov. 07, 2018
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Valdir Dantas, de 41 anos, é gerente de Gestão de Qualidade da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP). Ele compõe o montante de cerca de 55% dos empregados da empresa que são cearenses. Nascido em Iguatu, Dantas, que morou em São Paulo até seus quase 40 anos, voltou ao Ceará em 2016, quando foi convidado a participar do processo seletivo da CSP para a função de analista. Este ano, foi promovido ao cargo de gerente, para liderar uma equipe de aproximadamente 30 pessoas. Sua expectativa profissional é crescer ainda mais na carreira siderúrgica dentro da companhia. Para isso, ele sabe que deve ser constante a busca de conhecimento e capacitação com vistas à modernização acelerada do setor.
"A CSP preza muito pelos recursos humanos e pelo desenvolvimento regional. É aqui que quero me aposentar." O gerente de Gestão de Qualidade destaca ainda a oferta regular de cursos e treinamentos aos empregados. De acordo com dados da CSP, a empresa investiu R$ 185 milhões no treinamento e desenvolvimento contínuo de pessoas na própria indústria, em outros estados e até fora do país. Em meio a essas ações, destaca-se a parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Ceará (Senai/CE), que já capacitou 1.452 operadores nas seguintes atividades: mecânica, elétrica, soldagem, operação de usinagem, caldeiraria, operação de processos siderúrgicos, entre outras. Ao todo, 577 operadores admitidos na empresa passaram pelo crivo da escola profissionalizante.
Segundo dados do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), em 2013, o segmento siderúrgico gerava 588 vagas de empregos formais diretos no Estado, localizados principalmente em Maracanaú. Com a implantação gradativa da CSP, São Gonçalo do Amarante, município sede da indústria, consolidou-se como o maior polo siderúrgico do Ceará, partindo de 61 empregos naquele ano para 2.635 empregos em 2017.
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Inclusão social
Nathanhy Fernandes de Melo, de 20 anos, entrou na CSP em 2015 por meio do programa de Aprendiz PCD (Pessoa com Deficiência), encaminhada pelo Senai/CE, onde capacitou-se como assistente administrativa. Sua turma encerrou-se em maio de 2017. Menos de dois meses depois, a hoje estudante de Ciências Contábeis foi chamada a integrar o corpo de empregados da companhia na área de Recursos Humanos. Natural de Tabuleiro do Norte, Nathanhy conta que jamais imaginou que um dia teria o primeiro emprego numa indústria siderúrgica e de porte tão grande. Ela vê oportunidades reais de crescimento profissional, principalmente após concluir o curso superior. "Gosto muito de trabalhar na CSP. As pessoas estão sempre abertas a nos ensinar", acrescenta. A universitária enfatiza a boa acessibilidade e a abertura da empresa para pessoas com deficiência.
Para jovens recém-saídos dos cursos superiores e técnicos, a chegada da CSP representou a ampliação de um mercado até então restrito no Ceará, defende Lucca de Sá Moreira, de 21 anos, diretor-presidente da empresa júnior do curso de Engenharia Metalúrgica da Universidade Federal do Ceará (UFC), a Metal Soluções Jr. Na sua avaliação, a chegada da CSP trouxe grande expectativa de mais e melhores empregos no setor, uma vez que a competitividade das empresas do segmento aumentou, abrindo-se novas oportunidades de instalação de companhias fornecedoras e fazendo com que Estado tenha ainda mais relevância no contexto nacional da siderurgia.
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Diversidade de gênero no trabalho
A diversificação do quadro funcional entre homens e mulheres é mais um diferencial da CSP. Hoje, cerca de 10% dos empregados são mulheres – totalizando 280 empregadas, número que supera a média da siderurgia nacional: que é de 8% de mulheres no quadro. Sarah Gomes, de 24 anos, formada em Administração de Empresas, é empregada da CSP desde 2016. Para ela, mesmo se tratando de um setor tradicionalmente masculino, há um clima de integração entre os gêneros na companhia. Assistente administrativa do setor de Distribuição de Energia da empresa, Sarah, que mora na comunidade de Matões - na divisa de Caucaia com São Gonçalo do Amarante -, foi contratada pela companhia depois realizar um trabalho como agente comunitária entre 2013 e 2016. "Eu me vejo tralhando na CSP por muito tempo, inclusive com uma boa expectativa de crescimento profissional."
Para que a CSP pudesse entrar em operação, foi importante, e continua sendo, a participação de profissionais experientes que vieram de outros estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, já que o Ceará não dispunha de mão de obra especializada para a siderúrgica. O mineiro Kleber Beraldo, de 46 anos, chegou quando a indústria ainda estava na planta. Em 2014, quando era gerente geral de Produção da Companhia Siderúrgica de Tubarão (ArcelorMittal Tubarão), onde começou como trainee em 1996, o engenheiro metalurgista aceitou o convite para participar da equipe que montou a CSP. "Minha família topou a ideia e chegamos aqui em setembro de 2014. O local era mais areia do que indústria", conta Kleber. "Era um trabalho totalmente diferente do que o que eu fazia. Saí de uma empresa consolidada e vim para comprar e montar equipamentos, contratar pessoas, desenvolver profissionais, treinar, buscar fornecedores de insumos etc."
Atual gerente geral de Aciaria da CSP, Beraldo lembra que eram aproximadamente 200 pessoas no começo. Em 20 de julho de 2016, quando a CSP produziu sua primeira placa de aço, a sensação era um misto de apreensão e realização, já que grande parte das pessoas contratadas nunca tinha operado em uma siderúrgica. Para ele, os resultados foram muito rápidos, tanto que a companhia firmou-se como uma das principais do setor no País. Kleber considera que um dos fatores de sucesso da companhia é a diversificação cultural, uma mistura de jovens profissionais com pessoas do Ceará e de vários lugares do Brasil e do mundo, dotadas de muito conhecimento em siderurgia. A relação com as comunidades vizinhas, inclusive por meio da contratação de trabalhadores, também é destacada por Beraldo como diferencial da CSP.
Fornecedores locais
Tão importante quanto a geração de empregos diretos, a CSP considera o impacto gerado indiretamente no mercado de trabalho ligado à metalurgia - a estimativa é de aproximadamente 20 mil empregos diretos e indiretos gerados a partir da sua atuação. A Metal Soluções Jr., por exemplo, formada por universitários, realiza projetos a preços competitivos para diversas empresas do setor metal/mecânico e tem ex membros trabalhando na CSP. Enfatizando o cenário animador para os profissionais, Sá Moreira lembra que a UFC tem, atualmente, o único curso de Engenharia Metalúrgica do Norte e Nordeste. "Hoje, o mercado cearense está começando a entender a função de um engenheiro metalurgista dentro das suas indústrias. Assim, vemos um número bem maior de universitários sendo contratados."