Chapada do Araripe: a jornada até o título de Patrimônio Mundial

O sonho da chancela internacional transbordou dos corações dos idealizadores da Fundação Casa Grande e hoje reúne esforços de instituições e da comunidade

00:00 | Dez. 31, 2023

Por: O POVO Lab
Seminário Chapada do Araripe abre inscrições para quinta edição (foto: Geopark Araripe/Reprodução)

O projeto para que a Chapada do Araripe conquiste o reconhecimento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio Mundial nasceu na Fundação Casa Grande, ainda por volta dos anos de 2016 e 2017. Atual secretário de Formação Cultural, Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC) e secretário da cultura do Ceará na época, Fabiano Piúba relata que a iniciativa surgiu nos corações de Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde, idealizadores da Fundação.

A movimentação logo uniu uma rede de instituições públicas e privadas em prol desse objetivo, como a Fecomércio, a Secretaria da Cultura do Esta- do (Secult Ceará), a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e a Universidade Regional do Cariri (Urca).

“A ideia de propor que a Chapada do Araripe seja Patrimônio Mundial da Humanidade nasce da Fundação Casa Grande através da arqueologia social, que liga a memória ao desenvolvimento humano. A Fecomércio compra a ideia e estabelece uma série, dentro das suas ações programáticas, os Seminários Patrimônio da Humanidade. Então, além de fomentar os seminários, esse polo de discussão sobre a importância da Chapada como Patrimônio da Humanidade, a Fecomércio também cria uma série, digamos, de produtos que divulgam, que promovem essa ideia, como é o caso do documento que foi apresentado junto ao Iphan, que é um dossiê que foi apresentado pelo Ceará, e está fazendo um livro, um filme e uma exposição que vai ser feita lá no Senado. Que vai circular essa visão, divulgando esse estudo da Chapada do Araripe como Patrimônio da Humanidade”, conta Alemberg Cariri.

Atualmente, o grupo aguarda a decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de inserir a Chapada do Araripe na Lista Indicativa Brasileira a Patrimônio Mundial, ferramenta responsável por encaminhar as candidaturas nacionais à Unesco.

Para Fabiano, essa etapa já está garantida. Presente nesse processo desde o início, o secretário revela como se mantém interlocutor dessa candidatura no MinC, junto ao Iphan e à ministra Margareth Menezes. “Nossa expectativa, pelas articulações que eu venho fazendo, é de que é praticamente certa a nossa inserção. Essa projeção, hoje, é muito certeira”, garante.

Caso a expectativa se confirme, o passo seguinte será a elaboração de um dossiê pelo Iphan e demais instituições para concorrer à aprovação final da Unesco. O processo de candidatura leva quatro anos, considerando as etapas estipuladas pela Convenção de 1972 da Unesco.

O patrimônio da Chapada do Araripe

A Chapada do Araripe fica na Bacia Sedimentar do Araripe, a maior bacia sedimentar do interior do Nordeste brasileiro. A unidade geológica compreende uma área de 12.000 quilômetros quadrados, sendo inserida no sertão e se estendendo pelo sul do Ceará, noroeste de Pernambuco e leste do Piauí.

A região abriga tesouros ambientais como fontes naturais, grutas, e sítios paleontológicos e arqueológicos, cujos fósseis contam a história da humanidade. Além disso, a vasta cultura popular é repleta de símbolos históricos, religiosos, sociais e artísticos, como celebrações, reisados e os saberes e fazeres dos Mestres da cultura.

Para a presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Fernanda Castro, a Chapada do Araripe tem muito a oferecer como Patrimônio Mundial da Humanidade. “A região encanta, pelas belezas naturais, pela riqueza cultural e, principalmente, pela força criativa e solidária da sua gente, que inova a economia da cultura, transforma arte em cotidiano e memória em base da sua formação cidadã”, relata.


Patrimônio Dá Humanidade

A discussão de tornar a Chapada do Araripe Patrimônio da Humanidade nasce há duas décadas, por um diálogo importante que o Sesc Ceará já fazia em torno da riqueza que existe nessa região. Quando começaram a embrionar as primeiras Mostras Culturais no Cariri que foram fortalecendo esse contexto

Todo esse processo, nessa mobilização tem o cunho super social. O Sesc entra neste estímulo para trazer, refazer e reconstruir a forma de como uma proposição dessa pode chegar ao Iphan, à Unesco. Foi através da mobilização social, do reconhecimento que esse patrimônio ambiental, natural e cultural já faz parte da realidade que nasce essa campanha. Um processo que já está para além de qualquer situação, por isso, nada mais justo que isso fosse materializado através de uma campanha.

Essa campanha, inicia-se em 2019, quando a gente realiza os primeiros seminários que culminariam no reconhecimento dessa campanha que reúne uma gama de experts no assunto. Em paralelo, o Sesc fomenta, desde essa época, a criação dos museus orgânicos, que são reconhecimentos junto com o Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), para fazer com que mestres representantes vivos dessa cultura popular possam expor suas culturas nos seus cotidianos.

Elementos como esse se ajuntam aos seminários em torno da campanha de patrimoniamento para trazer elementos vivos para dentro desse processo. Tanto que chegamos a 42 mil pessoas participando do último seminário de 2023.

Neste processo, é fundamental a percepção da triangulação de patrimônio, cultura e meio ambiente envolvidos. Esse processamento de ideias que faz termos os elementos necessários para proposição.

Na dinâmica tem uma coisa importante: que a gente não utilize patrimônio da humanidade como um conectivo. Como se fosse de posse, de relação. É um dá com acento agudo, que torna verbo essa palavra, para justificar que todo esse empenho é para fazer que o reconhecimento de áreas como essa, sobretudo, ela provoca humanidade nas pessoas, traz as pessoas a essa ancestralidade, que faz nos reconhecermos como humanos em si.

Existe todo um material elaborado por todas as equipes que compõem o processo. O Sesc contribui cotidianamente em todos os debates possíveis, porque reconhecer a Chapada do Araripe pelo que ela é, é fundamental para garantir no meio ambiente, na cultura, na nossa humanidade um dos melhores caminhos.

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