O novo mundo da educação
IV Congresso de Educação Sesc Senac reuniu 1.500 pessoas. O encontro ampliou as perspectivas da sala de aula diante dos desafios da tecnologiaProfessores, gestores públicos da área de educação, pedagogos e especialistas de todo País, estiveram reunidos no IV Congresso de Educação durante os dias 26, 27 e 28 deste mês. Realizado pelo Sistema Fecomércio, por meio do Sesc e Senac, o encontro teve como tema “Tecnologia e Aprendizagem”. O objetivo dos três dias de imersão entre palestras, workshops, mesas redondas e cine debates, além de apresentações culturais, foi incentivar educadores a aprimorarem as experiências em sala de aula e contribuir com a educação do Ceará e do País.
Na abertura do evento, o presidente do Sistema Fecomércio Ceará, Luiz Gastão Bittencourt, apontou que o tema da tecnologia passou a ser ainda mais presente após a pandemia. Dessa forma, a meta é levar essas discussões para as escolas, uma vez que muitas instituições ainda não têm acesso a ferramentas e conhecimentos tecnológicos. “A importância do Congresso é fazer com que nós possamos oportunizar para os professores o acesso a novas tecnologias, inovação em sala de aula, soluções e o que possa estar acontecendo no mundo da educação”, destacou. Na ocasião, Gastão também anunciou que o Sistema Fecomércio, através do Sesc, até o final de 2023 vai oferecer educação infantil, por meio de creche escolar.
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O primeiro dia também contou com o painel “A educação no atual contexto do Brasil”, apresentado por Getúlio Marques, secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, e o professor doutor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Igor de Moraes Paim. A mediação foi do superintendente de Ações Integradas do Sistema Fecomércio e diretor regional do Sesc Ceará, Henrique Javi.
Os palestrantes abordaram os desafios pós-pandemia, os benefícios e riscos do uso da tecnologia na educação e a necessidade de novas metodologias de ensino para acompanhar um novo contexto. Getúlio destacou o atraso cognitivo nos alunos em decorrência da pandemia, e defendeu a ciência como o caminho que permite o País avançar. “É na ciência que a gente estuda e pesquisa. Se a gente não estiver preparado para entender que a ciência é o que nos dá o caminho, nós vamos deixar um monte de gente excluída”, alertou.
Em seguida, Igor debateu a capacidade de transformação disruptiva da tecnologia, assim como as consequências negativas e positivas desse cenário. O professor lembrou que as facilidades trazidas pela tecnologia podem favorecer o desenvolvimento de cérebros mais acomodados e deficientes de pensamento crítico, principalmente nos mais jovens, grupo que já nasceu na era da digitalização.
Nesse contexto, Igor aponta para a importância da educação 5.0, conceito cujo diferencial é o resgate de habilidades sociais e emocionais, conhecidas como soft skills. Para ele, nunca foi tão difícil ser professor como nos dias de hoje, uma vez que os educadores precisam desviar das ferramentas tecnológicas que acabam acomodando os alunos e encontrar novas estratégias para passar conhecimento. “Ser um educador no século XXI é criar ecossistemas e oportunidades de aprendizado”, apontou.
Já no segundo dia de evento, a pensadora, escritora e professora Martha Gabriel apresentou o tema “Competências digitais na Educação: onde estamos e para onde vamos?”. “O futuro não é digital, é híbrido”, ela ressaltou. Dessa forma, para um professor em sala de aula, seja em ambiente presencial ou virtual, o ideal é aproveitar ao máximo o que essas diferentes condições oferecem e os recursos disponíveis para facilitar o processo de aprendizagem.
“É preciso ter emoção, empatia e ética. Não é à toa que vivemos a era da experiência, pois é a emoção que faz a vida valer a pena. Enquanto a tecnologia automatiza, a empatia nos humaniza. Por fim, sem ética não há futuro para a humanidade”, refletiu. Martha ainda apontou que não existe cenário positivo sem colaboração, “pois a competição nos faz mais rápidos, sendo que a colaboração nos torna melhores”.
