Atletas de Fortaleza contam como driblam os desafios de acesso a treinos e competições
Iniciativas da Prefeitura de Fortaleza incentivam a prática de esportes e auxiliam atletas a chegarem a pódios nacionais e internacionaisSair do bairro Padre Andrade, em Fortaleza, e ganhar um campeonato europeu de jiu-jitsu aos 15 anos não é para todos. Mas Pedro Dias conseguiu. Ele é aluno do JCA Padre Andrade, projeto social auxiliado pelo programa Atleta Cidadão, da Prefeitura de Fortaleza.
Pedro chegou a ganhar duas categorias diferentes no campeonato de jiu-jitsu da Europa, realizado na França em 2024. Além das vitórias em competições estaduais e nacionais. Devido à idade, ele ainda não compete profissionalmente, mas já garante que é um sonho que planeja alcançar.
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“Quando surgiu essa oportunidade de poder viajar para lutar, fiquei muito feliz, porque eu estava fazendo uma coisa que eu gosto e fiquei muito feliz também pela minha preparação, pelos meus professores acreditarem que eu podia ganhar, no meu potencial", conta Pedro.
Para competir internacionalmente, a preparação é chave. Pedro relata que chega a treinar 20 vezes por semana, entre exercícios de técnica e força. Isso tudo precisa ser conciliado com a escola, já que o atleta ainda está no primeiro ano do ensino médio.
“Ele é muito dedicado, não tem costume de faltar”, afirma o professor de jiu-jitsu do projeto, Victor Sabino. Ele conta que Pedro iniciou os treinos no JCA em 2020, um ano antes da iniciativa ser reconhecida pela Prefeitura e passar a receber auxílios com tatames, kimonos e remuneração para dois professores.
A dedicação e a força de vontade do adolescente chamam atenção também fora do tatame. Para conseguir ajudar o projeto a arcar com as viagens, Pedro vende mousse nos treinos, no centro da cidade e nos campeonatos.
Todo esse esforço tem influência positiva nas outras mais de 90 crianças e adolescentes de cinco a 17 anos atendidas pelo projeto. Depois do dever cumprido no campeonato europeu, Pedro foi recebido pela comunidade de forma calorosa.
“Toda a nossa favela se mobilizou, fizemos uma carreata. A galerinha pediu autógrafo e foto com ele. Hoje os meninos falam que querem chegar onde ele chegou. Tinha menino que não tinha perspectiva nem de sair de dentro do bairro e hoje vê que, dentro de um projeto social, pode conhecer a Europa, o mundo, ser campeão e entrar pra história da comunidade que mora”, diz Victor.
Paratleta encontra no esporte um novo estímulo de vida
Quando Aline Martins de Sousa, 44, tinha 26 anos, uma inflamação na medula espinal fez com que ela perdesse a capacidade de andar. Durante a reabilitação, Aline conheceu o esporte. A adaptação da nova vida com a deficiência adquirida se tornou um pouco mais leve.
“Graças aos esportes, eu não me recordo de momentos difíceis psicologicamente. Me ajudou muito ver que tinham pessoas com as mesmas necessidades, as mesmas dificuldades”, relembra.
Cerca de 18 anos depois, Aline é uma paratleta de handebol, lançamento de dardos e arremesso de peso. Ela participa da Associação D'eficiência Superando Limites (Adesul), que tem parceria com a Prefeitura de Fortaleza.
A professora aposentada já chegou a fazer parte do time brasileiro que ganhou ouro no Campeonato Mundial de handebol em cadeira de rodas, no Egito, em 2022.
“Isso é prova de que nós somos muito fortes. Nós precisamos apenas de apoio para poder chegar aos pódios da vida”, afirma.
Para custear viagens para competições e continuar treinando, Aline conta com o Bolsa Esporte, um programa de transferência de renda para atletas de Fortaleza.
Para ela, a bolsa foi um “divisor de águas”. Quando começou no esporte, até mesmo os professores eram voluntários.
“Esses investimentos são muito úteis na vida de um paratleta, que precisa de suporte na alimentação, fisioterapia, profissionais adaptados. Essas bolsas que a Prefeitura tem disponibilizado tem nos ajudado a dar continuidade aos nossos sonhos”, afirma.
Aline explica ainda como se manter no esporte vai além das competições para atletas com deficiência. “Tem amigas minhas que não tinham vida social, um lazer, e hoje até viajam através do esporte. É como se a mente tivesse se ampliado mil vezes mais”, conta.
A paratleta conseguiu também fazer uma pós-graduação em Marketing com bolsa integral devido ao seu desempenho no esporte.
Em um futuro próximo, o plano é chegar nas paralimpíadas. Se a idade pode ser um empecilho para atletas olímpicos, para os paralímpicos não é uma preocupação. “Vimos agora em Paris 2024 atletas de 60 anos dando show, batendo recorde. É isso que eu almejo para a minha vida”.
Perseverança em um campo dominado por homens
O futsal e o fut7 (modalidade do futebol com sete jogadores) são as paixões da educadora física Sarah Kenya Feitoza Queiroz, 27. Há três anos, ela faz parte da Associação Atlética Banfort Clube como goleira.
“Me sinto leve. Isso vale para todas (colegas de time), é onde a gente consegue esquecer os problemas, relaxar, se sentir bem”, diz.
Apesar de gostar do esporte, ela reconhece as dificuldades de tentar uma carreira em um campo dominado por homens, no qual times masculinos têm mais patrocínios e apoio.
“As pessoas não valorizam o futsal feminino. É bem mais difícil pra gente. Hoje melhorou bastante, mas ainda tem muito o que melhorar”, afirma.
Os obstáculos de gênero são driblados no projeto social pela força de vontade das jogadoras e o incentivo dos treinadores.
“Foi através do meu professor que tive a oportunidade de entrar no Bolsa Esporte”, conta. Sarah recebe a bolsa para se manter no esporte concedida pela Prefeitura de Fortaleza.
“É bom pra gente se deslocar pro treino, não ter esse gasto a mais de passagem, comprar lanche, material esportivo, medicamento quando a gente se machuca”, enumera.
Com isso, Sarah consegue trabalhar como instrutora em uma academia e continuar sendo goleira, mesmo não recebendo remuneração como atleta do projeto.
Bolsa Esporte
Quem recebe a bolsa:
1.022 atletas
88 paratletas
120 treinadores
Categorias:
Infantil, Júnior, Sênior e Master
Valores das bolsas:
Base: R$ 300
Regional/Nacional: R$ 600
Internacional: R$ 1.200
Treinadores: R$ 600
Critérios:
> Ter mais de 10 anos e menos de 59 anos;
> Residir no município de Fortaleza por pelo menos seis meses;
> Se até 18 anos, estar matriculado regularmente na rede de ensino público ou privado de Fortaleza, ou que já tenha concluído o ensino médio.