O protagonismo do Ceará na geração de energias renováveis
Atratividade para novos investimentos é garantida por fatores ambientais e políticos
06:00 | Jun. 21, 2023
O Ceará é um estado pioneiro no estudo e na geração de energias renováveis no País. Tudo começou em 1990, quando um convênio entre a antiga Companhia Energética do Ceará (Coelce) e a empresa alemã GTZ foi firmado para mapear o potencial eólico do Estado. Em 1996, o Estado assumiu a liderança nacional com a instalação do Parque Eólico da Praia Mansa. Desde então, o investimento em energia limpa se tornou política governamental e cada vez mais projetos têm surgido, garantindo menor impacto ambiental, novos negócios e empregos.
Hoje, segundo Constantino Frate, coordenador do Núcleo de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), o Estado possui potencial energético para gerar 643 GW de energia solar fotovoltaica, 94 GW de energia eólica onshore e 117 GW de energia eólica offshore. “O Ceará se destaca muito fortemente no cenário nordestino e brasileiro. As condições de vento são as melhores do Brasil, ventos constantes de alta velocidade que tem capacidade de geração de energia acima de 70% em alguns lugares”, conta.
Outro destaque – que tem trazido grandes perspectivas para o futuro econômico do Estado – é o hub de Hidrogênio Verde (H2V) que se desenvolve no Porto do Pecém. A primeira molécula de H2V produzida no Brasil foi gerada no complexo em janeiro, e 30 memorandos de entendimento já foram assinados, com expectativa de investimentos que chegam a US$ 30 bilhões. A projeção é que avancem com mais agilidade os projetos da Fortescue, Casa dos Ventos e AES Brasil, com início da produção de H2V até 2026.
Ao todo, o Brasil possui 57 memorandos assinados. Ter mais da metade dos acordos de intenção pode colocar o Ceará como um dos polos mais importantes de produção do combustível do mundo. “Além disso, o Porto de Roterdã elegeu o Porto do Pecém como parceiro prioritário, com previsão de geração de 1 milhão de toneladas de hidrogênio verde por ano, o que é muito importante para o Estado”, completa Constantino.
O especialista acredita que o Ceará ainda tem potencial para avançar em uma importante fonte de energia limpa: a biomassa, produzida a partir do tratamento do esgoto através do biometano. “O Brasil também é extremamente rico nessa fonte. É uma grande oportunidade que está sendo estudada, e não tenho dúvidas que esses projetos irão prosperar no País. O Ceará já trata o lixo, produzindo o biometano que é injetado na Cegás”, lembra. Além de energia, a biomassa gera benefícios também na saúde pública, já que melhora as condições de higiene da população.
Redução do impacto ambiental
Apesar de dois terços do Brasil terem como principal fonte de energia a hidrelétrica, ou seja, gerada a partir das águas, a realidade no Ceará é diferente. Aqui, a fonte mais significativa é a eólica, que tem impacto ambiental consideravelmente reduzido em relação à hidrelétrica.
“Não temos recurso significativo para geração de energia elétrica, mas o potencial da energia eólica e fotovoltaica é muito superior à demanda do Estado, devido às nossas condições climáticas”, explica Paulo Carvalho, professor do departamento de Energia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Paulo explica que o Estado vive uma contradição quando se fala em geração de energia limpa. Isso porque, apesar de estar se firmando como um dos maiores geradores de energias renováveis do País, o Ceará ainda conta com uma das maiores termelétricas a carvão do País, o Complexo Termelétrico do Pecém.
“O carvão é um dos combustíveis mais poluentes. Impacta tanto a população local como a nível global, já que a liberação de CO² é uma das principais causas do aquecimento global”, afirma o professor. No entanto, o professor acredita que o Ceará tem total condição de ter uma geração de energia 100% renovável, focada nas energias eólica, solar e na produção de hidrogênio verde, contribuindo para um futuro mais verde por meio de investimentos em energia limpa.
“Primeiro, porque temos um dos maiores potenciais do mundo em termos de recursos. Segundo, porque houve uma decisão política pela implantação das empresas de geração de energia eólica e solar fotovoltaica, desde o início. E também há o papel da academia, das universidades do Estado, que há muito tempo se dedicam à formação e à pesquisa”, completa.
O que já é realidade e o que vem por aí
Ainda que possa evoluir, a geração de energia eólica onshore e solar fotovoltaica já está consolidada no Ceará. É consenso que as duas formas de energia limpa têm contribuído com o avanço econômico, garantindo atrativos que beneficiam outros setores. A geração do Hidrogênio Verde também já é uma realidade – mesmo que o sucesso dos investimentos dependa da confirmação dos acordos. Segundo Constantino, ele pode mais que duplicar o PIB do Estado na próxima década. Mas o que ainda pode ser explorado?
De acordo com Tomaz Nunes Cavalcante, engenheiro eletricista e especialista em Eficiência Energética, alguns dos principais pontos que podem contribuir com um avanço ainda maior do potencial energético são os investimentos em usinas eólicas offshore, já o Ceará possui todos os pré-requisitos de instalação favoráveis, como ventos unidirecionais; e o fortalecimento das políticas governamentais de incentivo à geração de energias renováveis.
“É a infraestrutura que faz com que haja celeridade para o Ceará implantar as ações e, normalmente, sair na frente. São as ações que aproveitam a parte do potencial natural. Se tivéssemos só o natural, mas não tivessem players, os três vetores que tocam o negócio – empresarial, acadêmico e governamental –, a coisa não acontecia”, garante.