Ainda no segundo dia de Congresso, a palestra “Cocriando a educação do futuro: a tecnologia e a aprendizagem”, com o professor, pesquisador e entusiasta em Inovações Educacionais, Tecnologias Emergentes e Metodologias Ativas de Aprendizagem, José Motta, inquietou o público. O especialista começou o painel com o questionamento: “para qual mundo estamos preparando nossos alunos?”. A ideia era apontar que, para além dos conteúdos tradicionais já ensinados nas escolas, é necessário orientar o ser humano sobre novas competências sociais e emocionais, de modo a desenvolver inovação, criatividade, colaboração e pensamento crítico.
“O mundo da educação não é mais o ctrl + c e ctrl + v que eu vivi no passado. A escola que nos trouxe até aqui não é aquela que vai nos levar adiante. A escola criou muros e não fez questão de criar pontes. Por qual motivo as escolas existem? Para ensinar com o objetivo de preparar para o mundo e para o futuro”, provocou.
O escritor best-seller Marcos Piangers abriu a programação do terceiro dia de Congresso com a palestra “Educação x tecnologia: encontro de gerações”. O autor do livro “O Papai é Pop” falou sobre o impacto da tecnologia no mercado de trabalho e na vida das pessoas. Ele sugere que os profissionais de educação devem receber melhores capacitações de como se conectar com o público, como lidar com alunos que não prestam atenção, como lidar com alunos que querem chamar muita atenção, como lidar com alunos que estão com fome, sono, raiva e medo.
“A gente precisa tratar bem esse professor porque ele é a tecnologia mais fantástica dentro de uma sala de aula. Escrevi um livro chamado “Escola do Futuro” com o professor Gustavo Borba no qual a gente fazia perguntas para os alunos sobre qual era o fator mais importante para o aprendizado e todos os alunos sempre indicavam o professor. Quando a gente visita as escolas do Brasil, a gente vê que quem faz a diferença mesmo é o professor”, defendeu.
No encerramento, o especialista em Inovação e Economia Digital, Gil Giardelli ampliou o olhar sobre o futuro inteligente, além da inovação aplicada à educação. Ele define a sociedade 5.0 como uma evolução da quarta revolução industrial e reposiciona o professor nesse contexto. “Nós entendemos agora, que hoje, uma criança, um adolescente, qualquer pessoa, ela tem 17 vezes mais conteúdo do que qualquer outra geração. Mas só ter conteúdo na era do conteúdo não significa nada. Então, o professor é o curador, é aquele maestro. É aquela pessoa que dá os caminhos naquele mar que está todo mundo se afogando. A gente precisa de significados", pontuou.
Entre os pavilhões do Centro de Eventos de Fortaleza que reuniu 1.500 pessoas durante os três dias de Congresso, a fala de Giardelli fez eco no coração dos educadores: “A sala de aula nunca foi tão importante. A pluralidade de pensamento, essa multidisciplinaridade. Claro que a sala de aula está mudando, não vai ser somente o conceito de tempo cronometrado, de espaço concreto. A educação hoje é o fator mais importante de prosperidade de qualquer sociedade”.
Quem foi
Jailana Lima é professora do Ensino Médio e Ensino Fundamental do Sesc há quatro anos, e leciona na área de português, redação e literatura.
“Eu acho que a educação já vinha pedindo para ter a intervenção da tecnologia, desde o período em que os alunos começaram a utilizar o celular em sala de aula. A demanda foi crescendo nesse âmbito, o aluno levou isso pra sala de aula, mas foi visto de um ponto de vista negativo no começo. Com a pandemia, com a necessidade do ensino híbrido, colapsou ainda mais essa necessidade. Fez com que a gente realmente virasse isso de uma forma muito abrupta.”
