Energias renováveis: o que ganha a sociedade cearense?
Geração de empregos e combate à crise climática são alguns dos fatores que reforçam a necessidade do foco em fontes de energia limpaOs benefícios oriundos da transição energética para fontes de energia limpa são inúmeros e impactam todo o globo. No Ceará, essa transição tem se caracterizado principalmente pelo fortalecimento da geração de energia eólica e solar fotovoltaica, além do desenvolvimento do hub de Hidrogênio Verde (H2V) no Porto do Pecém. Em termos econômicos, é esperado que o H2V mais do que duplique o Produto Interno Bruto (PIB) cearense na próxima década – mas os efeitos positivos do investimento em energias renováveis podem chegar antes e prometem ser duradouros.
Para Tomaz Nunes Cavalcante, engenheiro eletricista e especialista em eficiência energética, o potencial de geração de energia no Estado traz três grandes vantagens para o Ceará. A primeira delas é um dos maiores desafios do pós-crise: a geração de empregos. “E não são empregos voláteis. São empregos que necessitam de alta capacitação das pessoas, de primeira linha, que agregam tecnologias e são sustentáveis, oportunidades dentro das linhas da economia moderna”, destaca o pesquisador.
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O segundo fator é o impacto financeiro. Tomaz afirma que, ao investir fortemente na geração de energias renováveis, o Ceará terá um aumento considerável do PIB, “uma riqueza que será distribuída”. Além disso, o setor energético provoca a abertura de novos vetores econômicos. “Sempre que um vetor tecnológico é agregado, ele tem desdobramentos no futuro. É toda uma cadeia vertical que vai se desenvolver e que ainda não temos capacidade de enxergar, mas vai acontecer”, garante.
A nível nacional, o professor Paulo Carvalho, do departamento de Energia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca a importância da segurança que as energias renováveis garantem ao sistema elétrico nacional. “Dois terços da energia elétrica do Brasil vêm das termelétricas, mas a cada ano isso está sendo reduzido, por limitações financeiras e ambientais. O que existe de crescimento hoje é na energia eólica e solar”, explica o pesquisador.
Transição energética reduz riscos de colapso ambiental
O impacto econômico do investimento em energias renováveis é secundário quando comparado às possibilidades que elas trazem para o meio ambiente. Com o todo o mundo enfrentando severas consequências das mudanças climáticas, é esse o ponto mais relevante da discussão sobre potência energética, afirmaMagda Maya, doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente e fundadora da Escola de Sustentabilidade 4.0.
“A transição energética será positiva não apenas para o povo cearense ou brasileiro, mas para todos os habitantes do planeta, porque dela depende em grande parte o atingimento das metas relacionadas ao clima”, destaca. Porém, a especialista lembra que é necessário que haja controle em relação à crescente demanda energética, “oriunda de um sistema de produção e consumo insustentável”.
Magda também explica que o próprio processo de geração de energias renováveis deve ser adequado a um propósito que priorize o meio ambiente. "É comum que haja uma certa confusão sobre esses conceitos, pois o fato de ser uma tecnologia de geração de energia renovável não garante que elas sejam sustentáveis. Para ser sustentável é necessário que tais tecnologias e soluções não apenas contribuam para a descarbonização da economia, mas especialmente que sejam socialmente justas e ecologicamente equilibradas", reforça.
Para a pesquisadora, os desafios a serem enfrentados para garantir um futuro mais verde para todos também incluem a dependência do Ceará de tecnologias externas, o que exige avanço em pesquisa e inovação para garantir a substituição integral dessas tecnologias e o avanço em estratégias voltadas para a sustentabilidade, como o uso de água de reuso para o hidrogênio verde e a proibição de desmatamentos para instalação de fazendas solares.
Ainda assim, Magda acredita que o Estado tem vocação para contribuir positivamente com o setor energético em diversos fatores: “seja pelo potencial eólico, seja pela disponibilidade solar, seja pelo posicionamento geográfico, ou ainda mais especialmente pelo fator humano, uma vez que o Ceará é destaque nacional em tudo aquilo que se propõe a inovar”, conclui.