Joel Lima, analista de processos educacionais do núcleo de tecnologias educacionais do Senai
“Desde o livro impresso até energia elétrica, tudo isso já faz parte da sala de aula e deve ser normal. O que faz a maior diferença mesmo é a humanidade, independente do meio. A tecnologia é só mais um dos meios para a gente chegar nessa aprendizagem significativa. Uma coisa que a gente está aprendendo muito são ferramentas novas e, como tem um arcabouço de muitas possibilidades, isso acaba aguçando a nossa criatividade. A gente amplia a nossa mente para as possibilidades do que pode ser trabalhado em sala de aula. O ponto chave de virada na tecnologia, na educação está sendo a mobilização que vários profissionais de tecnologias estão fazendo com os professores para que as tecnologias se tornem comuns dentro da sala de aula.”
Fábia Maria Silva, gerente da unidade do Senac de São Carlos, interior de São Paulo.
“A temática da tecnologia com a educação é o nosso dia a dia, é importante para a gente estar atualizado. A gente já trabalha bastante com vários tipos de tecnologia, mas eu acho que o que empurrou de fato foi a pandemia, porque não teve jeito de estar com o aluno se não fosse por meio de alguma tecnologia. O próprio aluno foi obrigado a aprender sobre isso e a gente agilizou muitas formas de comunicação que não usávamos rotineiramente. Foi um aprendizado que ficou. A gente só precisa ter cuidado para não excluir as pessoas que ainda não tem acesso a essas tecnologias, tem uma grande parte da população que ainda não tem acesso à internet, e se a gente não cuidar, elas vão ficar fora da educação. Precisamos garantir que as pessoas que têm essa dificuldade também consigam ter acesso à educação e possam ser alfabetizadas digitalmente.”
Principais ideias dos workshops
Avaliar sem punir
Leila Oliveira Di Pietro, pedagoga do SENAC, Santa Catarina, workshop “Avaliando por competências: desafios e práticas”.
A avaliação é um ponto que sempre gera receio porque ela é a mais tradicional. Já temos um conhecimento muito grande de currículo, mas, ao mesmo tempo, nossa avaliação ainda é muito tradicional. Leila provocou sobre como avaliar os alunos para analisar se eles estão ou não conseguindo desenvolver competências necessárias para viver em sociedade. Uma dica é aproximar a avaliação da realidade da sociedade, resgatando a necessidade de nós analisarmos manifestações relevantes da realidade.
“Quando a gente pergunta sobre avaliação todo mundo já tem um modelo pré-concebido, que ela sempre foi de punição. A avaliação é sempre colocada como algo que traumatiza ao invés de análise e melhoria desse processo. A avaliação é algo que constantemente a gente tem que aprender a fazer, e feedback é algo que a gente tem que escutar e fornecer. Mas a gente não sabe conversar e dar feedback, a gente não sabe trabalhar com o conceito de conflito para mediar antes que vire algo maior, e hoje em dia as relações estão muito extremas, os sentimentos estão muito polarizados. A avaliação de uma forma mais humana poderia estar contribuindo significativamente para essa mudança de olhar na sociedade”, reflete.
Celular na mão!
Carlos Alberto Tadeu Zanetti, diretor do Polo Educacional SESC no Rio de Janeiro, workshop “Arquitetura de aprendizagem X Tecnologia no currículo do Ensino Médio”.
"Nós queremos trazer a questão tecnológica para dentro da sala de aula, mas sem deixar de falar da formação emocional, porque é isso que faz a diferença na formação dos alunos. Falar nessa abordagem tecnológica com o viés socioemocional, no sentido de que quando completamos toda a educação básica, a gente tem um aluno formado de maneira completa, não só com os conteúdos de sala, mas que ele possa ter uma análise crítica de toda a sociedade.
Com esse viés socioemocional, como a gente pode fazer isso no dia a dia em qualquer parte do Brasil? Como a gente pode usar metodologias ativas no nosso dia a dia e agregar tecnologias simples? Um aluno que acorda com o celular a gente sabe que vai ser muito difícil quebrar isso. Então como o professor pode tornar isso uma prática útil?
É uma questão de mudança de pensamento. Para se ter uma formação completa nós precisamos não pensar o tecnológico pelo tecnológico, mas ter um viés socioemocional forte envolvido em uma formação completa que passe pela cultura, pelo, esporte, pelo lazer e pela educação."
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